Henrique V, entusiasmou o império britânico com sua ousada guerra pela conquista do trono da França

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A saga do rei herói, um reinado de dimensões arrebatadoras

Henrique V (Monmouth, 16 de setembro de 1386 – Vincennes, 31 de agosto de 1422), foi coroadao rei de Inglaterra em 1413 e entusiasmou o império britânico com sua ousada guerra pela conquista do trono da França. O rei que se transformou num épico de dimensões arrebatadoras, em aventuras inverossímeis, com exércitos que se confrontaram em batalhas sangrentas, espadas que sibilam no ar, reis de grandes impérios que decidiam o destino do mundo e sagas que mapeavam parte da trajetória da humanidade.

 

DINASTIA – Henrique V centra sua no heroísmo inglês, poucos meses de 1415 em que o soberano, então com 28 anos, movido pela certeza de o trono da França lhe pertence por direito, resolve tomá-lo pela força. Apoiado pelo clero, ele reúne seu exército e atravessa o Canal da Mancha para a primeira das duas invasões inglesas na Normandia, que terminou na sangrenta Batalha de Agincourt, travada em novembro de 1415.

O Exército inglês era três vezes menor que o do inimigo e por isso a batalha passou à História como um marco da bravura britânica. Nas contas da época, morreram 10 000 franceses e apenas 29 ingleses. Nos livros de História, os números apontam para 5 000 baixas do lado francês e 400 do lado inglês. A vitória em Agincourt foi um acontecimento decisivo para a afirmação das características do reinado de Henrique V, que antes da coroação se chamava Harry de Monmouth, conduziu a restauração da autoridade da monarquia na Grã-Bretanha, abalada pelo governo retrógrado de seu pai, o odiado Henrique IV, que usurpou o trono de Ricardo II e iniciou a dinastia dos Lancaster. Enérgico e populista, Henrique V devolveu ao povo a imagem do rei que merece e sabe governar.

 

Centrado em torno da batalha e dos preparativos para ela, Henrique V, passou para a história como um épico medieval, de guerra e bravura, onde mostrou o perfil pungente do soberano, de sua luta para deixar a adolescência e tornar-se rei, e, principalmente, das responsabilidades e dos perigos da liderança, além da massacrante solidão que ela acarreta. O Henrique V foi daqueles personagens grandiosos que, além de arrogante, ladino, dono de uma coragem quase suicida, capaz de invocar a Deus como quem fala com Ele de igual para igual, solidário com os súditos e impiedoso com os traidores, ele foi um estrategista político a cujo poder de sedução nem os inimigos resistiam. Nem mesmo Carlos VI, o rei da França, que, depois de derrotado, o encontra e se mostra admirado com sua sanha de guerreiro e sua vocação para a vitória mesmo sob as condições mais adversas.

 

TRAIÇÃO E MORTE – Henrique V foi um homem que ainda muito jovem aprende da forma mais dolorosa que será sempre um solitário, que nunca poderá ter um amigo íntimo, que nunca saberá o que é ser um homem comum – foi um personagem complexo. Henrique nunca poderá ser um homem comum porque a todo momento lhe é exigido provar que é o rei, o valente e o sábio. É nas reações que ele demonstra e nas decisões que quando está organizando seu exército, o monarca descobre que três de seus oficiais aceitaram dinheiro do inimigo para traí-lo e matá-lo no Porto de Southampton durante o embarque para a França.

 

Henrique os chama e, diante de outros oficiais, os adverte: “Não ousem por vergonha falar em clemência, pois as suas razões para a traição se voltam contra seus peitos qual cães contra seus mestres.” A seguir, manda executar os traidores. Em outra cena de dar arrepios na espinha, Henrique manda enforcar um soldado de seu exército, Bardolph, que havia sido seu companheiro de farras na adolescência. Os soldados ingleses avançam sobre o território francês com imensas dificuldades, dizimados pelas doenças, andando dias inteiros na chuva, abrigando-se apenas sob o manto da solidariedade. A certa altura, descobre-se que Bardolph roubara um objeto de uma igreja francesa.

Cabe a Henrique tomar a dura decisão: perdoar o amigo, o que seria ainda mais natural diante de condições tão adversas, ou puni-lo da forma que manda sua justiça e dar o exemplo aos demais soldados. Henrique ordena que a forca seja erguida. É a forma de ilustrar a dor e a solidão de um jovem monarca obrigado a tomar decisões terríveis. Vencida a batalha, Henrique procura o monarca francês para selar sua vitória e para pedir a mão de sua filha Katherine, em casamento. Primeiro, o rei inglês tenta se comunicar com a princesa em francês, e o resultado é hilariante.

A seguir, ele lhe declara, meio atrapalhado como um adolescente tímido, que “não é capaz de dizer coisas de amor” porque sempre levou “a vida rude de um soldado”. Para um rei que acabou de se provar o homem mais poderoso e destemido da Europa, a declaração é no mínimo desconcertante.

 

BANDEIRA – A maior e a mais espetacular cena de Henrique V, no entanto, ocorre pouco antes do início da Batalha Agincourt. O clima entre os soldados ingleses é o pior possível. Eles sabem que os franceses entrarão em campo com três vezes mais homens, e homens descansados e preparados para a luta, enquanto eles se encontram esfalfados pela campanha. Há um clima fúnebre no ar, uma perspectiva de tragédia iminente para a bandeira britânica e para cada um dos soldados.

Subitamente, Henrique começa a conversar com seu primo Westmoreland para levantar-lhe o moral. Vai se empolgando, sua voz sobe um tom, outro mais, os soldados que estão em volta começam a se aproximar e, em segundos, ele está fazendo para a massa um dos mais espetaculares monólogos heróicos já vistos. “Nós, poucos; nós, poucos e felizes; nós, grupo de irmãos, pois aquele que hoje verter seu sangue comigo será meu irmão; não importa o quanto vil seja, este dia abrandará sua condição.

 

E os cavalheiros que na Inglaterra agora dormem se sentirão amaldiçoados por não terem estado aqui e desdenharão de sua própria virilidade quando alguém disser que lutou conosco no Dia de São Crispin. A seguir, começa a batalha, e os ingleses, quase possuídos com o discurso de seu líder, investem contra os franceses dispostos a dizimá-los.

 

(Fonte: Veja, 25 de julho de 1990 – ANO 23 – Nº 29 – Edição 1140 – CINEMA – Pág: 96/98)

 

 

 

 

 

 

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