Isaac Karabtchevsky, maestro e regente, diretor artístico do Teatro Municipal.

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O maestro de sons que levou a música clássica brasileira a palcos do mundo

Isaac Karabtchevsky, maestro e regente, diretor artístico do Teatro Municipal.

Filho de uma cantora de ópera russa, que acaba por cantarolar “Romeu e Julieta” de Tchaikovsky e, à medida que movimenta as mãos, vai mudando o andamento da música, em uma quase aula de regência. — Quando jovem, os meus gestos eram desproporcionados.

Eu ficava entusiasmado e quase saltava do pódio de tanta alegria, de tanta vibração. Com o tempo e a idade, aprendi a concentrar o movimento para poupar energias e ficar quatro horas em pé regendo uma ópera, uma orquestra sinfônica.

Diretor artístico do Teatro Municipal, ele acabou de reger a ópera Aída, de Verdi, que há 23 anos não era encenada na cidade. E ainda encontra tempo para ser o regente da Sinfônica de Heliópolis, a maior favela de São Paulo, e, desde 2000, dar aulas para maestros no Musica Riva Festival, na Itália, além de estar junto à Mostra Internacional de Música de Olinda (Mimo).

Viajando pela música

Karabtchevsky por Karabtchevsky, não é bem assim. A biografia particular é serena e traz uma união de 45 anos com Maria Helena, mãe das jornalistas Tetê e Lucinha. A família mora desde a década de 70 numa espaçosa casa na Gávea, cercada de verde. A milhagem acumulada de viajante poderia ser a única variante na plácida rotina.

Nos últimos 20 anos, ele viveu entre o Brasil e a Europa. Foram seis anos na Orquestra Tonkünstler, em Viena, outros seis no Teatro La Fenice — onde enfrentou um trágico incêndio — e mais cinco na Orchestre National des Pays de la Loire, na França. Regente das melhores orquestras do mundo e das emoções do público, ele foi buscar na psicanálise o equilíbrio.

Karabtchevsky, que em 2009 foi indicado pelo jornal britânico “The Guardian” como um dos ícones vivos do Brasil, poderia ser mais um maestro de talento incontestável e temperamento irascível, mas não é. Hoje, sua orquestra é uma das poucas a adotar o modelo de autogestão, em que os músicos, e não o maestro sozinho, decidem sobre tudo.

— Há um velho conceito freudiano sobre a relação indivíduo e massa. Freud analisava sob um ângulo político. Mas, se você mudar a palavra político por maestro e proletariado, por músico, vai compreender a dinâmica de uma orquestra.

O maestro, algumas vezes, é confundido com um pai. Não é à toa que Lacan dizia: “Le problème, c”est toujours le père” (“O problema é sempre o pai”). O maestro também é confundido com o patrão. No fundo, é tudo decorrência de um problema inserido num nível psicológico.

E, com o passar do tempo, eu vejo o tanto que a parte psicológica é importante numa relação cotidiana entre você e mais de cem músicos. O maestro que não faz análise é um maestro pela metade. A orquestra é um agrupamento humano com todos seus ápices de ternura, tensão e distensão.

Seu entendimento da música como uma fonte universal vem de quando assumiu como diretor artístico da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), em 1969, onde esteve até 1994. Nesse período, obscuro na política e com o público de concertos em decadência, ele inovou ao fazer espetáculos em que misturava o clássico com o contemporâneo, primeiro com Chico Buarque, depois com roqueiros, entre eles Cazuza. Também participou de uma das iniciativas mais ousadas para a popularização da música clássica, o Projeto Aquarius, do GLOBO. A ideia teve como ponto de partida conversas com o jornalista Roberto Marinho e com Péricles de Barros.

(Fonte: http://oglobo.globo.com/rio – CARLA ROCHA – 19/05/13)

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