Jean-Claude Carrière, escritor e roteirista que trabalhou com grandes nomes do cinema mundial como Luis Buñuel, Jacques Deray e Milos Forman, entre outros

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Jean-Claude Carrière, escritor e roteirista que trabalhou com Buñuel

 

Jean-Claude Carrière (Colombières-sur-Orb, Hérault, 17 de setembro de 1931 – Paris, 8 de fevereiro de 2021), escritor, diretor e roteirista francês, que trabalhou com grandes nomes do cinema mundial como Luis BuñuelJacques Deray e Milos Forman, entre outros.

 

O roteirista e intelectual francês de “A Bela da Tarde”, “A Insustentável Leveza do Ser”, “Danton” e “Esse Obscuro Objeto do Desejo”, teve uma carreira de mais de meio século como escritor, roteirista, ator e diretor, e recebeu uma série de prêmios e reconhecimentos ao longo da vida.

 

As incursões cinematográficas começaram depois de publicar seu primeiro romance em 1957 e conhecer Pierre Etaix (“Rir é o Melhor Remédio”), com quem colaborou em vários projetos, incluindo “Feliz Aniversário” (1962), vencedor do Oscar de Melhor Curta, que os dois escreveram e dirigiram juntos, e os longas “O Pretendente” (1962), “Yoyo” (1965), “Rir é o Melhor Remédio” (1966) e “Esse Louco, Louco Amor” (1969).

 

Entre seus colaboradores frequentes também se destacou o cineasta mexicano-espanhol Luis Buñuel. Carriere e o mestre do surrealismo cinematográfico começaram a relação artística com a adaptação de “O Diário de uma Camareira” (1964), na qual o escritor também estreou como ator, e a parceria se estendeu até o último filme do diretor. Juntos, eles criaram vários clássicos, inclusive o célebre “A Bela da Tarde” (1967), com Catherine Deneuve, “Via Lactea” (1969), “O Fantasma da Liberdade” (1974) e as obras que lhes renderam duas indicações ao Oscar, “O Discreto Charme da Burguesia” (1972) e “Esse Obscuro Objeto do Desejo” (1977).

Com mais de uma centena de roteiros escritos, entre textos originais e adaptações, Carriere teve muitos outros parceiros famosos. Na verdade, sua filmografia é quase um compêndio do cinema europeu, repleto de títulos icônicos como “Viva Maria!” e “O Ladrão Aventureiro” (1967), ambos dirigidos por Louis Malle, “A Piscina” (1969) e “Borsalino” (1970), de Jacques Deray, “Procura Insaciável” (1971) e “Valmont – Uma História de Seduções” (1989), de Milos Forman, “Liza” (1972), de Marco Ferreri, “O Tambor” (1979) e “O Ocaso de um Povo” (1981), de Volker Schlöndorff, “Salve-se Quem Puder (A Vida)” (1980) e “Paixão” (1982), de Jean-Luc Godard, “O Retorno de Martin Guerre” (1982), de Daniel Vigne, “Danton – O Processo da Revolução” (1983), de Andrzej Wajda, “A Insustentável Leveza do Ser” (1988), de Philip Kaufman, e muitos outros.

 

Ele também trabalhou com o mestre japonês Nagisa Ôshima, em “Max, Meu Amor” (1986), e com nosso argentino-brasileiro Hector Babenco, em “Brincando nos Campos do Senhor” (1991).

Sem parar de escrever, Carriere seguiu produzindo roteiros até a morte. Entre os filmes mais recentes que projetaram suas páginas nas telas estão “À Sombra de Duas Mulheres” (2015), “Amante por um Dia” (2017) e “Le Sel des Larmes” (2020), todos de Philippe Garrel, “Um Mergulho no Passado” (2015), de Luca Guadagnino, “No Portal da Eternidade” (2018), de Julian Schnabel, e “Um Homem Fiel” (2018), de Louis (filho de Philippe) Garrel. Além disso, ele deixou três textos inéditos, atualmente em produção, um deles também dirigido pelo Garrel mais jovem (“La Croisade”).

 

Carrière, que se definiu como um “narrador”, escreveu cerca de sessenta roteiros e 80 livros (contos, ensaios, traduções, ficção, roteiros, entrevistas). Também foi ator, dramaturgo e letrista de Juliette GrécoBrigitte Bardot e Jeanne Moreau.

 

Jean-Claude Carrière centrou a sua vida em “encontros, amizades e mestres de vida”, como o Dalai Lama, com quem escreveu um livro, e o cineasta espanhol Luis Buñuel, com quem colaborou durante 19 anos, até a sua morte. Expoente do surrealismo francês, ele começou sua colaboração com o cineasta espanhol como roteirista do filme Diário de uma Camareira, em 1964, e continuou com outros títulos como A Bela da Tarde (1967), Via Láctea (1969), O Discreto Charme da Burguesia (1972) e Esse Obscuro Objeto de Desej (1977).

Carrière se considerava um narrador, alguém mais atraído pelas diferenças que pela afinidades. Isso provocou a criação de grandes obras, algumas ainda pouco conhecidas do público como a peça A Controvérsia, montada no Brasil em 2000, com Paulo José, e que trata da violência contra os índios que marcou o início da colonização do chamado Novo Mundo, a América. “Pretendi não apenas escrever um texto que retratasse com fidelidade fatos que realmente ocorreram, como me preocupei com uma bela história, majestosa e autoritária, que se desenvolve sem a necessidade de muletas psicológicas, ideológicas ou ontológicas”, disse ele ao Estadão, na época.

 

Para Carrière, não importava se a escrita era própria ou uma adaptação – a função que aquele texto exerceria era a principal motivação. “Tenho trabalhado todas as formas de escrita. Acho que tenho um bom arsenal. Há algo em mim que se contenta em estar a serviço de um autor, em entrar em seu pensamento, em adaptá-lo da melhor maneira possível, sem ego”, disse, em entrevista à agência AFP.

 

Uma de suas principais parcerias artísticas aconteceu com o cineasta espanhol Luis Buñuel. “Só sei trabalhar em estreita colaboração com o diretor; o filme é dele e me coloco à sua visão, mas não sou subserviente”, afirmou ao Estadão, pregando a necessidade de uma relação próxima. Daí que sua convivência com Buñuel ter sido decisiva. Carrière confirmava ter sido o cineasta espanhol quem o ensinou que dizer não para um diretor pode ser benéfico para o filme.

 

Outra grande parceria foi estabelecida com o dramaturgo, diretor e cineasta inglês Peter Brook, para quem adaptou para o cinema, em 1985, a versão de Mahabharata, epopeia da mitologia hindu.

 

Mais que um trabalho, foi uma experiência única na existência. “Quando fui à Índia com Peter Brook para filmar Mahabharata, lá, além de descobrir a fertilidade do espírito, me interessei mais pelo olhar do outro sobre a minha cultura. Não era apenas levar à cultura ocidental os ensinamentos do Mahabharata, mas também ter a oportunidade de trabalhar com pessoas de outras culturas que me forçavam a rever conceitos. Isso foi decisivo em Danton, o Processo da Revolução: o diretor era um polonês (Andrzej Wajda), que vivia sob regime comunista e que me dava uma visão totalmente única e diferente da minha história. Foi um privilégio enorme”, disse.

Carrière trabalhou ainda com Phillip Kaufmann (A Insustentável Leveza do Ser), Volker Schloendorff (O Tambor), Jean-Luc Godard (Salve-se Quem Puder (A Vida)), Milos Forman (Valmont) e Hector Babenco (Brincando nos Campos do Senhor).

No cinema, ainda atuou em mais de 30 filmes e dirigiu quatro curtas, entre eles “La Pince à Ongles” (1969), que foi premiado no Festival de Cannes.

Em 2015, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA lhe homenageou com um Oscar honorário por todas as suas realizações.

Bibliófilo, apaixonado por desenho, astrofísica, vinhos, fã de Tai-Chi-Chuan (arte marcial), disseminador do budismo e amigo do Dalai Lama, Carriere fez mais em sua vida que a maioria das pessoas do mundo, incluindo escrever cerca de 80 livros (entre contos, ensaios, traduções, ficção, roteiros e entrevistas) e várias peças de teatro. Jean-Claude Carrière era muito ativo, apesar da idade. Em 2018, escreveu um último ensaio, O Vale do Nada, e, em 2020, foi corroteirista do filme Le Sel des Larmes (O Sal das Lágrimas), de Philippe Garrel.
Carrière faleceu em 8 de fevereiro de 2021, aos 89 anos. O escritor, que não sofria de nenhuma doença específica, morreu “enquanto dormia” em sua casa parisiense, disse Kiara Carrière.Ele receberá uma homenagem em Paris e será sepultado em sua cidade natal, Colombières-sur-Orb, departamento de Hérault (sul), acrescentou a filha.

(Fonte: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – NOTÍCIAS / BRASIL / por Ubiratan Brasil – Estadão Conteúdo – 09/02/2021)

(Fonte: https://www.msn.com/pt-br/cinema/noticias – CINEMA / NOTÍCIAS / por Pipoca Moderna – 09/02/2021)

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