Foi o primeiro acadêmico a ter uma relação estreita com o universo da música

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Acadêmico publicou livros sobre religião e compositores clássicos

Luiz Paulo Horta (Rio de Janeiro em 14 de agosto de 1943 – Rio de Janeiro em 3 de agosto de 2013), jornalista e acadêmico. Intelectual que se dedicou com a mesma intensidade ao jornalismo, à música e à religião

Horta uniu essas três paixões em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras (ABL), em novembro de 2008. Eleito para a cadeira 23, fundada por Machado de Assis, traçou paralelos entre a obra do autor de “Dom Casmurro” e o que chamou de “sabedoria antiga” do Eclesiastes.

Afirmou a importância de uma imprensa crítica, que incomode os poderosos. Definiu a música como um “idioma universal”, que “nos abre as portas da transcendência”. E sintetizou em uma frase a visão que tinha de seu ofício: “Escrever é um ato de amor”.

Autor de obras sobre música clássica e teologia, Horta colocou essa visão em prática ao longo de cinco décadas de carreira na imprensa. Nascido no Rio de Janeiro em 14 de agosto de 1943, chegou a estudar Direito, mas abandonou o curso e, no início dos anos 1960, começou a colaborar com o “Correio da Manhã”. Em 1964, passou ao “Jornal do Brasil”, onde trabalhou por 26 anos.

Chegou à Redação do GLOBO em 1990, onde por mais de duas décadas foi editorialista e crítico de música clássica. Em seus artigos, refletia com erudição e clareza sobre política, artes e religião. Durante a Jornada Mundial da Juventude, publicou uma coluna diária sobre o catolicismo e a Igreja em tempos de Papa Francisco, a quem elogiava por sua “avassaladora humanidade”.

Nos últimos dias, enquanto organizava com entusiasmo os preparativos para sua festa de 70 anos, que completaria dia 14, Horta trabalhava em um livro sobre a transição promovida na Igreja por Francisco, em quem via uma rara figura pública a inspirar “esperança, numa época em que as lideranças decepcionam”.

Sua obra mais recente, “A Bíblia: um diário de leitura”, foi lançada em 2011, como resultado de mais de dez anos de pesquisas e debates em um grupo de estudos que mantinha na própria casa.

Também liderou um grupo de estudos bíblicos no Centro Loyola da PUC-Rio, entre 2000 e 2001, e foi membro da Comissão Cultural da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

Um crítico generoso e construtivo

A relação de Horta com as artes veio de berço (“Nasci músico”, disse certa vez). Aos cinco anos, ganhou um acordeon e aprendeu a tocar sozinho. Três anos depois, seu avô o presenteou com um piano.

Gostava de tocar piano em reuniões de amigos, alegrando o ambiente com peças leves de Ernesto Nazareth. Em público, também se apresentava com esse repertório, como num recital que fez, há alguns anos, no Museu Villa-Lobos, dedicado a Nazareth e a Noel Rosa.

Como crítico musical, era generoso nos elogios e construtivo nas críticas, num claro reflexo do seu temperamento sereno e amistoso. Acompanhava a vida musical do Rio de Janeiro desde a década de 1960, quando começou a escrever críticas para o “Jornal do Brasil”. A música brasileira, sobretudo a de Villa-Lobos, era sua grande paixão. Sobre ele, escreveu artigos e o livro “Villa-Lobos: uma introdução”, de 1987.

Antes disso, já havia publicado, em 1983, “Caderno de música” (Zahar), uma coleção de suas crônicas musicais, e, em 1984, “Dicionário de música Zahar”, adaptação brasileira do “Dicionário Hamlyn” inglês. Seu empenho em apresentar a música clássica como uma arte prazerosa e acessível era notório.

Detestava a expressão “música erudita”, que considerava pedante e nociva. Preferia “música de concerto” ou, simplesmente, “música clássica”. Em suas críticas, antes de abordar qualidades ou defeitos das performances, costumava gastar alguns parágrafos comentando as obras e compartilhando com os leitores os sentimentos que elas proporcionam.

Esse trabalho de divulgação da música clássica foi além da escrita. Em 1994, Horta se tornou membro titular da Academia Brasileira de Música.

De 1985 a 1990, dirigiu a seção de música do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e trouxe ao Brasil personalidades como o compositor alemão Karlheinz Stockhausen. Com Nenem Krieger, produzia concertos da série Música de Câmara na ABL.

No mercado editorial, suas últimas contribuições à música que tanto amava foram a edição brasileira condensada do dicionário musical “Grove”, em 1994, e o guia “Música clássica em CD”, em 1997, no qual indicava as melhores gravações de obras dos grandes compositores.

Por seus livros e pela atividade na imprensa diária, foi eleito para a ABL em agosto de 2008, dentre 19 candidatos. Foi o 150º acadêmico ligado à imprensa, reforçando a posição do jornalismo como a profissão com mais representantes na história da casa.

E o primeiro a ter uma relação estreita com o universo da música. No discurso de posse da cadeira 23, que tem como patrono José de Alencar e foi ocupada antes por Jorge Amado e Zélia Gattai, descreveu a ABL como “lugar de congraçamento, de amor às letras, de dedicação à nacionalidade através da língua”.

Luiz Paulo Horta morreu em 3 de agosto de 2013, aos 69 anos, no Rio de Janeiro, vítima de infarto.

(Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura – CULTURA – 3 de agosto de 2013)

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