Henry Fonda, astro do cinema norte-americano, que construiu heróis inesquecíveis

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Henry Fonda (Grand Islands, Nebraska, 16 de maio de 1905 – Los Angeles, 12 de agosto de 1982), astro do cinema norte-americano, que durante meio século, construiu heróis inesquecíveis. Deixando órfãos quase uma centena de personagens criados numa carreira que atravessou metade do século XX. Nasceu no dia 16 de maio de 1905, em Grand Island. Fosse como o jovem Tom Joad de Vinhas da Ira, de John Ford, ou como o esforçado músico que a polícia persegue como um assassino em O Homem Errado, de Alfred Hitchcoock, Henry Fonda soube criar personagens tão simpáticos quanto inesquecíveis.

Sua estreia no cinema ocorreu em 1935, quando lhe ofereceram o papel principal de “Amor Singelo” (The Farmer Takes a Wife), repetindo assim o trabalho que desempenhara na Broadway, ao estrelar a peça homônima.  Nessa época, tornou-se amigo de outro ator estreante, James Stewart, amizade que perdurou até sua morte.

Embora tenha feito comédias e também não se tenha recusado a fazer o papel de bandido, sua especialidade era outra. Estrela de uma geração de atores de Hollywood que deu rosto e voz ao sonho americano, Henry Fonda era perito em falar, agir e pensar de acordo com os ideais da América. Havia uma diferença, porém.

Henry Jaynes Fonda (Foto: www.doctormacro.com)

Henry Fonda construiu heróis inesquecíveis (Foto: www.doctormacro.com)

HERÓI ÍNTIMO – Enquanto Gary Cooper era um mocinho imbatível em histórias que exigiam muita ação e lances de heroísmo e John Wayne montava em seu cavalo para construir um mito com as proporções de um gigante, na América de Henry Fonda nunca faltava lugar para as cicatrizes e fraquezas da realidade. Seus heróis não comoviam pelo que faziam de grandioso, e sua força não era física, mas moral. Por isso, seu talento não estava concentrado em instantes de inacreditável bravura – mas nos pequenos gestos, numa contração nos lábios, numa mudança no olhar.

Henry Fonda não conquistava a admiração da plateia – mas era capaz de seduzi-la como se travasse, com cada espectador, uma conversa sincera sobre as dúvidas e certezas de seus personagens. Era tão verdadeiro que até podia morrer no fim da história, pois a obra não desabava e o público também não o esquecia. Foi desse modo que conseguiu reunir, como ator, uma verdadeira aura carismática: a capacidade de transmitir um senso de integridade indestrutível, capaz de suplantar todo tipo de adversidade, como fez em Doze Homens e Uma Sentença, por exemplo.

Numa de suas atuações mais brilhantes, Fonda era o único jurado a acreditar na inocência de um réu. Seu universo era este: o de um indivíduo que, enfrentando todas as evidências, resiste à opinião da maioria para não abrir mão de suas convicções mais íntimas. O próprio Henry Fonda, aliás, era um pouco assim. Quando Jane, sua filha, quis engajá-lo numa campanha contra a Guerra do Vietña, o velho Henry não quis saber de discursos ou de argumentos políticos – pediu as provas. Cuidadoso advogado de sua própria consciência, só depois que examinou americanos maltratando presos políticos vietnamitas ele assinou um manifesto pela paz.

“É SÓ SENTIR E FAZER” –- Profundamente instintivo como ator, manteve até o fim uma irônica reserva diante das intrincadas teorias do Actor’s Studio, a Meca dos atores das novas gerações – e onde todos estudavam muito para aprender um realismo que, na melhor das hipóteses, seria tão eficiente quanto o seu. “Acho que não se deve estudar para ser ator. É só sentir, conhecer e fazer.”

Nada indicava, entretanto, que Henry Jaynes Fonda, nascido no dia 16 de maio de 1905 em Grand Islands, Nebraska, viesse a se tornar um ator consagrado. Muito tímido, foi graças à insistência de Dorothy Brando– mãe de Marlon – que tomou coragem e pisou num palco pela primeira vez, aos 20 anos, numa modesta companhia de Omaha. Levou quase dez anos para sair da obscuridade mas, quando se firmou como ator, firmou-se de vez.

Em 1938 já tinha prestígio suficiente para dividir, com Bette Davis, as glórias de Jezebel. Oito anos depois faria Paixão dos Fortes, um dos poucos filmes que lhe deu muita satisfação, além de bom dinheiro – e mais tarde voltaria ao teatro. Na pele de Mr. Roberts, fez mais de 1 500 apresentações pelos Estados Unidos, voltando ao cinema, em 1955, justamente para levar o mesmo personagem à tela.

Em sua vida íntima, não conseguiu a mesma serenidade. Casou-se cinco vezes, a última em 1965, com a ex-aeromoça Shirlee Adams, com quem viveu até a morte, e suas relações com os dois filhos só se tornaram boas após um longo período de desentendimentos. Duas de suas ex-esposas suicidaram-se, inclusive Frances Brokow, mãe de Peter e Jane, que se matou cortando a garganta com uma navalha. Premiado com dois Oscar, o primeiro honorário, já estava tão doente que não pôde sair do hospital para receber o segundo, por Num Lago Dourado, em que atuava com Katherine Hepburn e, pela primeira vez, com Jane.

A cena final de Num Lago Dourado, desde abril em cartaz no Brasil, funcionou como uma advertência às plateias de todo o mundo. Vítima de um violento ataque de angina, o protagonista Norman Thayer, um professor aposentado de 80 anos, consegue salvar-se porque personagem tão envolvente não deve morrer no fim do filme.

Internado num hospital de Los Angeles, o ator Henry Fonda, 77 anos, há oito carregando um marca-passo no coração, sofrendo de um câncer no pulmão, não teve a mesma sorte que abençoou Norman, que ele vive na tela. Às 8h15 da manhã da quinta-feira, dia 12 de agosto de 1982, o velho Fonda morreu – deixando órfãos quase uma centena de personagens criados numa carreira que atravessou metade deste século.

Inimigo das cerimônias, não quis enterro nem um grande velório, preferindo ser cremado. “Quero ser lembrado como ator. Depois da minha morte, o que restar não sou eu.” Embora não tenha contado com seu voto nas últimas eleições – o velho Fonda nunca escondeu sua preferência por Jimmy Carter – o presidente Ronald Reagan enviou sua solidariedade à família, engrossando um coro de pesadas e compreensíveis manifestações. Afinal, com a morte de Henry Fonda, o sonho americano ficou um pouco menor – e menos bonito.

(Fonte: Veja, 18 de agosto de 1982 – Edição 728 – Datas – Pág; 144/145)

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