Foi o primeiro a denunciar o totalitarismo como a praga política do século 20

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Foi o primeiro a denunciar o totalitarismo como a praga política do século 20

Claude Lefort (Paris, 21 de março de 1924 – 3 de outubro de 2010), filósofo francês, pioneiro na denúncia dos totalitarismos.

Colaborador da revista Les Temps Modernes até entrar em choque com Sartre pelo compromisso deste último com os comunistas e cofundador, junto com Henri Lefebvre e Cornelius Castoriadis, do Socialismo ou Barbárie, desde jovem esteve próximo ao marxismo, influenciado por seu mestre Maurice Merleau-Ponty.

Lefort equilibrou em sua carreira a pesquisa e o ensino: foi professor no Liceu de Nîmes e depois no de Reims (1949-1951); foi professor da Universidade de São Paulo, no Brasil (1952- 1953); assistente na Sorbonne (1953-1955); diretor do departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade de Caen (1965- 1971); e diretor de estudos na École des Hautes Études et Sciences Sociales (1975- 1989).

Nascido em Paris em 1924, apesar de suas origens marxistas, envolveu-se, no final dos anos 40, na criação do grupo Socialismo ou Barbárie, que posteriormente lançou uma revista homônima, que surgiu na ruptura com o movimento trotskista.

Esse afastamento se tornou definitivo quando descobriu “O Arquipélago Gulag” de Alexandr Solzhenitsin, sobre o qual escreveu o artigo “Un homme un trop”.

Alguns dos campos de estudo de Lefort são a obra de Maquiavel e o humanismo florentino; a problemática da servidão voluntária e a imagem do corpo; o fenômeno da burocracia; o totalitarismo; a reelaboração da democracia moderna ou os caminhos abertos pela obra de Merleau-Ponty.

Por ocasião da publicação na Espanha de “O Enigma da Democracia”, em 2005, Fernando Sabater o descreveu em um artigo do suplemento Babelia do El País como um pensador antitotalitário.

“Foi o primeiro a denunciar o totalitarismo como a praga política do século XX, tanto na direita – o que era comumente aceito – como na esquerda, o que causava escândalo”.

Ele reconhece que a sua obra havia tido, até então, um reconhecimento injustamente escasso na língua e na bibliografia espanholas. “O parcial obscurecimento de Lefort se deve ao fato de ele ter cometido um dos pecados intelectuais mais difíceis de perdoar: teve razão antes que a maioria e contra a opinião da maioria”, concluía Sabater.

Em seu pensamento, o filósofo estabelece vínculos muito fortes entre o fenômeno totalitário e as carências da democracia. O Le Monde, em referência à sua obra “L invention démocratique: les limites de la domination totalitaire” [A invenção democrática: Os limites da dominação totalitária], afirma que, para ele, “a democracia, fruto da história, é uma sociedade “sem corpo”, onde reina uma radical indeterminação, em constante desequilíbrio e que exige de todos a invenção”. “A democracia não era “boa por natureza” e não garantia espontaneamente liberdade e justiça a todos os cidadãos”.

O próprio Lefort refletia no El País em dezembro de 2001 sobre as causas e as consequências da situação internacional após os atentados do 11 de setembro. “Pela envergadura de sua rede, pela importância dos meios de que dispõem, pelos capitais com os quais lidam, Bin Laden e os seus irão marcar o processo de globalização. Principalmente, se os norte-americanos e os europeus não são capazes de conceber uma política de longo prazo”, afirmava.

Sobre a resposta dos EUA após o ataque, acrescentava: “Estou em completo desacordo com as declarações estúpidas de certos esquerdistas que dizem que não se responde à violência com violência. É elementar que não havia outra resposta a não ser a violência”.

E expressava sua concordância com a opinião de Michael Walzer, especialista em filosofia política: “Uma guerra pode ser justa e ser conduzida de uma maneira injusta”.

Claude Lefort faleceu no dia 3 de outubro, aos 86 anos.

(Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/37459- NOTÍCIAS – INSTITUTO HUMANISTAS UNISINOS – 20 de outubro de 2010)
A reportagem é de Paula Chouza, publicada no jornal El País, 18-10-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

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