José Maria Velasco Ibarra, cinco vezes eleito presidente do Equador por eleição popular

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José Maria Velasco Ibarra (Quito, 19 de março de 1893 – Quito, 30 de março de 1979), cinco vezes eleito presidente do Equador por eleição popular (1934-1935 /1944-1947 /1952-1956 /1960-1961 /1968-1972), Chefe de Governo por duas vezes e três vezes derrubado. Desde sua última eleição em 1968, Velasco Ibarra vivia às voltas com medo de ser acordado de madrugada pelo barulho de tanques embaixo da sua janela. No Equador, país que consumiu 22 governos nos últimos 27 anos, o golpe de Estado é uma mistura de rotina e fatalidade. Dessa forma, convencido de que mais cedo ou mais tarde os militares sairiam das casernas, o próprio presidente resolveu chamá-los em junho de 1970. Num impecável autogolpe, Ibarra fechou o Congresso e, antes que alguém se habilitasse, assumiu poderes mais ou menos absolutos e se transformou, por decreto, de chefe de Estado constitucional em ditador de fato.

Os preparativos da manobra começaram em janeiro de 1969, com um aumento geral para os militares. Em julho, todos os generais do país foram aposentados. Dessa maneira, Ibarra organizou a promoção dos coronéis segundo um critério exclusivo de fidelidade pessoal. Montado o esquema militar, faltava apenas que os pretextos se apresentassem. Segundo o discurso feito por Ibarra na noite de 29 de junho, os novos poderes presidenciais tornaram-se necessários para neutralizar a oligarquia de direita e a extrema esquerda, que estavam paralisando o país. A esquerda por causa da agitação nas universidades e a oligarquia pela sua recusa sistemática em pagar impostos.

Roupa usada – Ocupado em escapar da prisão, o presidente da Câmara de Comércio do Equador preferiu não refutar as acusações de Ibarra. Antes do golpe, no entanto, o governo e os comerciantes já tinham esgotado todos os seus argumentos em torno da questão dos impostos. Pressionadas pelo déficit do balanço de pagamentos, as autoridades dificultavam ao máximo as importações. Em maio de 1970 foi anulado um decreto que permitia a livre entrada no país de roupas usadas. Motivo: teoricamente remetidas por estrangeiros aos indigentes do Equador, reapareciam nas vitrinas da lojas de Quito. No dia do golpe, por outro lado, a Justiça deveria decidir sobre a legalidade de uma nova série de impostos. Antes da sentença final, por via das dúvidas, Ibarra fechou os tribunais. E, aproveitando a oportunidade, cerrou também as portas das universidades.

Os 17 000 universitários do Equador foram o segundo problema em importância do governo. Não apenas pelos incidentes de rua promovidos diretamente, mas sobretudo através de um jornal estudantil dedicado em partes iguais a comentar a guerra do Vietnam e a contestar todas as afirmações do governo de Ibarra. Quanto a este segundo ponto, eles tinham razão em vários casos – ou pelo menos conseguiram convencer disso uma parte do povo.

Ataque do riso – Adotando a técnica do contragolpe, o governo apresentou ao público seu próprio cadáver: um policial morto pelos estudantes durante outros distúrbios. Segundo a versão dos adversários de Ibarra, n oentanto, o policial teria falecido em circunstâncias menos heróicas: a causa da sua morte, na verdade, teria sido um enfarte, durante um ataque de riso na casa de sua amante. A autópsia desse caso, novamente publicada no jornal dos estudantes, revelou a ausência de qualquer lesão externa. De qualquer maneira, com os novos poderes assumidos pelo presidente Ibarra, parece pouco provável que a imprensa universitária volte a tratar desses casos ou de qualquer outros. Pelo menos até 1972, quando, em princípio, novas eleições serão realizadas.

Até lá as perspectivas políticas são medíocres: as urgentes reformas que Ibarra prometeu no final do mês de junho de 1970 não tem maiores possibilidades de serem cumpridas do que as feitas no início de cada um de seus quatro mandatos anteriores. Em 1934 ele tinha um programa mais ou menos fascista, já em 1944 voltou-se para a esquerda e em 1952 prometeu qualquer coisa parecida com o peronismo. De volta a política em 1960, conseguiu vencer mais uma vez as eleições atacando a United Fruit. Dessa vez não conseguiu governar mais do que um ano e, derrubado em 1961, teve que esperar até 1968 para reaparecer nos comícios, com uma doutrina “humanista e revolucionária”. Mais magro e mais pálido, sempre atrás de um óculos escuros, Ibarra começou seu último mandato justificando o espírito revolucionário da juventude, “tantas vezes frustrada e traída pelos politiqueiros que não sabem nada de nada, que não compreenderam Marx nem João XXIII”. De todas essas promessas de esquerda ou de direita, feitas ao longo de mais de quarenta anos de política, pouco restava no final do mês de junho. Apenas, talvez, a imagem bastante envelhecida, mas ainda viva, do caudilhismo na América Latina. Ibarra morreu em Quito, 11 dias depois de completar 86 anos.

(Fonte: Veja, 1° de julho de 1970 – Edição n° 95 – EQUADOR/ Por via das dúvidas – Pág; 56)

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