Flávio Costa, um dos personagens mais importantes do futebol brasileiro.

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O drama de 50

Costa: lembranças amargas

Flávio Costa (Carangola, 14 de setembro de 1906 – Rio de Janeiro, 22 de novembro de 1999), técnico, um dos personagens mais importantes do futebol brasileiro.

Apesar da carreira repleta de vitórias, ele guardava uma grande mágoa. Costumava reclamar que a torcida só o parava na rua para cobrar uma derrota – os dois gols do Uruguai contra o Brasil na final da Copa de 50, no Maracanã. Ex-jogador do Flamengo, Costa iniciou a carreira de treinador no próprio clube. À frente da equipe rubro-negra, conquistou o primeiro tricampeonato carioca do time (1942, 1943 e 1944). Mas foi no comando do Vasco da Gama que ele viveu sua fase mais brilhante. Costa formou um time com fama de imbatível, o lendário “Expresso da Vitória”, tricampeão do Rio (1947, 1949 e 1950) e vencedor do torneio sul-americano de 1948.

Fora dos campos, tornou-se um crítico arguto da precária estrutura do esporte. É sua a frase: “O futebol brasileiro só é profissional da boca do túnel para dentro de campo”. O drama de 1950, no entanto, acabou se transformando em estigma – para ele e toda a equipe. O goleiro Barbosa carregou a fama de azarão ao longo de toda a carreira. Vive atualmente com uma pensão minguada numa quitinete no litoral de São Paulo. Até hoje, o lateral esquerdo Bigode tem de responder se teria mesmo passado pela humilhação de levar um tapa no rosto do capitão uruguaio Obdulio Varela durante a partida. Não levou, mas poucos acreditam. Flávio Costa morreu dia 22 de novembro de 1999, no Rio de Janeiro, aos 93 anos, sucumbiu a um aneurisma abdominal.
(Fonte: veja.abril.com.br – Edição 1 626 – DATAS/LUPA – 1º/12/1999 – Pág; 174/175)

Flávio Costa: o mais poderoso de todos

Treinador é teimoso? É. Comete equívocos? Sim. É autoritário? Certamente. Mas nenhum técnico de seleção brasileira em Copa do Mundo terá sido tão teimoso, tão equivocado e tão autoritário quanto o Flávio Costa de 1950. Por temperamento e pelo que era o futebol antes de existir o Maracanã.

Os tempos realmente eram outros. E a um técnico de seleção – Flávio em especial – eram dados mais poderes do que os que treinadores jamais sonharam ter.

Flávio Costa era, de certo modo, uma espécie de dono do futebol brasileiro. Desde que assumiu o comando da seleção, num amistoso com o Uruguai, em 1944, mandou tanto quanto o mais importante dirigente do Flamengo, seu clube de origem, ou da própria CBD, a entidade que antecedeu a atual CBF.

Sargento do Exército por pouco tempo e centro-médio sem talento (usava mais o corpo que a técnica, ganhando por seus carrinhos de pernas cruzadas o apelido de “Alicate”), firmou-se como técnico depois de aprender com o húngaro Dori Kruschner os segredos do WM. Na seleção brasileira, seria um faz-tudo, jamais dividindo tarefas: convocava, escalava, definia táticas, dirigia os exercícios físicos, impunha os horários aos jogadores, dava uma de psicólogo, decidia o que eles iam comer e beber, jamais aceitando argumentação em contrário.Uma briga com Heleno

Ninguém se atrevia a enfrentá-lo (a exceção foi Heleno de Freitas, em briga feia quando os dois serviam ao Vasco). Se preciso, fazia uso da força física, como na decisão do Campeonato Carioca de 1950, quando Ipojucan, perdendo um gol feito, no final do primeiro tempo, teve um ataque de nervos e não quis voltar para o segundo. Flávio, aos safanões, demoveu-o da ideia.

Teimoso era, como todo técnico. Barrou o genial Ademir pelo correto Otávio, em todo o Sul-Americano de 1949, e quase paga caro por isso: com Otávio, o Brasil perdeu para o Paraguai o último jogo, quando o empate lhe bastava. No jogo de extra para decidir, Ademir entrou, marcou três gols e o Brasil goleou.

Erros? Vários. O mais gritante foi, em plena Copa de 1950, escalar uma seleção mais paulista para agradar ao público que foi ao Pacaembu. Resultado: empate com a modesta Suíça.

O autoritarismo era, de fato, muito por temperamento, muito porque o futebol brasileiro de então permitia (segundo ele próprio, um futebol que “só evoluía da boca do túnel para dentro do campo”). Usava autoridade para o mal ou para o bem. Para o mal, ao ordenar que todo o time do Flamengo sentasse em campo, diante do Botafogo, em protesto contra uma decisão do árbitro. Para o bem, quando desafiou decisão de cúpula da CBD de banir Zizinho, para sempre, da seleção brasileira. Flávio Costa mandou a cúpula às favas e devolveu ao Brasil o excepcional futebol de Zizinho.

As semelhanças entre Flávio e outros treinadores não são tantas, apesar da teimosia e dos erros. Quanto ao autoritarismo, os tempos são mesmo outros. Flávio, há 60 anos, podia tudo. Outros, hoje, pode bem menos.

(Fonte: http://oglobo.globo.com/esportes/flavio-costa-mais-poderoso-de-todos)

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