Guita Charifker, artista plastica, foi aluna de Abelardo da Hora e fez parte do Ateliê Coletivo

0
Powered by Rock Convert

Uma das maiores expoentes das artes plásticas pernambucana, Guida foi aluna de Abelardo da Hora e fez parte do Ateliê Coletivo

Guita Charifker em nanquim em 1978 (Foto: Mercado Livre/ Divulgação)

Guita Charifker em nanquim em 1978 (Foto: Mercado Livre/ Divulgação)

Guita  Charifker (Recife, PE 1936 – Recife, 3 de fevereiro de 2017), artista plástica. Uma das temáticas preferidas de Guita era pintar a natureza.

A pintora, desenhista, gravadora e escultora foi aluna de Abelardo da Hora (1924-2014), iniciou seu trabalho no mundo da arte aos 16 anos. Ao longo dos anos, passou por diversos movimentos da cultura pernambucana. Com inspiração no surrealismo, assinou obras de forte erotismo, associando formas humanas a animais e vegetais. Fez parte do Ateliê Coletivo, em Olinda, com Gil Vicente, José Cláudio e Gilvan Samico, entre outros.

Em 1953, estuda desenho e escultura no Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna, no Recife, ao lado do gravador Gilvan Samico (1928) e do pintor José Cláudio (1932), entre outros, sob orientação de Abelardo da Hora (1924). Colabora, em 1964, na fundação do Atelier da Ribeira, em Olinda, Pernambuco, do qual participa também o pintor João Câmara (1944). Em 1966, cria e dirige a Galeria do Teatro Popular do Nordeste. Desde a década de 1970, realiza pesquisas em gravura em metal na Oficina do Ingá, Niterói, sob orientação da gravadora Anna Letycia (1929). Em 1974, recebe o prêmio de viagem ao México no Salão Global de Pernambuco.

Depois, trabalha no ateliê de João Câmara e frequenta por algum tempo o ateliê do escultor Frans Krajcberg (1921). Organiza o Ateliê Coletivo, em Olinda, com pintor Gil Vicente (1958), José Cláudio e Gilvan Samico, entre outros, em 1985. Em 2001, é publicado o livro Viva a Vida! Guita Charifker: aquarelas, desenhos, pinturas, pela Secretaria de Educação e Cultura do Recife, e em 2003 são apresentadas exposições retrospectivas no Museu Nacional de Belas Artes – MNBA, Rio de Janeiro, e na Pinacoteca do Estado de São Paulo – Pesp.

 

Guita Charifker durante a juventude. Foto: Acervo Jacques Ribemboim/Divulgação

Guita Charifker durante a juventude. Foto: Acervo Jacques Ribemboim/Divulgação

 

Levei muitos anos desenhando sozinha. Um dia, andava pela rua Velha, na Boa Vista, vi uma janela aberta, e através dela pessoas desenhando. Eu tinha dezesseis anos. Se não fosse esse momento, não sei o que teria sido a minha vida. Descobri que aquele era o Atelier da Sociedade de Arte Moderna do Recife, dirigido por Abelardo da Hora, frequentado por Samico, Zé Cláudio, Wellington Virgolino, Ivonaldo Marins e outros.

Fui aceita como aluna e fiquei vários anos. Ali comecei a minha vida e compreendi o que é arte: a troca com outros artistas, a vida coletiva.

Abelardo da Hora era um professor generoso, que percebia o caminho de cada aluno. Meu irmão até desenhava melhor do que eu. Mas desenho é paixão. Eu tinha essa paixão, coisa que ele não tinha. Quando não estava desenhando, eu sentia saudade. Comecei esculpindo. Amassei muito barro. Quando esculpia e voltava para casa, é como se tivesse deixado uma pessoa esperando por mim no atelier. Retornava no dia seguinte na maior alegria. Ao mesmo tempo que descobria a minha arte, me apaixonei por um rapaz, Júlio Charifker.

Depois de três anos de namoro, Julio Charifker me pediu em casamento. Pensei: se tenho de ser uma artista medíocre, é melhor casar. Eu tinha muita vontade de ter filhos. Casamos em 1957 e um ano depois nasceu minha filha Rosali e dois anos depois o meu filho Saulo. Um dia, quando me penteava diante de um espelho, me perguntei: o que estou fazendo da minha vida? Eu devo fazer alguma coisa além de cuidar de filhos e casa.

Voltei a ter aulas com Abelardo da Hora, dessa vez na Associação Cristã Feminina. Pintava a óleo, principalmente figuras. Improvisei um atelier para mim, na garagem da minha casa, na rua do Sossego. Dividia o espaço com a lavadeira. Enquanto ela passava roupa, dava opiniões sobre os meus quadros. Em 67, fiz minha primeira viagem à Europa e a Israel. Meu marido não quis me acompanhar e eu viajei sozinha. Cheguei em Roma à noite e de manhã cedo fui à Capela Sistina. Quando me vi no interior da Capela fiquei tão emocionada que botei pra chorar. Vendo a produção italiana, senti vergonha do que fizera e percebi
quanto faltava para eu ser artista.

O escritor português, Miguel Torga, teve essa mesma sensação de pequenez diante da grandeza da arte italiana.

Enquanto me sentia perplexa no meio de tanta maravilha, vi uma vitrine com desenhos, uma arte aparentemente modesta no meio de tanta exuberância. Decidi voltar a desenhar. De Roma fui a Israel. Lá, a primeira coisa que fiz foi comprar o material necessário para o meu trabalho. Visitei o Mar Morto, a Galileia, desenhando o que via da janela do ônibus. As pessoas me cediam o lugar, o motorista parava a viagem para eu concluir algum detalhe. Nessa viagem em que procurava as minhas origens, redescobri o prazer do desenho.

Vivi a minha infância integrada à comunidade judaica. Meus pais vieram da Europa Central por volta de 1914. Primeiro veio o meu pai. Um dia ele foi ao porto do Recife, acompanhando um tio materno, que ia buscar minha avó e minha mãe. Mamãe tinha apenas quinze anos. Quando ele a viu descendo do navio, apaixonou-se por ela. Logo se casaram e nascemos eu e meu irmão Fernando Greiber. A minha família praticava as tradições judaicas e na infância vivi intensamente essas tradições.

Hoje, sei que o ecumenismo é a única saída para as intolerâncias religiosas. Deus é um só e é nele que creio. As religiões são meras linguagens para falar de um mesmo Deus. Sou uma pessoa mística, mas não frequento sinagogas. Nas minhas aquarelas posso me dar à liberdade de pintar um menorah, um espelho de Oxum ou uma Santa Luzia com os
olhinhos na mão. Importa-me apenas o deleite artístico e espiritual.

O encontro com Israel e as minhas raízes fez que eu me sentisse uma semente bem plantada no Nordeste e me descobrisse uma desenhista. Abandonei os modelos vivos e passei a desenhar de imaginação. Trabalhava dez horas, diariamente. Durante o dia cuidava da família. Às oito da noite, quando os meninos dormiam e o marido ia para a televisão, eu me recolhia no meu novo atelier, até as seis da manhã. Desenhava, lia, ouvia música, a noite inteira. Júlio era muito bom, um homem especial.

 

Guita Charifker morreu em 3 de fevereiro de 2017, no Recife. Ela teve falência múltipla dos órgãos. 

(Fonte: http://g1.globo.com/pernambuco/noticia – PERNAMBUCO/ Por G1 PE 03/02/2017)

(Fonte: http://www.vermelho.org.br – CULTURA/Por Ronaldo Correia de Brito – 13 de maio de 2011)

Pesquisa de texto e imagens e autorização dos artistas para publicação, por Selenia Granja

 

Powered by Rock Convert
Share.