Foi o primeiro alemão a receber o Prêmio Pulitzer por suas imagens feitas no país asiático

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Horst Faas (Berlim, 27 de abril de 1933 — Munique, 10 de maio de 2012), lendário fotógrafo e correspondente de guerra.

O fotógrafo Horst Faas, foi duas vezes vencedor do prêmio Pulitzer e chefe gráfico da agência americana “AP” durante uma década no Vietnã.

Agência na qual trabalhou durante quase meio século.

Nascido na Alemanha em abril de 1933, o veterano correspondente de guerra começou a trabalhar na “AP” em 1956 e tornou-se famoso não só por suas fotografias, mas também por sua capacidade de contratar talentos como colaboradores da agência em Saigon.

Fass é mentor de alguns dos melhores fotógrafos de guerra do mundo, e suas imagens foram premiadas com o Pulitzer tanto no Vietnã, em 1965, como em Bangladesh, em 1972.

Gravemente ferido no sul do Vietnã em 1967, mesmo assim continuou sua carreira, na qual dirigiu o trabalho de outros lendários repórteres de sua época. Um deles foi Nick Ut, vencedor do Pulitzer em 1972 com a imagem da menina vietnamita nua fugindo de um ataque de napalm.

Outro dos fotógrafos que formaram sua equipe foi Eddie Adams, autor de outra das fotografias mais conhecidas daquela guerra, a execução de um suspeito pelo chefe de polícia do Vietnã do Sul durante a ofensiva do Tet, em fevereiro de 1968.

Seu início como repórter gráfico foi nas guerras do Congo e da Argélia, até que foi transferido a Saigon em 1962, onde chegou no mesmo dia que seu companheiro Peter Arnett, com o qual formou uma dupla de trabalho durante quase dez anos.

Em 1976, foi destinado a Londres como editor sênior para a Europa, até que se aposentou em 2004, e é co-autor de dois livros sobre fotógrafos de guerra mortos nos conflitos na Indochina: “Requiem” (1997) e “Lost Over Laos” (2003).

Horst Faas faleceu dia 10 de maio de 2012, aos 79 anos em Munique (Alemanha).
(Fonte: www1.folha.uol.com.br/ilustrada – DA EFE – 11/05/2012)

“Primeiro faço fotos, depois vem a moral”, é a máxima do repórter fotográfico Horst Faas

Vencedor de dois Prêmios Pulitzer, o fotógrafo alemão Horst Faas registrou alguns dos acontecimentos mundiais mais turbulentos das últimas décadas. Entre eles a Guerra do Vietnã e a independência de Bangladesh.

A biografia de Horst Faas inclui visitas a muitas regiões do planeta em crise e o registro fotográfico de acontecimentos mundiais. Durante toda a Guerra do Vietnã, Faas trabalhou como repórter fotográfico para a agência norte-americana de notícias Associated Press (AP), estacionado em Saigon, a capital do país. Este foi o ápice de sua trajetória no jornalismo. “Se eu não tivesse ido para o Vietnã, estaria sendo hoje em Bremen ou em qualquer outra cidade, trabalhando como um mero redator. E nunca teria feito o que fiz”, disse ele.

Para obter reconhecimento na mídia norte-americana, era importante testemunhar in loco, como fotógrafo ou correspondente, o que acontecia no Vietnã. “O país foi um pulo na carreira de muita gente”, recorda Faas. Em 1965, o berlinense recebeu, como primeiro alemão, o Prêmio Pulitzer por suas imagens feitas no país asiático. Entre elas, a mais famosa é certamente a dramática “Garota do napalm”, em que a vietnamita Kim Phuc corre, nua e com o corpo todo queimado.

Pouco tempo depois, em 1972, o comitê que concede o renomado prêmio o indicou novamente, desta vez pelas fotos de uma execução em Bangladesh, datadas de dezembro de 1971. Até então, nenhum outro fotógrafo havia recebido o Prêmio Pulitzer duas vezes.

Nos Estados Unidos, Horst Faas tornou-se tão conhecido quanto nomes lendários da fotografia, como David Halberstam, Larry Burrows, Tim Page ou Henri Huet. Em seu país natal, poucos conhecem aquele que talvez seja o repórter fotográfico alemão de maior sucesso internacional, em todos os tempos.

Após a paralisia

“O primeiro Prêmio Pulitzer foi uma surpresa para mim. Eu nem sabia o que era isso, quando o presidente da AP, Wes Gallagher, me cumprimentou”, lembra-se Faas, hoje aos 78 anos, em seu apartamento de Munique, onde vive com a mulher Ursula. Desde abril de 2005, ele sofre de paralisia e não consegue mais andar. Em sua cadeira de rodas, recorda: “Quando o médico me disse que nunca mais poderia andar, pensei: “Aos 72 anos, já vivi, na verdade, tudo o que tinha que viver. Agora vem outra coisa”.

E mesmo quando é obrigado a passar dias deitado, em função das debilidades físicas, suas lembranças detalhadas do tempo de repórter fotográfico mantêm-se vivas. Entre estas estão os acontecimentos em Daca, no dia 18 de dezembro de 1971. Faas viajou naquele dia do Vietnã diretamente para a recém-fundada Bangladesh.

Imagens terríveis

Em março daquele ano, o país tinha obtido sua independência do Paquistão e combatido as forças armadas deste país, com a ajuda do Exército da Índia. No dia 16 de dezembro, as tropas paquistanesas capitularam e a Índia ocupou, junto com grupos de rebeldes nativos, a capital Daca. Quando o líder das então chamadas Forças Armadas da Libertação de Bangaldesh conclamaram a população para um comício, Horst Faas estava presente com sua câmera, a serviço da Associated Press. Ele fotografou a seguir a execução de quatro homens, acusados de terem violentado mulheres muçulmanas.

Um dos líderes rebeldes, “Tiger” Siddiki, havia instigado toda a história do assassinato, lembra-se Faas. “Quando começaram os maus-tratos em público, as agressões a baioneta, ele entrou em cena como num balé e pediu um fuzil com uma baioneta montada. Aí se posicionou em frente a um dos presos, levantou a arma ostensivamente e recuou mais do que o necessário”, conta o fotógrafo. “Então lanceou o homem no flanco. Não no peito. Ele não queria matá-lo imediatamente, mas primeiro torturar”, completa.

Os outros solados imitaram seu líder e uma multidão assistia. Por fim, eles se sentiram incomodados com os fotógrafos e se voltaram contra eles. Faas e seu colega Michel Laurent, também a serviço da AP, encontraram um abrigo seguro. “Nunca corri tão rápido na vida”, recorda.

Limites da profissão

Logo depois, outros jornalistas acusaram Faas e Laurent de que as execuções teriam sido encenadas para a imprensa e de que seria amoral fotografar aquelas cenas. A AP divulgou, mesmo assim, as imagens, e quatro meses mais tarde os dois fotógrafos receberam o Prêmio Pulitzer por elas.

Faas conta que ficou horrorizado com as acusações. “Mas sempre defendi a máxima: “primeiro faço minhas fotos, depois falamos sobre moral”, diz, parafraseando o dramaturgo Bertolt Brecht. Durante sua permanência como correspondente da AP na antiga Saigon, o fotógrafo alemão viu-se diversas vezes confrontado com a decisão sobre o que podia ser publicado e o que não. Seu critério sempre foi a “autocensura pelo decoro. Ou uma espécie de instinto: o que é possível e o que não é. O que é apropriado e o que não é”, completa.

Ao longo de sua trajetória, Faas registrou muita coisa através de suas lentes, inclusive o atentado à equipe israelense durante os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972; o encontro entre o então presidente egípcio Anwar el Sadat e o presidente norte-americano Richar Nixon, durante as negociações pela paz de Gizé; a luta de boxe entre Muhammad Ali e George Foreman, em 1974, no então Zaire, e a visita do Papa João Paulo 2° a Auschwitz, em 1979. Faas é capaz de se lembrar de tudo nos mínimos detalhes e seu entusiasmo pelo trabalho de então é visível até hoje.
(Fonte: www.dw.de – CULTURA e ESTILO – Autora: Klaudia Prevezanos (sv) – Revisão: Augusto Valente – 17/12/2011)

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