Gianni Vattimo, filósofo italiano conhecido internacionalmente por ter desenvolvido o conceito do “pensamento fraco”, foi fortemente influenciado por Nietzsche, Heidegger e Gadamer, reinterpretou a pós-modernidade como uma “libertação” da metafísica totalizante

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Criador do conceito de ‘pensamento fraco’

Italiano se tornou um dos expoentes do pensamento pós-moderno ao defender inexistência de verdades universais

O filósofo italiano Gianni Vattimo participa de evento na Universitat Pompeu Fabra, em Barcelona, na Espanha – (Universitat Pompeu Fabra – 9.jun.2016 / Divulgação)

 

Gianni Vattimo (nasceu em Turim em 4 de janeiro de 1936 – faleceu em 19 de setembro de 2023, em Rivoli, em Turim), filósofo italiano conhecido internacionalmente por ter desenvolvido o conceito do “pensamento fraco”, autor de obras como “O Fim da Modernidade” e “Para Além do Sujeito”.

Nascido em Turim em 4 de janeiro de 1936, Vattimo é considerado um expoente da filosofia hermenêutica e um influente político italiano.

Filho de uma costureira e um policial, Vattimo perdeu o pai antes dos dois anos de idade, e cresceu em um ambiente proletário. Chegou a trabalhar na RAI, a emissora estatal italiana, antes de iniciar a carreira acadêmica. Em 1959, formou-se em filosofia na Universidade de Turim, onde trabalhou como professor de 1964 até se aposentar, em 2008.

Professor da Universidade de Turim, ele ficou reconhecido mundialmente por ser o “pai” do conceito do “pensamento fraco”, uma crítica à metafísica tradicional.

Fortemente influenciado por Nietzsche, Heidegger e Gadamer, reinterpretou a pós-modernidade como uma “libertação” da metafísica totalizante. Além da sua carreira acadêmica, Vattimo foi membro do Parlamento Europeu, contribuindo ativamente para a política italiana e europeia.

Durante sua carreira, marcou o cenário filosófico com uma série de obras importantes, como O Fim da Modernidade (1985), que analisa a superação da racionalidade moderna e a emergência da pós-modernidade.

Junto com Pier Aldo Rovatti, em 1983, apresentou O Pensamento Fraco, obra que introduz o conceito de mesmo nome como uma crítica aos fundamentos metafísicos. Esta ideia é mais explorada em Além da Interpretação, onde Vattimo foca o papel central da interpretação na filosofia contemporânea.

Contudo, ele não negligenciou questões como religião e fé, como demonstra em Crer para Crer, onde propõe um “cristianismo fraco” para a era pós-moderna.

Embora tenha escrito diversos livros sobre suas principais referências filosóficas —Martin Heidegger (1889-1976) e Friedrich Nietzsche (1844-1900)—, Vattimo ganhou fama graças a um conceito próprio. Trata-se do “pensamento fraco”, que fez dele um dos expoentes do pensamento pós-moderno.

O termo, retirado do título de uma coletânea de ensaios que ele organizou ao lado de Pier Aldo Rovatti em 1983, traz a ideia de que não há uma única verdade universal, capaz de refletir a realidade como um todo, ao contrário do que defendiam os filósofos da Antiguidade e da Idade Média. Ou, nas palavras do próprio Vattimo, “não existe uma única maneira de descrever os fatos objetivamente”. “Para aproximar-se deles, pode-se fazer uso de muitos pontos de vista”, afirmou ao jornal espanhol El País nos anos 1990.

Apesar desse viés pós-moderno, Vattimo não compartilhava com muitos de seus contemporâneos uma visão catastrófica do futuro. Ele se dizia um otimista, e argumentava que o “pensamento fraco” se conectava de maneira intrínseca à ideia da democracia —um sistema político que se baseia, afinal, no confronto entre diferentes “verdades”.

Também costumava afirmar que a humanidade não era suficientemente niilista. “Todos os terrorismos que conhecemos são de tipo fundamentalista, praticados por pessoas que creem tão intensamente a ponto de se matarem para impor sua crença aos outros”, disse em entrevista à Folha em 2002.

Além da carreira acadêmica, Vattimo, que defendia um “comunismo hermenêutico”, também atuou na política, tendo sido eleito duas vezes para o Parlamento Europeu —ele foi eurodeputado entre 1999 e 2004 e entre 2009 e 2014.

Ainda se debruçou amplamente sobre religião, tema do qual se reaproximou ao longo de sua trajetória. Abertamente homossexual e pioneiro na promoção dos direitos LGBTQIA+ em seu país, o filósofo defendia a prática de um cristianismo secularizado, independente das instituições eclesiásticas tradicionais e, portanto, compatível com sua orientação sexual.

Sua vida amorosa, aliás, foi marcada por tragédias segundo o Corriere della Sera. Em 1992, ele perdeu o companheiro, o também acadêmico Gianpiero Cavaglia, morto em decorrência de Aids. Depois, em 2003, outro de seus parceiros, Sergio Mamino, morreu no banheiro de um avião enquanto viajava para a Holanda para se submeter a um procedimento de eutanásia. Vattimo estava no voo com ele.

Mais recentemente, um dos relacionamentos do filósofo virou notícia nos tabloides italianos. Seu companheiro, Caminada, foi condenado em fevereiro a dois anos de prisão por abuso de incapaz. De acordo com a imprensa local, um tribunal de Turim descreveu o ítalo-brasileiro, que começou a se relacionar com o filósofo ao ser empregado como seu motorista em 2010, como um “aproveitador” que induziu o Vattimo a tomar decisões que prejudicaram o autor e visavam apenas os bens dele.

O filósofo também teve papel pioneiro na promoção dos direitos dos membros da comunidade LGBTQIA+, definindo-se como “homossexual e cristão”.

Recentemente, a imprensa estrangeira apontou que Vattimo estaria sendo “explorado” por Caminada, de 38 anos. O italiano, que fazia uso de uma cadeira de rodas, estava envolvido em um processo judicial e, ainda assim, não se considerava vítima.

De acordo com um jornal espanhol, o Tribunal de Justiça de Turim teria condenado o ítalo-brasileiro a dois anos de prisão por supostamente ter enganado o parceiro e ter “induzido” Vattimo a se casar com ele com o ojetivo de ficar com sua herança.

Nas semanas anteriores à sentença, o casal havia submetido um processo de união civil que acabou sendo bloqueado pela Justiça.

Gianni Vattimo faleceu na terça-feira, 19, aos 87 anos, no hospital Rivoli, em Turim, onde estava internado em estado grave.

A informação foi divulgada pelo ítalo-brasileiro Simone Caminada, assistente e companheiro do filósofo há 14 anos, em uma publicação no Facebook, no perfil do Vattimo.

(Direito autoral: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – Estadão Conteúdo/ NOTÍCIAS/ BRASIL/ por ANSA / História por Redação – 20/09/23)

(Direito autoral: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – Folha de S.Paulo/ NOTÍCIAS/ BRASIL/ SÃO PAULO, SP/ por (FOLHAPRESS) – 21/09/23)

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