Flannery O’Connor, autora de contos perturbadores, que queria levar seu leitor ao caminho da fé

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UMA SENHORA DE CLASSE

 

Flannery O’Connor (Savannah, Geórgia, 25 de março de 1925 – Milledgeville, Geórgia, 3 de agosto de 1964), escritora americana de contos perturbadores, que queria levar seu leitor ao caminho da fé.

 

Uma das mais originais escritoras americanas do século XX. Morta prematuramente, mesmo assim deixou contos e romances comparáveis, em qualidade, aos de Ernest Hemingway (1899-1961) e William Faulkner (1897-1962).

 

Sua obra é uma esquisita tentativa de converter o leitor ao caminho da luz. Existe uma grande distância entre as intenções declaradas da autora e a literatura que ela de fato praticava.

 

Flannery é, ao lado do mais conhecido William Faulkner, uma das grandes vozes literárias do sul dos Estados Unidos – todos os contos de “É Difícil Encontrar um Homem Bom” têm lugar na Georgia, Estado natal da autora.

 

Descendente de irlandeses, ela pertencia à minoria católica, mas retratou com vivacidade o protestantismo sulista em suas mais fanáticas variações. Sofria de lúpus eritematoso, moléstia crônica que a conduziu a uma vida retirada em uma propriedade rural.

 

Flannery recorria à violência de forma tendenciosa. Seu objetivo último seria conduzir o leitor, pelo choque, de volta à fé tradicional. Não existe redenção possível para tanta violência.

 

Morreu com 39 anos, deixando duas coletâneas de contos, dois romances – um deles, “Sangue Sábio”, e alguns textos esparsos sobre literatura e religião. Em “Sangue Sábio”, foi o primeiro livro da autora, onde conta a história de Hazel Motes, um homem que se rebela contra a obsessão religiosa de sua família, idealizando uma espécie de seita anticristã.

 

Flannery era católica diligente. Mas essa religiosidade se traduzia de maneira perturbadora em seus escritos, frequentemente brutais e atravessados por um humor rascante. Como disse o crítico Harold Bloom, seu objetivo era “utilizar a violência como meio de chocar o leitor, despertando-o para a necessidade da fé”. É útil ter em mente esse viés religioso – embora ela não seja uma escritora que caiba em uma só moldura.

 

O humor cáustico da autora lança uma luz crua sobre seus personagens miseráveis, carregando no grotesco. Nesse elenco de aleijões morais, destacam-se as velhas damas do sul, tolas, orgulhosas e furiosamente racistas – a começar pela protagonista do conto-título, uma senhora egoísta que acaba colocando a própria família nas mãos de um assassino foragido.

 

O ambiente religioso é sufocante, mas os personagens só invocam Deus para justificar os interesses mais mesquinhos.

 

Em O Deslocado de Guerra, um refugiado polonês encontra trabalho em uma fazenda e ameaça o emprego do capataz negligente. A mulher do capataz, protestante aguerrida, só consegue ver o exilado católico como uma espécie de encarnação do demônio.

(Fonte: Veja, 8 de janeiro de 2003 – Ano 36 – Nº 1 – Edição 1784 – LIVROS/ Por Jerônimo Teixeira – Pág: 100)

(Fonte: Veja, 19 de junho de 2002 – ANO 35 – Nº 24 – Edição 1756 – Veja Recomenda/ Por Sérgio Martins – Pág: 132/133)

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