Foi pioneiro na agricultura tropical

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Alysson Paolinelli, pioneiro na agricultura tropical, nome fundamental na revolução do agronegócio brasileiro

Ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli — (Foto: Rede Paolinelli/Divulgação)

 

Alysson Paolinelli (Bambuí (MG), 10 de julho de 1936 – Belo Horizonte (MG), 29 de junho de 2023), ex-ministro da Agricultura, um dos nomes mais importantes na transformação do agronegócio brasileiro em um dos mais importantes do mundo.

Além de ministro, ele teve importante participação na política agrícola brasileira. Professor, secretário de Agricultura de Minas Gerais por três vezes, e deputado federal no período da Constituinte, abriu caminho para a saída do Brasil de uma dependência alimentar para a posição de um dos principais exportadores de alimentos.

Natural de Bambuí (MG) e agrônomo formado em Lavras, Paolinelli foi ministro da Agricultura no governo de Ernesto Geisel, de 15 de março de 1974 a 15 de março de 1979. Anteriormente, em 1971, foi secretário de Agricultura de Minas Gerais e é considerado um dos responsáveis pela liderança no Estado na produção cafeeira. De 1987 a 1991, foi deputado constituinte por Minas Gerais. Também já foi presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), de 1987 a 1990.

O ex-ministro foi indicado ao Nobel da Paz em 2021 e 2022 pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) em virtude de seu trabalho para “tropicalização da agricultura” e pelo desenvolvimento da agricultura e pecuária no Cerrado. Paolinelli é reconhecido na agropecuária brasileira pela introdução de novas tecnologias no campo, que levaram ao aumento da produção agrícola brasileira.

Paolinelli foi um dos fundadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e trabalhou na modernização da estatal como ministro. Em 2006, ele ganhou o prêmio World Food Prize, conhecido como o Nobel da alimentação, por ter liderado o processo de implantação da agricultura tropical sustentável no Brasil.

À frente da Agricultura em um período em que o país era importador de alimentos, Paolinelli buscou o desenvolvimento nacional com base em três pontos básicos para a mudança desse cenário: ciência, tecnologia e capacitação humana. Ele foi ministro de 1974 a 1979, no governo de Ernesto Geisel.

O ex-ministro via a necessidade do desenvolvimento de uma agricultura voltada para a área tropical, evolução que deu certo e o país passou a ser referência mundial nesse tipo de agricultura.

Na avaliação dele, o país precisava de uma agricultura voltada para os trópicos na década de 1970 para sair da dependência externa de alimentos.

No seu período de governo, implantou programas como a Embrater, Polocentro e Prodecer para, com ciência e tecnologia, levar a difusão do conhecimento aos produtores, como sempre afirmava.

Nos últimos anos, ainda participava ativamente das discussões sobre política agrícola e sempre defendeu a necessidade do desenvolvimento de um programa para os biomas tropicais, visando a sustentabilidade e a inclusão do produtor.

“É preciso, porém, colocar a ciência antes de qualquer tipo de produção. Ela definirá o que pode ser mexido nos diversos biomas, mas sempre com as regras dela”, afirmou à Folha de S.Paulo.

Apesar dos avanços da agricultura tropical, Paolinelli sempre dizia que ainda havia muito por fazer, principalmente para os produtores que ainda não participavam dessa revolução agrícola.

Ciente das dificuldades dessa evolução, afirmou à Folha, quando indicado ao Prêmio Nobel, em 2021, que “temos problemas e temos de reconhecê-los. Ainda há produtores em um sistema extrativista e de subsistência, cuja renda não atinge dois terços de um salário mínimo”.

A expectativa em torno de um Nobel, associada ao nome de Paolinelli, agora acaba.

Imbatível nas exportações de café há décadas, o país acrescentou também nessa lista de liderança mundial soja, açúcar, suco de laranja, carne bovina, carne de frango e, em alguns anos, como ocorreu em 2012 e em 2022, chegou a liderar as exportações mundiais de milho.

Essa revolução agrícola veio com base na ciência, na tecnologia e na inovação, afirmou Paolinelli à Folha de S.Paulo. Ele criou 26 representações da Embrapa em sua passagem pelo Ministério da Agricultura nas diversas regiões do país.

Defendia que, com pesquisas objetivas, é necessária a definição dos limites do uso dos biomas, sem degradar os recursos naturais. Além disso, utilizar as formas de manejo que mantenham esses recursos preservados.

Avaliando o que ocorreu com a agricultura brasileira nas últimas décadas, o ex-ministro afirmava que ainda há muito por fazer. A agricultura tropical trouxe vantagens comparativas para o país, mas se faz necessário um avanço para a bioeconomia.

O ex-ministro era presidente executivo da Abramilho (Associação Brasileira dos Produtores de Milho). Neste setor, teve uma grande atuação para que o país atingisse recordes de produção do cereal atualmente.

Alysson faleceu na quinta-feira (29), aos 87 anos, em Belo Horizonte (MG). Ele estava hospitalizado há um mês no Hospital Madre Tereza por complicações renais e no aparelho respiratório, após uma intervenção cirúrgica para a implantação de uma prótese no quadril, segundo fontes próximas à família.

Sua morte gerou manifestações de pesar em todos os setores do agronegócio brasileiro. O também ex-ministro Roberto Rodrigues apontou-o como o responsável pelo Brasil ser apontado como celeiro do mundo. “A agropecuária e o agronegócio brasileiro perderam hoje seu maior herói de todos os tempos. Paolinelli colocou o Brasil no cenário mundial através da mais nobre das funções: alimentar o mundo”, disse.

De acordo com Rodrigues, o ex-ministro teve grande participação na mudança que transformou o Brasil, que há 50 anos importava 30% do seu consumo de alimentos, em um dos maiores exportadores de grãos, carnes e insumos alimentícios. “Paolinelli, com sua equipe, montou a mais espetacular agricultura tropical sustentável do planeta. Hoje nós exportamos para 200 países, alimentos, energia e fibras, dando condições de vida para mais de 1 bilhão de pessoas em todos os continentes. Esse é um legado inestimável que jamais poderemos pagar.”

Para Rodrigues, o ex-ministro fazia jus ao Prêmio Nobel da Paz, para o qual foi indicado em 2021 e 2022 pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) . “É o maior brasileiro dos últimos tempos. A ele devemos essa condição fantástica de inserir o país no mapa da paz, pois não há paz onde houver fome. Paolinelli ajudou a acabar com a fome e trazer a paz”, disse.

O Sistema CNA/Senar/ICNA divulgou nota lamentando o falecimento do ex-ministro e presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho). “Paolinelli teve uma brilhante e competente trajetória como homem público e profissional em defesa do potencial de desenvolvimento da agricultura tropical brasileira, sendo um dos grandes responsáveis pela transformação do agro.” O texto lembra que o ex-ministro presidiu a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) de 1987 a 1990.

Para o economista José Roberto Mendonça de Barros, Alysson se tornou um dos pilares da agricultura moderna brasileira, ao aliar o desenvolvimento de pesquisas com a formação de profissionais. Ele lembrou que Paolinelli foi professor e diretor da Universidade de Lavras e foi um dos fundadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que acabou sendo o epicentro desse esforço de pesquisa. “Deve-se muito a Alysson Paolinelli essa noção de que o cerrado nos abria uma enorme avenida de crescimento, desde que fosse desenvolvido e adaptado um pacote tecnológico que permitisse uma agricultura em direção aos trópicos. Foi isso que acabou acontecendo.”

Mais adiante, segundo ele, o agrônomo e ex-ministro dedicou muitos esforços à modernização do milho. “Além de tudo o que a gente hoje conhece da soja, que é o carro-chefe da agricultura brasileira, ele também teve a percepção da importância do milho, da capacidade de produção de proteína animal competitiva, acessível e barata para os mercados internos e externos. Uma figura notável, alguém pessoalmente criativo, agradável e dedicado, por quem tenho grande admiração.”

Para André Pessoa, CEO da Agroconsult, consultoria especializada no agronegócio brasileiro, Paolinelli foi o grande artífice da moderna agricultura brasileira. “A maior referência para todos os técnicos e produtores que fazem do nosso agro um orgulho nacional. Nos ensinou a apostar sempre em ciência, inovação, tecnologia, sustentabilidade, produtividade e ousadia. Teve uma vida longa, produtiva, digna e inspiradora. O Brasil perdeu um dos maiores brasileiros de sua história. Perdemos nosso farol”, disse.

A Universidade Federal de Lavras (UFLA) decretou luto simbólico por 7 dias em seu campus. Em sua página oficial, a universidade lembrou a trajetória de seu ex-aluno que se tornou diretor e transformou também a trajetória da escola. Em 1955, Paolinelli foi aprovado em 1.o lugar no vestibular de Agronomia da Escola Superior de Agricultura de Lavras, atual UFLA. Formado com louvor em 1959, tendo sido orador da turma, foi convidado a lecionar na instituição e adotou uma linha de ensino prático, levando os alunos para as fazendas da região.

Na década de 1960, com a universidade na iminência de ser fechada, ele assumiu o cargo de diretor e trouxe um novo dinamismo para a universidade. Em 1988, Paolinelli foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa em reconhecimento ao seu trabalho na instituição. Em relato de sua própria trajetória, publicado no jornal da UFLA, ele disse que a universidade foi seu primeiro grande desafio na vida. “Me convenci de que ninguém faz nada sozinho. Hoje, tenho a absoluta certeza de que se eu tivesse de nascer e viver tudo o que vivi, eu iria fazer tudo de novo.”

A Abramilho divulgou nota de pesar pela morte do seu presidente executivo. Conforme a secretária-geral Maria Eustaquia, o “pai da agricultura tropical brasileira” deixou um grande legado para o país e especialmente para os agricultores. “Ao mesmo tempo que deixa um Brasil mais rico por tudo o que semeou, nos deixa mais pobres e órfãos com sua ausência”, disse, em nota.

Também em nota, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) lamentou a perda e destacou os trabalhos do ex-ministro em benefício da agropecuária. “Alysson Paolinelli ficará sempre em nossa memória como um técnico incansável a favor da evolução do agronegócio brasileiro.”

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, também lamentou a morte de Paolinelli e, em rede social, lembrou que ele deixa um “legado inquestionável”, que supera as barreiras do tempo. “Seu trabalho fez nascer no país uma das maiores potências agropecuárias do mundo. Mais que isso, seu legado alimenta as famílias e a ciência”, postou.

A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (Esalq-USP) lembrou que Paolinelli manteve nos últimos anos relação muito próxima com a instituição, tendo recebido, em agosto de 2017, a Medalha Luiz de Queiroz em cerimônia solene. Conforme a diretora Thais Vieira, entre 2021 e 2022, o ex-ministro foi terceiro titular da Cátedra Luiz de Queiroz. “Seu papel para o desenvolvimento do setor como o conhecemos hoje foi fundamental”, disse. Segundo ela, Paolinelli sempre incentivou a pesquisa, a ciência e a tecnologia aplicada ao campo.

Partiu da Esalq/USP o movimento para a indicação de Paolinelli ao Prêmio Nobel da Paz, em 2021. A nomeação foi protocolada em 22 de janeiro daquele ano, no The Norwegian Nobel Comitte, pelo então diretor, Durval Dourado Neto. “Trata-se de um líder brasileiro provedor da paz em nível mundial, tanto no passado, com o desenvolvimento da Agricultura Sustentável no Cerrado, preservando a Amazônia, como no presente e no futuro, liderando o Projeto Biomas na Academia”, disse o ex-diretor no lançamento da indicação.

(Créditos autorais: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – Folha de S.Paulo / (FOLHAPRESS) – SÃO PAULO, SP – NOTÍCIAS/ BRASIL/ História por MAURO ZAFALON – 29/06/23)

(Créditos autorais: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – IstoÉ DINHEIRO/ NOTÍCIAS/ BRASIL/ por História por admin3 – 29/06/23)

(Créditos autorais: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – Estadão Conteúdo/ NOTÍCIAS/ BRASIL/ História por José Maria Tomazela – 29/06/23)

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