Grande Otelo, ator cuja carreira conta a história do humor no Brasil

0
Powered by Rock Convert

A comédia ficou triste

Otelo: “Não precisa convidar amigos meus para a festa. Eu não tenho amigos mesmo”.

Grande Otelo, pseudônimo de Sebastião Bernardes de Souza Prata (Uberlândia, 18 de outubro de 1915 – Paris, 26 de novembro de 1993), o ator cuja carreira conta a história do humor no Brasil e que viveu driblando a tragédia.

“Se esse crioulo pode vencer, porque eu não posso?”, costumava brincar o ator Grande Otelo, referindo-se a qualquer personalidade de sucesso e exercitando a autoparódia típica do melhor humor carioca. Como artista, e apesar de todos os tropeços na trajetória profissional, da mesma forma que o crioulo da piada, foi um vencedor. Com seus lábios espichados de bebê chorão, seus olhos esbugalhados e suas caretas, tornou-se um dos personagens-símbolo da alma brasileira nos mais de 100 filmes e dezenas de peças de teatro em que atuou. Na vida pessoal, como o cidadão Sebastião Bernardes de Souza Prata, seu nome de batismo, viveu driblando a tragédia, o álcool e a solidão.

No dia 30 de novembro, Grande Otelo foi a Brasília participar do lançamento do seu livro de poesias, Bom Dia, Manhã. Lançado em outubro no Rio de Janeiro, o livro era um velho sonho, mas acabou lhe pregando uma peça. “No dia do lançamento no Rio de Janeiro, apesar de termos enviado mais de 500 convites, só compareceu meia dúzia de pessoas e apenas nove livros foram vendidos”, relembra José Mário Pereira, da editora Topbooks. Pereira conta outra história para ilustrar a solidão em que vivia o ator. “Antes de lançar o livro, perguntei quem ele gostaria que convidássemos. Ele respondeu que eu poderia chamar quem quisesse porque ele não tinha mesmo amigos.”

Grande Otelo estava separado da atriz Maria Helena Soares, de 49 anos, que usa o nome artístico de Josephine Helene, com quem vivia desde 1975. Há seis anos, o casal protagonizou uma briga que chegou às manchetes policiais. Depois de uma discussão movida a ciúmes e bebedeira, que teve como plateia um dos cinco filhos do casamento anterior de Otelo, Maria Helena lhe desferiu uma facada no abdômen. O ator prestou queixa na delegacia. Não foi o primeiro nem o mais trágico dos episódios conjugais envolvendo Grande Otelo. Em 1949, a primeira de suas três ex-mulheres, a ex-empregada doméstica Lúcia Maria, matou o filho do casal, de 6 anos, e suicidou-se. Deixou um bilhete no qual responsabilizava o marido boêmio pelo ato.

“THE GREAT” -– Apesar da vida pessoal acidentada, Grande Otelo divertiu várias gerações de brasileiros ao marcar presença em todos os gêneros dramáticos do país desde os anos 40, do teatro de revista às novelas da Globo, passando pelas chanchadas da Atlântida e pelo Cinema Novo. Era o exemplo acabado do comediante que sabe representar, que consegue arrancar da piada e da gague humorística também o que elas têm de irônico ou melancólico. Travestido de Julieta, de tranças loiras, numa chanchada popular, encarnado como o perfeito Sancho Pança na montagem da peça O Homem de La Mancha ou berrando como o recém-nascido Macunaíma, no filme de Joquim Pedro de Andrade, dava a seus papéis uma autenticidade visceral, da família da mais refinada qualidade histriônica: o ator que representa sem parecer representar.

Otelo era mineiro de Uberlândia. Filho de uma empregada doméstica, tinha apenas 8 anos quando pegou carona numa trupe teatral e seguiu para São Paulo. Em 1924, aos 9 anos, já trabalhava na Companhia Negra de Revistas, formada no Rio de Janeiro, com atores e músicos negros, entre os quais Pixinguinha. Depois, na companhia de teatro Jardel Jércolis, ganhou o apelido. O inglês começava a entrar na moda e no espetáculo Goal, em São Paulo, o ator aparece nos créditos como “the great Othelo”.

“Fiz muita gente ficar rica e fiquei pobre”, lamentava-se Grande Otelo nos últimos tempos. Ele vivia de um salário modesto que recebia como contratado da Rede Globo desde 1971 e de uma aposentadoria como funcionário da Radiobrás, que só em 1993 conseguiu que fosse reajustada. Apesar disso, não arrefecia. Em outubro, fez seu último trabalho em televisão, o caso especial da Rede Globo O Besouro e a Rosa. No final de novembro, aproveitou a passagem do presidente Itamar Franco pelo Rio de Janeiro para pedir um financiamento de 1,5 milhão de dólares. Pretendia fazer um filme sobre a malandragem carioca na década de 30. Enquanto aguardava a resposta, decidiu ir a Nantes, onde seria homenageado no festival que exibiria um documentário francês sobre artistas negros brasileiros.

No dia 26 de novembro, ao morrer de enfarte, aos 78 anos, logo após desembarcar no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, de onde seguiria para Nantes a convite do festival de cinema local, Grande Otelo encerrou duas trajetórias que se opõem. Mas não passou do desembarque, em Paris. Talvez devesse ter ouvido as próprias palavras escritas em seu livro. Num dos poemas, rimou:
Sabe de uma coisa, João
Tão cedo não quero ir a Paris não.

(Fonte: Veja, 1° de dezembro de 1993 -– ANO 26 -– N.° 48 – Edição 1316 -– MEMÓRIA -– Pág; 109)

Em 18 de outubro de 1915 – Grande Otelo, nome artístico de Sebastião Bernardes de Souza Prata, nasce em Uberlândia, Minas Gerais. Otelo faleceu em Paris, em 26 de novembro de 1993.

(Fonte: Correio do Povo – ANO 120 – Nº 18 – 18 de outubro de 2014 – CRONOLOGIA – DIRCEU CHIRIVINO – Pág: 19)

Grande Otelo alcançou expressão internacional (Foto: Acervo Cinemateca Brasileira)

Grande Otelo alcançou expressão internacional
(Foto: Acervo Cinemateca Brasileira)

 

Centenário de Grande Otelo é celebrado

Uberlandense alcançou expressão internacional

O artista uberlandense Grande Otelo, pseudônimo de Sebastião Bernardes de Souza Prata, completaria 100 anos em 18 de outubro. O artista que marcou presença no Brasil e no mundo.

Sebastião Bernardes nasceu em 18 de outubro de 1915. Ele foi ator, comediante, cantor, escritor, compositor e poeta. Na década de 1920, participou da Companhia Negra de Revistas, que tinha Pixinguinha como maestro. Já em 1932, entrou para a Companhia Jardel Jércolis (1894-1944), um dos pioneiros do teatro de revista. Foi nessa década que ganhou o nome Grande Otelo, como ficou conhecido.

Ele ainda fez inúmeras parcerias no cinema, sendo a mais conhecida com Oscarito. Também trabalhou no humorístico “Escolinha do Professor Raimundo”, da Rede Globo, no início dos anos 1990. O último trabalho foi uma participação na telenovela “Renascer”, pouco antes de morrer de um ataque de coração, em 1993. O artista deixou cinco filhos. Um deles é o também ator José Prata.

Ele trafegou por todas as áreas e teve uma grande repercussão internacional, talvez a maior depois de Carmen Miranda. Apesar de não ter enriquecido com o trabalho, atuou muito na vida e construiu uma carreira impressionante.

“O fato é que um artista da envergadura de Grande Otelo merecia não somente mais presença na cidade como também ser fonte de pesquisa e inspiração para os artistas que vieram depois.”
Carlos Guimarães Coelho, produtor cultural

(Fonte: http://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-mineiro/noticia/2015/10 – TRIÂNGULO MINEIRO – Fernanda Resende Do G1 Triângulo Mineiro – 18/10/2015)

Powered by Rock Convert
Share.