De Kooning, o maior pintor americano, o mais valorizado pintor contemporâneo do planeta

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Mestre dos borrões

De Kooning, o maior pintor americano, o mais valorizado pintor contemporâneo do planeta.

Willem de Kooning (Foto: news.artnet.com)

Willem de Kooning chegou a ser saudado como o principal nome de um estilo conhecido como expressionismo abstrato (Foto: news.artnet.com)

O trono de maior e mais caro pintor dos Estados Unidos

Papa do expressionismo abstrato, Willem de Kooning (Roterdã, Holanda, 24 de abril de 1904 – Long Island, Nova York, 19 de março de 1997), famoso pintor nascido na Holanda e naturalizado americano. Autor de uma obra explosiva, em que borrões de tinta se constelam na forma de mulheres ferozes e paisagens devastadas, De Kooning pintou suas melhores telas, entre os anos 40 e 50, como as da série Mulheres, chegando a bater na casa dos 20 milhões de dólares, fazendo dele o mais valorizado pintor contemporâneo do planeta.

De Kooning o criador vulcânico que ao final dos anos 40, junto de Jackson Pollock (1912-1956), Arshile Gorky (1905-1948) e Mark Rothko (1903-1970), revolucionaria a pintura americana, fundando a vanguarda expressionista abstrata. Com seus borrões e respingos de tinta atirados contra a tela, Pollock, o maior de todos, secundado por De Kooning e companhia, deslocou de Paris para Nova York a capital mundial das artes.

Para tanto, contaram com o apoio decisivo de um afiado trio de críticos – Clement Greenberg, Harold Rosenberg e Leo Steiberg – que trataram de celebrar a obra dos então novatos nas galerias de Manhattan. Diversamente dos expressionistas europeus, que no começo do século 20 converteram sua arte numa forma de panfletagem político-social, a vanguarda expressionista ianque tratou de banir a política de seus quadros, preferindo exprimir as misérias da condição humana nos limites da existência individual.

Creme dental – Nos anos 20 e 30, antes de atacar suas telas, o jovem De Kooning, que abandonou a Holanda aos 22 anos a bordo de um cargueiro, começou ganhando a vida como carpinteiro e pintor de paredes, faturando 9 dólares por dia com esse trabalho. Da cultura europeia, De Kooning herdaria o apreço pela arte figurativa, tornando-se um admirador da obra de seu conterrâneo Rembrandt e do francês Cézanne. Ao contrário de seus colegas de vanguarda, que aboliram a representação figurativa de seus quadros, De Kooning fez das figuras – principalmente a feminina – a marca da diferença em seu trabalho. “Minha obra vive de incluir as coisas, não de excluí-las”, costumava afirmar. Sua obra-prima Mulher I é uma deusa debochadamente cruel, de dentes arreganhados e corpo disforme. A partir de um recorte de anúncio de creme dental, que trazia uma modelo sorridente, De Kooning partiria para um asssombroso exercício pictórico, conferindo à mulher um aspecto monstruoso.

Pode-se entender esse quadro, e de certa forma toda a sua série de figuras femininas, como um cruzamento da influência sedutora e brutal que duas mulheres – sua mãe, Cornelia Nobel, e sua mulher, a dublê de aspirante a pintora e modelo Elaine Fried – tiveram sobre o pintor, um sujeito frágil, devastado pelo álcool e pelas anfetaminas. Composta a partir de um turbilhão de pinceladas espessas, Mulher I parece ser uma daquelas pinturas feitas de único jorro criativo por um artista furioso. Mas o quadro consumiu nada menos do que um ano e meio de trabalho de De Kooning, que a vida inteira sofreria para conseguir pôr um ponto final em suas obras. Mesmo nos anos 60, qunado já gozava de fama, fortuna e prestígio, De Kooning ainda se dilacerava com o acabamento de suas telas: “Quando estou para terminar um quadro, sofro um bocado.

Agora isso está melhorando. Eu simplesmente paro de pintar”, disse então. Outra de suas telas memoráveis é Escavação, uma paisagem pontuada por tons de amarelo que reúne destroços anatômicos e fomas que evocam a sucata dos canteiros de obras. O quadro, de 1950, é uma crônica corrosiva do frenesi construtivo que tomou conta de Manhattan depois da II Guerra Mundial.

Nos anos 70, a obra do artista sofreria uma visível inflexão, perdendo em radicalidade expressionista, para abordar espaços mais amplos e cores luminosas, retratando paisagens líricas de sua bucólica vizinhança em Long Island. Esse De Kooning maduro não guarda nenhuma relação com o pintor decrépito e marcado pelo mal de Alzheimer, que continuou a produzir até 1990.

Marcado pelo alcoolismo, De Kooning era uma criatura depressiva, que nos últimos trinta anos viveu praticamente sozinho. No começo da carreira, padecendo de terríveis crises de ansiedade, seguiu o conselho de um amigo médico que lhe sugeria uma dose matinal de brandy. “Funcionou. Os ataques de ansiedade pararam, mas eu me tornei um beberrão”, disse certa vez. Nos anos 60, o alcoolismo chegaria ao ponto de interromper sua produção. Em 1978, convencido por Elaine, de quem já estava separado, o pintor começou a frequentar os Alcoolatras Anônimos.

Parou de beber, mas seu sistema nervoso já havia sido seriamente afetado. Os sintomas de Alzheimer começaram a se manifestar em 1987, quando o pintor passava longas horas olhando para o vazio e já demonstrava dificuldade em articular uma conversa. A morte de Elaine, dois anos depois, o jogaria numa séria crise depressiva. Desde 1989 sua fortuna é administrada por Lisa, a filha que teve com a namorada Joan Ward. Interesseira, Lisa, uma escultora medíocre, reclamou para si uma mesada de 25 000 dólares para cuidar do pai. Num de seus momentos de lucidez, De Kooning ironizou a filha: “Com esse dinheirinho entrando todo mês, ela terá uma vida bem mais fácil que a minha.

As pinturas do final de sua vida, que compõem uma mostra em cartaz até o final de abril de 1997 no MoMA, em Nova York, foi arremedo patético da obra do pintor. Nelas, a fúria e os gestos certeiros do artista cedem lugar a linhas balofas de tons praticamente chapados.

Crise depressiva – Ironicamente, a exposição serve como um testemunho da evolução da doença do pintor. Se lúcido se revelava um criador lento e atormentado pela dúvida, o De Kooning senil transformou-se numa usina de criação, produzindo às vezes mais de uma tela por semana. Boa parte da paleta desses quadros, enjoativamente coloridos, não é obra de De Kooning, mas de uma dupla de assistentes, que misturavam a tinta para o mestre decrépito. Em 1983, pouco antes de a doença se manifestar, o pintor reivindicaria o direito de continuar produzindo na velhice: “Mesmo aos 90 anos, sofrendo de artrite, Ticiano continuou a pintar suas virgens. Se ue parar, vão acabar me enjaulando”. A melhor exposição de De Kooning foi realizada em 1994 pela National Gallery, de Washington. A mostra tinha um caráter póstumo, apesar de o artista estar vivo na época.

O trono de maior e mais caro pintor dos Estados Unidos está vazio – e desta vez será difícil encontrar alguém à altura de Willem De Kooning. De Kooning morreu dia 19 de março de 1997, vítima do mal de Alzheimer em sua casa-ateliê em Long Island, perto de Nova York. Tinha 92 anos e ali viveu entrevado na última década,, assistido por uma equipe de enfermeiros e por sua única filha, Lisa, de 40 anos. Lisa agora herda uma fortuna de pelo menos 7 milhões de dólares.

(Fonte: Veja, 26 de março de 1997 -– ANO 30 -– N° 12 – Edição 1 488 – Memória/ Por Angela Pimenta –- Pág; 140/141)
(Fonte: http://revistacult.uol.com.br/home/2011/11/pavimento-de-kooning/ – Edição n° 163)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(Fonte: Veja, 25 de maio de 1994 -– ANO 27 -– N° 21 – Edição 1 341 – ARTE/ Por Flavia Sekles, de Washington –- Pág: 102/104)

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