Heinrich Mann, precursor do expressionismo, um dos mais célebre escritor alemão do século 20.

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Thomas e Heinrich: destinos diversos na literatura

Ludwig Heinrich Mann (Lübeck, 27 de março de 1871 – Santa Mônica, 11 de março de 1950), um dos mais célebre escritor alemão do século 20, irmão do outro titã das letras que se digladiaram pelos valores do humanismo contra um inimigo implacável, o nazismo, Thomas Mann (1875-1955), cuja obra monumental está em grande parte traduzida.

Prêmio Nobel de Literatura de 1929, o grande Thomas Mann popularizou-se para a nova geração quando sua novela Morte em Veneza chegou às telas com o ator Dirk Bogarde (1921-1999) no papel principal. Além da monumentalidade de obras como A Montanha Mágica ou Doutor Fausto.

Quanto a Heinrich Mann, que chegou a ter mais sucesso do que o irmão na Europa, acabou reduzido à glória de ter escrito o romance que rendeu o mitológico filme O Anjo Azul, estrelado por Marlene Dietrich (1901-1992).

O Brasil só cruzou remotamente a história dos Mann, uma família de comerciantes de grande prestígio em Lübeck, no norte da Alemanha, desde o século XVIII.

Thomas, Heinrich e seus outros três irmãos eram filhos de uma alemã nascida no Brasil, Júlia da Silva Bruhns, que partiu do Rio de Janeiro quando ficou órfã, aos 6 anos, e nunca mais voltou.

Restou na família apenas uma apagada e exótica imagem do Brasil, que nem sequer injetou nos irmãos escritores a curiosidade de cruzar o Atlântico para ver como era a terra da mãe.

Heinrich, o irmão mais velho que teve de brigar com o pai para abraçar a literatura e logo se mostrou um polemista disposto a rechear seus romances com argumentos de militância política.

Mesmo como vigilante guardião da liberdade de espírito, Thomas supera o irmão militante – sua pena voltou-se não apenas contra os nazistas como também contra os Estados Unidos, país que lhe deu abrigo e cidadania em 1944 mas que amargou depois seu período de caça às bruxas da guerra fria.

Inversamente, a trajetória de Heinrich é um decrescendo que vai da glória ao mais sombrio esquecimento. Considerado o precursor do expressionismo na literatura, Heinrich produzia seus romances com rapidez, numa receita que misturava política e sarcasmo e que lhe assegurou tamanho brilho entre seus contemporâneos que chegou a ser cogitado, na Alemanha pré-nazista, para a Presidência da República.

Heinrich foi, sob muitos aspectos e a despeito de uma séria briga com Thomas, um modelo para o irmão mais novo. Com sua recusa de tornar-se herdeiro da fortuna comercial dos Mann, e sua opção pelas letras, ele abriu um caminho que o irmão depois seguiria com muito menos resistências familiares.

A fortaleza moral de Heinrich na defesa de suas ideias igualmente teve sua influência no irmão mais moço. Os dois se alimentaram mutuamente com argumentações políticas e literárias e palavras de estímulo, como revela sua correspondência, citada ao longo da biografia.

ARTE REAL – Muito bem documentado, também com cartas que os irmãos Mann trocaram com os grandes de seu tempo – do físico Albert Einstein (1879-1955) ao regente Bruno Walter (1876-1962), passando pelo escritor Bertold Brecht (1898-1956) -, ajuda a compreender as agruras da Europa duas vezes sacudida por guerras totais. Esse pano de fundo serviu de alimento literário tanto para Heinrich quanto para Thomas Mann.

Cada qual reage a seu modo, seja na política seja na literatura, mas esse conhecimento histórico é indispensável para saber o que cada um simbolizou em seus romances. Heinrich satirizava os tiranos em O Anjo Azul e os homens fracos que se submetem ao poder em O Súdito, um de seus livros mais famosos.

Thomas, inspirando-se em sua família, contou o fim de uma época em Os Buddenbrook e fuçava nas entranhas da Alemanha e da missão do artista em Doutor Fausto.

Mais efêmeros, como as obras de combate em geral, os romances de Heinrich perderam sua força quando os tempos mudaram.

Thomas, porém, capaz de sofrer espiritualmente o esmagamento de sua pátria, compôs com sua dor uma arte que não conhecerá eclipse. Essa fraternidade tão singular dos irmãos Mann faz um rico documento da história e das letras modernas.

(Fonte: Veja, 25 de Setembro de 1985 – LIVROS/ Por Mário Sérgio Conti e Mirian Paglia Costa – Edição 890 – Pág; 135/136)

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