Howard Hughes, aviador, engenheiro, industrial e produtor de cinema

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Howard Hughes como piloto: aclamado por multidões

O homem-mistério

 

Howard Hughes, Jr. (Houston, Texas, 24 de dezembro de 1905 – Em viagem aérea entre Acapulco e Houston, 5 de abril de 1976), era aviador, engenheiro, industrial, produtor de cinema, diretor cinematográfico e um dos homens mais ricos do mundo.

 

Em 1966, recém-instalado em seu quartel-general em Las Vegas, Nevada, um certo bilionário excêntrico começou a se irritar com os testes nucleares subterrâneos realizados pelo governo americano nas proximidades. A tal ponto que o próprio que o próprio presidente Lyndon Johnson se dispôs a explicar-lhe pessoalmente, em Washington, a necessidade das explosões. Anos mais tarde, como a irritação perdurasse, o sucessor de Johnson, Richard Nixon, propôs enviar ninguém menos que Henry Kissinger a Las Vegas, para os esclarecimentos que o magnata desejasse.

 

Tanto o convite de Johnson como a oferta de Nixon foram recusados pelo bilionário. E nada mais natural que assim fosse – a figura em questão era Howard Hughes, Jr., morto dia 5 de abril de 1976 quando transportado de avião de Acapulco, no México, para o Hospital Metodista de Houston, no Texas, após 70 anos de uma vida cheia de episódios tão desconcertantes como esse. De fato, seu imenso poder econômico e político nunca esteve dissociado de uma personalidade complexa, imprevisível, frequentemente contraditória.

 

Hughes, que desfrutou avidamente de glória e popularidade em sua juventude, passou as duas últimas décadas de sua vida fugindo freneticamente da imprensa, isolado, solitário, sem amigos. Depois de ter sido aclamado por multidões por seu feitos de aviador e de ter mantido romance com um estonteante séquito de mulheres bonitas, terminou seus dias trancado em ambientes assépticos, sentindo-se encurralado por batalhões de germes mortíferos e dando ordens por telefone, para afastar o mais possível o risco de uma imaginária contaminação.

 

“Enrugado” – Esse pavor obsessivo dos micróbios e os recursos de uma fortuna individual estimada em 2 bilhões de dólares – que o colocava entre os seis homens pessoalmente mais ricos da Terra – não foram, contudo, suficientes para evitar sua morte por “insuficiência renal crônica”, segundo o hospital. A obsessão, na verdade, pode ter encurtado sua vida. Pois o corpo de Hughes foi descrito por uma médica que auxiliou na autópsia como “enrugado e desidratado”, devido à sua terminante recusa de beber água, apesar dos apelos de seus médicos. Ao morrer, o que fora por vários anos um verdadeiro herói de muitos americanos estava reduzido a míseros 42 quilos. A aparência de Hughes, disse outro médico, o dr. Henry McIntosh, chefe do departamento de medicina interna do hospital, era “a de um homem que tinha se gastado uma vida cheia”. De fato, poucas pessoas viveram mais intensamente, e chegaram tão longe. Filho único, já era milionário aos 19 anos, quando o pai, “Big Howard”, morreu, deixando-lhe uma próspera empresa em Houston, sua cidade natal – a Hughes Tool, que fabricava um revolucionário equipamento para perfuração de petróleo por ele mesmo inventado e patenteado.

 

A empresa, porém, era pouco para Hughes. Depois de passar um ano aprendendo seus segredos, entregou a administração a um grupo de executivos e rumou para Hollywood. Em pouco tempo, era o principal acionista dos estúdios RKO, e logo produziria um clássico em filmes de batalhas aéreas: “Os Anjos do Inferno”, de 1929, que fez grande sucesso, custou mais de seis pilotos, durante as filmagens. Ao cinema, ele juntaria seu fascínio pela aviação – a ponto de, em 1932, embora fosse um dos homens mais ricos do país, empregar-se como co-piloto da American Airlines.

 

Decotes – Nos anos seguintes, Hughes bateria sucessivos recordes de bilheteria e de velocidade – inclusive voando ao redor do mundo no tempo fabuloso, para a época, de 91 horas. Foi recebido em triunfo nas ruas de Nova York, coroando uma carreira que incluía dois dos prêmios mais cobiçados pelos aviadores de seu tempo – o Harmon e o Collyer. Mas ele não só pilotava aviões: fabricava-os e testava-os pessoalmente. Num desses testes – o do XF-11, avião de reconhecimento desenhado para o Exército -, Hughes espatifou-se de encontro a uma mansão em Bel Air, sofrendo rupturas internas, fraturas múltiplas e queimaduras.

 

Ele escaparia com vida de três outros acidentes de aviação. No cinema, igualmente, sobreviveu a várias peripécias, inclusive ao escândalo produzido por “O Proscrito”, filme em que Jane Russell aparecia em generosos, temerários decotes. Ela era, então, uma das muitas favoritas de Hughes, já divorciado de sua primeira mulher, Ella Rice. Mas Hughes manteria relações profissionais e pessoais também com Ava Gardner, Katherine Hepburn, Lana Turner, Olivia De Havilland, Jean Harlow, Ginger Rogers, Loretta Young – enquanto, simultaneamente, tornava-se um gigante da indústria aeronáutica.

 

Foi ele quem planejou e construiu dois dos mais famosos aviões de todos os tempos – o bombardeiro Lightning, usado na II Guerra Mundial, e o Constelation, de passageiros. Mais tarde, a Hughes Aircraft construiria helicópetros, satélites artificiais e até módulo lunar Surveyor, enquanto o bilionário estenderia seus tentáculos por toda parte – a Trnas World Airlines, vendida mais tarde com um fabuloso lucro, a maior cervejaria do Texas, imensas áreas de terra em Nevada e na Califórnia, minas de ouro, indústrias eletrônicas, seis hoteis-cassinos em Las Vegas, a empresa de projetos Archisystems, a linha aérea doméstica Airwest.

 

Operação Jennifer – Uma grande holding, a Summa Corporation, passou a gerir todo o império. E o próprio Hughes, com o tempo, foi saindo de cena – até o ponto de simplesmente não mais ser visto por ninguém, fora de poucos auxiliares imediatos e visitas ocasionais e raríssimas. Sua última fotografia publicada data de 1957 – ano em que se casou com a atriz Jean Peters, de quem viria a se separar em 1971. Logo, essa reclusão se tornaria a maior de todas as suas obsessões. E, com a mania de se isolar, Hughes chegaria aos extremos.

 

Nos últimos vinte anos, de fato, ele dispôs de uma bem treinada guarda pessoal, aviões a jato, circuitos internos de TV, mudanças frenéticas de sua sede de operações, invariavelmente instalada nos últimos andares de luxuosíssimos hoteis em Las Vegas, depois Bahamas, Vancouver (Canadá), Manágua, Londres, novamente Bahamas e, afinal, Acapulco. Nem quando o escritor Clifford Irving forjou em 1974 uma “autobiografia” de Hughes, vendida por 650 000 dólares à editora MacGraw-Hill, o bilionário apareceu em público: seus interesses na Justiça foram defendidos por advogados, e ele concedeu uma inédita entrevista coletiva por telefone.

 

Também se revelaram insuficientes para fazê-lo aparecer as denúncias de contribuições irregulares à campanha de releição do ex-presidente Nixon, ou seu envolvimento em negociativas com a “Operação Jennifer”, em que a CIA tentou recuperar um submarino soviético afundado no Pacífico ao custo de 300 milhões de dólares. Finalmente, a privacidade de Hughes não foi violada nem depois da morte: seus auxiliares não permitiram que ninguém visse ou fotografasse o corpo. Hughes ainda vivo foi entrevisto apenas pelos pilotos do Lear-Jet que o conduziu de Acapulco a Houston.

 

Testamentos – A descrição dos pilotos foi sucinta: tudo que puderam ver foi um homem velho, magro e pálido, com barba até o peito e cabelos grisalhos até os ombros. Trazia uma máscara de oxigênio, e débeis movimentos de seu peito, que faziam o cobertor se mexer, indicavam que ainda estava com vida, embora inconsciente.

 

Hughes foi sepultado junto ao túmulo de seus pais em Houston, na presença de apenas dezesseis pessoas, inclusive uma velha tia. E, como era de esperar, a morte tampouco levantou de imediato o véu de mistério que envolveu durante toda a vida o destino que o bilionário daria à sua fortuna. Certa feita, Hughes pediu a vários assessores que redigissem diferentes testamentos. Em seguida, adotou um e rasgou os demais, mas nunca ninguém ficou sabendo qual versão ficou valendo.

 

Acredita-se, contudo, que Hughes, sem filhos e sem herdeiros diretos, legou tudo ao Instituto Médico Howard Hughes, uma entidade beneficente. Não será de se estranhar, assim, se nenhuma pessoa, em espacial, for contemplada. Pois Hughes, há alguns anos, dividiu os seres humanos em quatro categorias: “os repugnantes, os sujos, os moderadamente sujos e os moderadamente limpos”. Na época, ele parecia estar se referindo à sempre presente ideia de assepsia. Com o correr dos anos, e seu progressivo isolamento, porém, começou-se a acreditar que falara em sentido mais amplo.

(Fonte: Veja, 12 de maio de 1976 – Edição 401)
(Fonte: Veja, 14 de abril de 1976 – Edição 397 – ESTADOS UNIDOS – Pág; 38/39)
(Fonte: Correio do Povo – ANO 116 – Nº 187 – Cronologia – 5 de abril de 2011)

 

 

 

 

 

 

 

Trans World Airlines

 

A TWA foi a ideia de Howard Hughes para competir com a PanAm durante os dias de glória das viagens aéreas. A PanAm recebeu muita proteção, e a operadora norte-americana e Hughes queriam contestar isso. Da mesma forma que a PanAm, a TWA era um ícone cultural, ilustrado pela transformação do terminal da TWA em um hotel no aeroporto JFK em Nova York em 2019. Com uma grande encomenda de aeronaves intercontinentais da Boeing, Hughes havia usado quase todos seus recursos financeiros para comprar e começou a recusar entregas de fabricantes em uma tentativa de atrasar os pagamentos.

Ocorreu uma troca de guarda na companhia aérea, e o Hughes perdeu lugar para um consórcio de banqueiros que não apoiavam totalmente o setor de aviação. Tornar a TWA privada em 1988 sobrecarregou a companhia aérea com um monte de dívidas e, a partir desse momento, depois de vender as rotas premiadas para Londres para a American Airlines, a aérea perdeu seus ativos e estava destinada à sua inevitável falência, que aconteceu em 1992.

(Fonte: https://forbes.com.br/forbeslife/2020/01 – FORBESLIFE / As 12 maiores falências da aviação / Por James Asquith – 3 de janeiro de 2020)

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