Friedrich Nietzsche, filósofo alemão que identificou a crise que se fazia sentir em seu tempo: o esgarçamento das tradições, a perda de crenças ancestrais

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Um filósofo explosivo

 

A depressão impulsiona a criatividade – Ao longo da História, gênios realizaram suas grandes obras em estado de extremo tormento. Descobriu-se a ligação entre a depressão e a criação. Os criadores, quando estão deprimidos, são capazes de grande feitos. É nessa hora que eles produzem menos e com maior qualidade – e alcançam a maestria.

 

Friedrich Nietzsche (Röcken, Lützen, Alemanha, 15 de outubro de 1844 – Weimar, Alemanha, 25 de agosto de 1900), filósofo alemão que identificou a crise que se fazia sentir em seu tempo: o esgarçamento das tradições, a perda de crenças ancestrais.

 

Mas, em vez de tentar mascarar essa situação, Nietzsche decidiu leva-la às últimas consequências. Em outras palavras, abraçou um projeto radical de crítica de todas as esferas da cultura. Nietzsche não deixou repousar nenhum fundamento da moral e da religião. Derrubou a noção de verdade absoluta.

 

Procurou trazer à tona o substrato de pulsões e instintos subjacentes às ações humanas (não é por acaso, aliás, que o pai da psicanálise, Sigmund Freud, considerava Nietzsche um de seus precursores).

 

Realizada essa tarefa crítica, porém, Nietzsche tentou propor novos valores. Era preciso encontrar outras formas de viver ao homem ocidental.

 

 

Crepúsculo dos Ídolos”, foi a penúltima obra do filósofo alemão Nietzsche, escrita e impressa em 1888, pouco antes de o filósofo perder a razão, ele anuncia, desde o princípio, que o livro deve ser tomado como “uma grande declaração de guerra” e seus alvos primários são os “mitos” da metafísica, da religião e da moralidade.

 

Em “Humano, Demasiado Humano”, foi a primeira obra de Friedrich Nietzsche após o rompimento com o romantismo de Richard Wagner e o pessimismo de Arthur Schopenhauer, onde o texto começa com um pesado ataque a Sócrates, o fundador da filosofia ocidental.

 

Datado de 1878 “Humano, Demasiado Humano” também tem um severo núcleo de crítica. Foi nesse livro, por exemplo, que Nietzsche defendeu pela primeira vez sua doutrina do perspectivismo,a ideia de que não há verdades definitivas, apenas interpretações sobre a realidade, condicionadas pelo ponto de vista de quem as propõe. Por outro lado, já no subtítulo Nietzsche anuncia que aquele é “um livro para espíritos livres”. Eles são aqueles que abandonarão as verdades herdadas, em favor de uma vida de contínua experimentação e aventura. É o lado “construtivo” de seu pensamento – e também o de mais forte apelo popular.

 

 

Eu não sou um homem, sou dinamite”: assim falou Friedrich Nietzsche, e tinha completa razão. De todos os filósofos modernos, ele foi, de longe, o mais explosivo. Política e psicanálise, teologia e literarura, teatro e música popular – as mais diversas áreas da cultura têm estilhaços de seu pensamento encravados nelas, como foco de polêmica ou fonte de inspiração.

 

Citações falsificadas –  Tão importante quanto os seus temas foi o formato do pensamento de Nietzsche. Distante do estilo descarnado de um Kant, ele se regozijava nas metáforas, nos voos de retórica e na musicalidade da língua alemã. Por sua força literária Nietzsche influenciou grandes escritores do século XX, como o austríaco Rainer Maria Rilke, o francês Albert Camus e o alemão Thomas Mann.

Mas a questão estilística que sempre levantou mais detalhes foi sua opção pelo aforismo. Embora seus primeiros livros tenham sido escritos como dissertações, a partir de “Humano, Demasiado Humano” ele optou por essa forma curta, lapidar. E nunca mais a abandonou. Nietzsche era um inimigo ardente dos grandes sistemas teóricos. “Desconfio de todos os homens que têm sistemas”, escreve ele em “Crepúsculo dos Ídolos”. Em outras palavras, o pensamento fragmentário, e muitas vezes contraditório, faria parte de seu projeto filosófico.

 

A respeito de vários assuntos, Nietzsche defendeu o pró e o contra. Não à toa, quase todos os movimentos culturais e políticos concebidos no século XX se apropriaram de ideias do filósofo. O exemplo mais célebre é, sem dúvida, o do nazismo. Amparados em passagens de seus livros que fazem um elogio da força, da virilidade, da “vontade de poder”, e ainda em páginas nas quais ele falou de questões raciais e do judaísmo, muitos intelectuais nazistas citaram Nietzsche à farta, adotando-o como uma espécie de ideólogo.

 

 

No curso das últimas décadas, porém, diversos estudiosos mostraram que quase todas as citações de Nietzsche feitas por nazistas foram falsificadas ou arrancadas de seu contexto. Um exemplo clássico está no aforismo 475 de “Humano, Demasiado Humano” em que Nietzsche ataca não apenas o nacionalismo, mas também o anti-semitismo – dois dos principais pilares da política do III Reich. Recortado e remontado, o texto sempre apareceu nos panfletos nazistas como se afirmasse exatamente o contrário. Nietzsche, é claro, não estava vivo para assistir a esse uso distorcido de seus textos. Mas não é difícil imaginar o que teria dito. Ele não queria discípulos, bem ou mal intencionados. A lição mais importante de sua obra é a de que é necessário pensar com independência.

 

Nietzsche era depressivo e suicida. Aos 40 anos, teve crises de loucura, sendo internado em um sanatório.

 

A doença não o abandonou até a morte.

(Fonte: Época – N° 511 – 3 de Março 2008 – Editora Globo – Saúde & Bem-Estar – David Cohen, Amauri Segalla, Kátia Mello e Martha Mendonça – Pág; 84 a 91)

(Fonte: Revista Veja, 9 de agosto de 2000 – ANO 33 – Nº 32 – Edição 1661 – Livros / Por Carlos Graieb – “Humano, Demasiado Humano” tradução de Paulo César de Souza – Pág: 150/151)

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