Foi um dos pioneiros do desenvolvimento petrolífero no Médio Oriente

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Calouste Gulbenkian (Istambul, a 23 de março de 1869 – Lisboa, Portugal, 20 de julho de 1955), foi um dos pioneiros do desenvolvimento petrolífero no Médio Oriente, nasceu em 1869, em Istambul (Turquia), descendente de uma abastada família de comerciantes arménios. estudou em Londres e aos 18 anos diplomou-se em Engenharia. Elaborou vários trabalhos sobre as potencialidades da exploração do petróleo no Médio Oriente, sendo o primeiro a impulsionar esta indústria no Golfo Pérsico, e serviu de ligação entre as indústrias petrolíferas americanas e russas. Ajudou também a organizar a Turkish Petroleum Co. – hoje, Iraq Petroleum Company.

Depois da Primeira Guerra Mundial, fixa residência em França. E, em 1928, participa no acordo de divisão da velha Turkish Petroleum Company, o que lhe valeria a alcunha de “o senhor cinco por cento”. Esse acordo consistia na atribuição, a cada uma das companhias – BP, Shell Group, Companhia Francesa de Petróleos e Standard Oil/Mobil Oil – de 23,75 por cento do respectivo capital, cabendo a Calouste Gulbenkian os restantes cinco por cento.

Aliando o dinheiro ao amor pela arte, Gulbenkian foi reunindo uma vasta coleção de obras, valendo-se do seu estatuto diplomático para movimentar livremente as peças que adquirira.

O “tactical enemy”

No início da Segunda Guerra Mundial, Gulbenkian está em Paris, como conselheiro comercial da embaixada da Pérsia. Quando a França é invadida pelas tropas do III Reich, o Governo francês, então chefiado pelo general Pétain, muda-se para Vichy. Gulbenkian acompanha-o, ainda que  “muito contrariado”. Porém o facto não é visto com bons olhos pelo Governo inglês, que o toma como um acto de reconhecimento do governo de Vichy, e passa a considerá-lo um “tactical enemy”.

Gulbenkian sente isso como um insulto e intenta judicialmente contra o Governo inglês, vindo a ganhar o processo. Todavia, as relações nunca mais seriam as mesmas e o magnata do petróleo não concretizou a oferta da sua colecção à National Gallery, em Londres, onde já estava prevista uma ala com o seu nome.

“A vida em Vichy naquela ocasião não era fácil para um homem habituado a viver na sua linda casa em Paris”, conta Azeredo perdigão. Entretanto, em Vichy, Gulbenkian conhece  o embaixador português Caeiro da Mata, e resolve vir passar duas semanas a Portugal, país que não conhecia, mas que os seus amigos lhe diziam satisfazer os seus desejos de sol e paz, tão próprios do povo arménio.

Em vez de duas semanas, Gulbenkian acabaria por ficar 13 anos, fixando residência no melhor hotel da capital, o Aviz (onde hoje fica situado o hotel Sheraton). Ocupava a suite D. Filipa de Lencastre, “era boa pessoa e pagava bem”, conta o seu criado de quarto, Adelino Sequeira. “Era de simpatias ou antipatias, mas sempre muito exigente”, acrescenta.

Calouste Saris Gulbenkian esteve dez anos sem sair de Portugal e a única vez que o fez foi numa visita a Paris. A sua vida na capital portuguesa era feita com os amigos Caeiro da Mata, o conhecido médico Fernando Fonseca e Azeredo Perdigão. Acompanhava-o também a sua secretária, Isabelle Riehl, a quem viria a oferecer um palacete em Sintra, nos Seteais.

Não se dava bem, nem com a mulher – Nevarte Gulbenkian, que residia em Paris e só veio uma vez a Portugal -, nem com o filho, Nubar Sarkis Gulbenkian, que era considerado como um “playboy”. Mantinha, no entanto, uma boa relação com a filha e o genro, Rita e Kevork Essayan, pais de Mikhael Essayan, um dos actuais administradores da Fundação.

“Uma pessoa muito importante”

Como era voz corrente que estava uma pessoa muito rica em Lisboa, Calouste Gulbenkian recebia inúmeras cartas com pedidos, “a que só não respondia se entendia que tinham algum sentido político”.

Gostava de gatos – “tinha sete ou oito”, diz o seu criado de quarto, “quatro siameses e quatro vadios”. Não tinha carro nem motorista particular. Andava sempre de táxi “com o senhor Esteves”, um motorista de Sintra que vinha a Lisboa sempre que Calouste Gulbenkian o chamava.  Com o senhor Esteves e muitas vezes com a sua secretária, ia passear para Monsanto, “levando sempre um saquinho com pão para dar aos pássaros”.

Passado algum tempo de Gulbenkian ter chegado a Lisboa, Azeredo Perdigão recebe um telefonema do hotel Aviz: dizem-lhe que falam da parte de “uma pessoa muito importante” que desejava consultá-lo e lhe pedia para ir ao hotel. “Diga a esse senhor, sem desrespeito, que por dever da deontologia profissional os advogados não vão a casa dos clientes”, respondeu. Pouco depois telefona-lhe Caeiro da Mata, dizendo que a pessoa em causa “poderia ter um certo interesse para o país”. Azeredo Perdigão acede.

O advogado que Calouste Gulbenkian recebe é conhecido em Portugal como “um jurista finíssimo”, famoso pelas suas causas célebres que defendeu, entre as quais as dos Rotschild, interessados na compra do Banco Nacional Ultramarino, que então entrara em crise; a falência da Torlades e os casos Ricardo Covões e António Luís Gomes contra a Misericórdia do Porto. Bisneto de um dos homens da batalha do Mindelo, que opôs miguelistas a liberais., Azeredo perdigão nasceu em Viseu, em 1896. Pensava cursar engenharia na Bélgica, o que acabou por não acontecer por entretanto ter falecido o seu padrinho que iria custear os estudos. Vem para Lisboa no ano da implantação da República e faz o exame final de Direito em Coimbra.

Nunca entrou em conflito com Salazar, que o considerava um “vermelhusco” e, mantinha relações de amizade com o Cardeal Cerejeira. Porém, o mesmo já não se passava com Marcelo Caetano, devido a algumas rivalidades pessoais, dizia-se. E enquanto Salazar, de forma surpreendente, aceitou logo a ideia  de uma Fundação como a Gulbenkian, Marcelo nunca viu com bons olhos o projeto de uma instituição particular, independente da tutela do Estado.

Um cliente pouco interessante

Azeredo perdigão conhece então, Calouste Gulbenkian no Hotel Aviz. “O cliente não me interessou muito, diz, tinha clientes tão bons ou melhores do que ele, mas a sua personalidade, essa interessou-me muito”, acrescenta. “Tinha a preocupação da legalidade”.

Enquanto seu advogado, Azeredo perdigão viria a redigir o testamento de Calouste Gulbenkian em Junho de 1953. Nele, o testador legava a parte remanescente dos seus bens a uma Fundação que teria o seu nome e acolhesse a sua colecção de arte, espalhada por vários países. “As minhas obras de arte – dizia em 1947, em carta a Lord Crawford, – “são os meus amigos de toda a vida e julgo natural o sentimento de ansiedade que tenho sobre o seu lar”.

Por testamento, criava assim “uma instituição particular, portuguesa e perpétua, de fins caritativos, artísticos, educativos e científico”. Porquê em Portugal? Devido ao ”valor da paz portuguesa” e “à estabilidade das instituições que dão garantias aos instituidores”.

Nomeia seus executores testamentários Azeredo Perdigão, o genro Kerkov Essayan e Lord Radcliffe, cabendo a este último assumir a presidência da Fundação, por recusa do advogado português. “Isso significaria para mim um grande prejuízo material”, explica Azeredo perdigão.

A opinião de Salazar

Quando Gulbenkian morre, em Julho de 1955, o seu filho Nubar constesta a validade do testamento e a interpretação das suas cláusulas. Perdigão tenta chegar a um acordo extrajudicial. Por duas vezes chegou a acordo com os contestantes e por duas vezes estes o quebraram: “Ao outro dia as exigências eram sempre outras”, recorda. À terceira tentativa, chama a secretária e diz-lhe: “Acompanhe estes senhores, porque não tenho mais nada a tratar com eles”. A questão é então submetida a tribunal. Ferrer Correia e José Dantas Perdigão, filho de Azeredo Perdigão, patrocinam a acção. O tribunal pronuncia-se a seu favor, o que possibilitou um acordo com o filho de Calouste Gulbenkian, que pelo testamento de seu pai viria a receber de herança apenas um milhão e meio de dólares, tal como a sua irmã Rita.

Entretanto Lord Radcliffe recusa a presidência da Fundação, por esta implicar a sua mudança para Lisboa. Azeredo Perdigão vai então falar com Salazar e pergunta-lhe que deverá convidar para o cargo. “Quem tem de ser presidente da Fundação é o senhor; não tem alternativa”, responde-lhe o presidente do Conselho.

Em Julho de 1956 é promulgado o decreto-lei que institui a Fundação. na mesma altura, “perante a melhor sociedade lisboeta e na presença do senhor ministro da Educação nacional”, segundo a Imprensa da época, é feita a apresentação da Fundação Calouste Gulbenkian e do seu primeiro Conselho de Administração  -José de Azeredo Perdigão (presidente), Charles Kinshaw, D. Domingos de Sousa Holsteinbeck (Duque de Palmela) e Pedro Teotónio Pereira, embaixador português em Londres.

(Fonte: pequenashistorietas/personalidades/calouste-gulbenkian/ PAULA AZEVEDO, EXPRESSO, 8 DE DEZEMBRO DE 1989)

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