Eulália Maria Lahmeyer, a primeira mulher a defender uma tese de doutorado em História no Brasil, segundo o verbete com seu nome no “Dicionário mulheres do Brasil”

0
Powered by Rock Convert

Historiadora foi chave no desenvolvimento da ciência do Brasil

 

Eulália Maria Lahmeyer (Botafogo, Rio de Janeiro, 17 de julho de 1924 – Rio de Janeiro, 1º de junho de 2011), historiadora, foi a primeira mulher a defender uma tese de doutorado em História no Brasil, segundo o verbete com seu nome no “Dicionário mulheres do Brasil”.

A historiadora defendeu a primeira tese de doutorado em história no Brasil e alçou o cargo de Professora Titular de História das Américas, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, em 1967.

Presa durante a ditadura militar, levada ao gabinete do Comandante, constrangeu-lhe dizendo: “O Exército que combateu a caça aos escravos, que proclamou a República, vem agora prender os cidadãos que não estão armados… não estão alterando a ordem pública. O Exército, que tem tantas tradições gloriosas, está reduzido a isso?”. Na prisão iniciou seus escritos sobre a história da América Latina. Com a anistia, foi reintegrada na UFRJ.

– Professora Emérita da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), havia se graduado em história e geografia na década de 1940 e da UFF (Universidade Federal Fluminense), sua trajetória é emblemática para a comunidade brasileira de historiadores, foi uma das responsáveis pela formulação do curso de pós-graduação em História Urbana.

Resultantes de suas pesquisas, publicou mais de cem títulos entre livros, artigos e monografias em revistas especializadas no Brasil e na Argentina, Peru, Costa Rica, Estados Unidos, Portugal, França e Alemanha.

Eulália Maria Lahmeyer nasceu no Rio de Janeiro, no dia 17 de julho de 1924, filha de Antônio Dias Leite e Georgette Furquim Lahmeyer Leite. Pelo lado materno descende de família tradicional cafeeira, os Teixeira Leite de Vassouras, e pelo paterno de imigrantes portugueses. Foi alfabetizada e iniciada nos estudos em casa, pela inteligente professora  Nair Lopes. Fez o curso ginasial no Colégio Jacobina de onde, terminado o quinto ano, ingressou direto no curso de História e Geografia da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil.

Era 1941, e pouco antes, em 1939, a Universidade do Distrito Federal havia sido incorporada à Universidade do Brasil e criada a Faculdade Nacional de Filosofia. Nessa fase de transição os candidatos foram liberados de realizar os dois anos de curso complementar  após o ginásio e puderam fazer exame direto para Universidade. Casou-se com Bruno Lobo, com quem teve dois filhos.

Bacharel e licenciada em História, Eulália completou sua formação nos Estados Unidos nas Universidades de Columbia e North Carolina. Era aluna brilhante e ao voltar foi na Universidade do Brasil que iniciou sua carreira do magistério, paralelamente à de professora de História do Colégio Pedro II.

Mediante defesa da tese de doutoramento “Administração colonial luso-espanhola nas Américas, orientada pelo professor Silvio Júlio, obteve o grau de doutor. Esta foi a primeira tese de doutorado em História defendida por uma mulher no Brasil. No concurso de títulos e provas com a tese “Caminho de Chiquitos às Missões Guaranis, obteve a docência livre. Após alguns anos como auxiliar de ensino, professora regente e professora catedrática interina, conquistou, em concurso público, o cargo de Professora Titular de História das Américas, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, em 1967, com a importante tese “Aspectos da atuação dos consulados de Sevilha, Cádiz e da América Hispânica na evolução econômica do século XVIII.

A carreira de Eulália como professora e pesquisadora é de grande sucesso. Foi professora visitante em universidades estrangeiras, nos Estados Unidos e na França. Em 1968 foi atingida pelo AI-5 e aposentada compulsoriamente da universidade e em 1969 foi presa por uma semana, durante a visita de Rockefeller ao Brasil, numa “operação gaiola” para evitar manifestações. “A narrativa de Eulália sobre sua prisão é deliciosa. Chegaram à sua casa, de madrugada, três pessoas armadas.

Vinham prendê-la, mas não sabiam quem era ela. E ela lhes disse: Não digo quem sou enquanto vocês não me disserem quem são! Vocês estão uniformizados mas podem ter assaltado um quartel e roubado as fardas… Quero saber quem são vocês!”. Eulália ligou para seu cunhado, que era almirante, na época cogitado para ministro, e os homens acabaram se identificando: eram da 8ª Artilharia da Costa no Leblon. Eulália os acompanhou.

Foi levada ao gabinete do comandante, que se mostrava muito constrangido. Eulália lhe disse: “O Exército que combateu a caça aos escravos, que proclamou a República, vem agora prender os cidadãos que não estão armados… não estão alterando a ordem pública. O Exército, que tem tantas tradições gloriosas, está reduzido a isso?”.O comandante, desesperado, dizia: “Não somos policiais”. E a ordem se inverteu: comandante se defendendo e Eulália atacando. Mesmo assim, ficou presa, apesar de não haver acusação formal.

Diariamente ela perguntava ao comandante: “Qual é a acusação contra mim?”. Ele não tinha o que responder e dizia: “Você teve muita sorte, porque se morasse mais perto do Humaitá teria tido um destino terrível, pois teria ido para uma unidade muito pior”. Foi na prisão que, vencendo seus medos, Eulália começou a escrever sua história sobre a América Latina. Depois de solta, permaneceu por doze anos indo aos Estados Unidos para lecionar. Ia e voltava, continuando suas pesquisas no Brasil. Mais uma vez foi pioneira! Conseguiu um auxílio da Ford Foudation, que até então só concedia verba de pesquisas com filiação institucional.” (relato de Ismênia Lima Martins em homenagem à Professora Eulália).

Depois que foi expulsa do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ, Eulália conseguiu uma bolsa da Ford Foundation e do Social Science Research Council para fazer uma pesquisa sobre o Rio de Janeiro e foi trabalhar com a pesquisadora Maria Bárbara Levy no IBMEC. No final da década de 1970, Eulália ingressou na UFF, para lecionar na Pós-Graduação em História. Não tinha sido ainda anistiada. Reintegrada à UFRJ, após a Anistia, permaneceu na UFF, onde coordenou, o primeiro Projeto Finep na área de História.

Entre as características de Eulália estão uma enorme paciência com os estudantes e jovens professores e uma grande alegria de viver. São famosas suas  esticadas depois dos congressos, e sua competência para degustar os bons vinhos, sua agilidade para dançar os ritmos nordestinos no Forró Forrado, o que deixou maravilhado Eric Hobsbawm que, naquela oportunidade, a fotografou inúmeras vezes… E a sua alegria cantando a Internacional em um restaurante em Laranjeiras (Lima, 2004).

Professora Emérita da UFRJ e da UFF, sua trajetória é emblemática para a comunidade brasileira de historiadores. Resultantes de suas pesquisas publicou, mais de cem títulos sob a forma de livros, artigos e monografias em revistas especializadas no Brasil e na Argentina, Peru, Costa Rica, Estados Unidos, Portugal, França e Alemanha.

Faleceu no Rio de Janeiro, em 1° de junho de 2011.

(Fonte: http://zip.net)

(Fonte: http://protec.org.br/senai – SENAI / NOTÍCIAS / Mulheres foram chave no desenvolvimento da ciência do Brasil – 08/03/2019)

(Fonte: http://www.cnpq.br/web/guest/pioneiras – Portal CNPq – Geral – Programas – Mulher e Ciência – Eventos – Pioneiras)

Fontes: Entrevista com Eulália Maria Lahmeyer Lobo, em Estudos Históricos, – América, Rio de Janeiro, Associação de Pesquisa e Documentação Histórica (APDOC), vol.5, nº 9, 1992. Lima, Ismênia Martins de, Conferência em Homenagem a Eulália Lobo pronunciada no dia 15 de abril de 2004 no campus da UERJ no lançamento do número 10 da Revista do Rio de Janeiro,

(Fonte:  www.ipp-uerj.net/forumrio/conferencia em homenagem a Eulália Lobo, acessado em 13 de janeiro de 2006. Revista de História (Fundação Biblioteca Nacional),

(Fonte:  www.revistahistória.com.br, em 02 de março de 2013. Elaborado por Hildete Pereira de Melo e Ligia M.C.S.Rodrigues.

Powered by Rock Convert
Share.