Dom Jaime de Barros Câmara, cardeal nomeado em 1946, quarto arcebispo do Rio de Janeiro.

0
Powered by Rock Convert

D. JAIME Câmara (1894-1971)

OU A TRANSFORMAÇÃO DA IGREJA POR AMOR À DISCIPLINA

Dom Jaime de Barros Câmara (São José, 3 de julho de 1894 – Aparecida, 18 de fevereiro de 1971), cardeal nomeado desde 18 de fevereiro de 1946, quarto arcebispo do Rio de Janeiro.
Dom Jaime de Barros Câmara foi consagrado a Nossa Senhora desde os catorze anos e após serviu à Igreja Católica durante meio século.

A coerência de sua vida confirma seu amor a transformação da igreja e o amor à disciplina: fiel soldado do catolicismo, colocou-se sempre sob as ordens do papa e até o fim cumpriu seu dever de pastor. Em nome da disciplina, viveu para obedecer às determinações do Vaticano, mesmo as que mais fundo contrariavam sua formação tradicionalista. E a história de sua vida retrata a história da evolução da Igreja Católica.

A disciplina essencial – Pouco antes de viajar para Aparecida do Norte, o cardeal Dom Jaime Câmara procurou seus colegas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, pedindo-lhes assinatura em um abaixo-assinado. Objetivo: defender o sacramento da confissão, aparentemente abalado pela decisão de Paulo VI de abolir a confissão auricular dos pequenos pecados. Nesse ato de aparente indisciplina, a fidelidade maior do cardeal, mais preocupado com a tradição da Igreja do que com as inovações de Roma. Mas, se Paulo VI insistisse na mudança, Dom Jaime acabaria sendo o mais firma defensor dos novos métodos. Já acontecera anteriormente, como quando propôs ainda na mesma assembleia da CNBB a abolição da pompa nos congressos eucarísticos, a ser substituída por mais espiritualidade – com prejuízo do turismo. Exatamente o contrário do eztremamente pomposo congresso internacional organizado pelo cardeal-arcebispo Jaime Câmara no Rio de Janeiro, em 1955.

Os tempos mudaram, e o que antes do Concílio Vaticano II, iniciado em 1962, parecia importante (como as missas em latim) foi abandonado. A pregação deixou os púlpitos – e frequentemente se apoiou em teses de justiça social, defendidas comargumentos muitas vezes vistos como fronteiriços da subversão. O cardeal, que em 1961 criticava as tentativas de reatamento de relações brasileiras com países comunistas, em 1968 comentava pelo rádio, em seu programa “A Voz do Pastor”, a determinação de Paulo VI sobre o diálogo com os não-crentes, inclusive marxistas: “É de se esperar que esse documento venha, se for acatado não pelos cristãos mas mesmo pelos não-crentes, trazer maior paz e tranquilidade ao mundo confuso em que vivemos”. Em outra ocasião disse: “Ao próprio Senhor Jesus também acoimaram de subversivo”.

A última obediência – O tempo é muito curto para quem tem 75 anos e já sofreu quatro enfartes. Como é curto para uma Igreja que manteve sua liturgia durante setecentos anos. É preciso correr. Por isso, as mudanças do catolicismo se atropelam. E os últimos dias de Dom Jaime são marcados por atividade intensa, onde as emoções se sucederam muito rapidamente.

Na quente manhã do dia 16 de fevereiro, dois dias antes de morrer, os bispos o homenagearam com palmas e abraços, pelo seu aniversário de cardinalato. Emocionado, teve dores no peito. Um médico de Belo Horizonte o socorreu, recomendando repouso. Mas Dom Jaime queria rezar missa em Aparecida do Norte, com o octogenário Vasconcelos Motta, como ele cardeal desde 18 de fevereiro de 1946. E lá, antes de morrer, modificou parcialmente seu testamento. Sabia que não ficaria muito tempo mais arcebispo do Rio de Janeiro: sempre disciplinado, esperava que Paulo VI determinasse seu afastamento. Por isso escreveu no alto da página: “Testamento definitivo do cardeal Jaime de Barros Câmara, ainda arcebispo do Rio de Janeiro”. Foi o seu último gesto de obediência. Da Igreja de seu tempo e de seu estilo restam poucos líderes no clero brasileiro. Para o arcebispado do Rio de Janeiro é provável que o Vaticano indique um bispo mais jovem, formado em uma diferente escola de disciplina. Como Dom Aloísio Lorscheider, atual presidente da CNBB e de quem se fala desde o dia em que Dom Jaime de Barros Câmara fez 75 anos e entregou o cargo ao papa – que não o aceitou. Foi primeiro a ser sepultado na cripta da Catedral Nova da avenida Chile, no Rio de Janeiro, cuja pedra fundamental ele abençoou. Dom Jaime faleceu dia 18 de fevereiro de 1971, aos 76 anos, de um edema pulmonar agudo, no Palácio Episcopal de Aparecida do Norte, São Paulo.

(Fonte: Veja, 24 de fevereiro de 1971 – Edição n° 129 – DATAS – Pág; 54)
(Fonte: Veja, 24 de fevereiro de 1971 – Edição n° 129 – Religião – Pág; 48 a 51)

Powered by Rock Convert
Share.