David Zylbersztajn, foi o primeiro diretor da Agência Nacional de Petróleo

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O petróleo é um inimigo a ser abatido. O carro elétrico já é uma realidade.”
David Zylbersztajn

 

 

David Zylbersztajn, engenheiro mecânico carioca, ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP), que regula o mercado de petróleo no país, ex-secretário de Energia durante o primeiro mandato (janeiro de 1995 – janeiro de 1998) do governador Mário Covas, quando comandou o plano de reestruturação e privatização de inúmeras empresas energéticas paulistas.

 

Em janeiro de 1998 foi nomeado o primeiro diretor-geral da recém-criada Agência Nacional do Petróleo (ANP), e reconduzido ao cargo novamente em janeiro de 2000.

 

Liderou a quebra do monopólio da Petrobras na exploração do petróleo no Brasil, realizando o primeiro leilão de áreas de exploração aberto à iniciativa privada, nos dias 15 e 16 de junho de 1999.

 

Pôs ordem nas empresas paulistas de energia e privatizou uma delas, a CPFL, por 3 bilhões de reais.

 

Formado em engenharia pela PUC do Rio de Janeiro e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

 

 

Renúncia da ANP

 

 

Zylbersztajn é ex-genro de Fernando Henrique Cardoso, casado desde 1989 com Ana Beatriz Cardoso, filha do presidente.

 

 

Sua separação da esposa Ana Beatriz Cardoso, filha do então presidente Fernando Henrique Cardoso, em maio de 2001, antecipou sua saída da chefia da ANP. Embora seu mandato lhe garantisse a permanência no cargo até o final de 2005, sua separação causou uma saia-justa no governo, e o próprio David Zylbersztajn renunciou em setembro de 2001.

 

 

Em 2002 fundou a empresa DZ Negócios com Energia, especializada em assessorar investidores interessados na indústria brasileira de petróleo, eletricidade e gás natural.

 

 

 

Em maio de 2005 foi eleito presidente do conselho de administração da Varig, para comandar o processo de recuperação judicial da empresa aérea. Saiu em novembro de 2006 por divergências com a Fundação controladora da empresa.

(Fonte: Revista Veja, 14 de janeiro de 1998 – ANO 30 – Nº 50 – Edição 1529 – Energia / Por Leonel Rocha, de Brasília – Pág: 26)

 

 

 

 

 

O carioca David Zylbersztajn é um dos principais consultores do país na área de energia. Doutor em economia energética pelo Institut d’Economie et de Politique de L’Énergie, na França, foi o primeiro diretor da Agência Nacional de Petróleo, criada em 1998, e desde sempre um entusiasta da abertura da exploração petrolífera no Brasil para a iniciativa privada. Hoje, ele lamenta as oportunidades perdidas pelo país e pelo Rio de Janeiro nessa área, em razão de políticas públicas que considera equivocadas, e não acredita na possibilidade de revertê-las tendo em vista que a era do “ouro negro” está ficando para trás.

 

Em agosto de 2017, Zylbersztajn foi um dos palestrantes do seminário Reage, Rio!, promovido pela Infoglobo, que reuniu empresários, políticos e representantes da sociedade civil para discutir alternativas de tirar da crise um estado que amarga as piores taxas de crescimento econômico do Brasil. Nesta entrevista, ele fala da dependência que o dinheiro do petróleo provocou no Rio de Janeiro e do iminente fim dessa receita diante do processo de renovação energética que o mundo experimenta. David defende que o grande patrimônio do estado não é o petróleo, e sim as pessoas, e é preciso aproveitar esse potencial antes que ele vá embora.

 

David Zylbersztajn: “A janela para o pré-sal fechou”

Para o ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, o Rio de Janeiro precisa investir na transição para uma economia baseada em pessoas e criatividade

 

ÉPOCA – A exploração do petróleo, e especialmente do pré-sal, pode ajudar a tirar o Rio de Janeiro da crise?
David Zylbersztajn –
 Contar com isso como sendo a salvação é reiterar o erro. Quando o petróleo estava efetivamente caro e com a produção elevada, o estado não se preparou para o momento em que essa situação se revertesse. Agora o preço não sobe mais, e a tendência é que o eixo de produção se encaminhe mais para a Bacia de Santos, na região de São Paulo, onde existem grandes reservas. O Rio de Janeiro tem de pensar na era pós-petróleo, apesar de ainda ter petróleo.

 

 

ÉPOCA – Qual foi o erro cometido?
Zylbersztajn –
 O principal deles foi achar que aquela mesada não iria terminar nunca, receber o dinheiro sem esforço e sem nenhuma política pública associada. Em vez de aproveitarmos a benesse que a natureza deu para o estado do Rio de Janeiro, não fizemos nada para transformar uma coisa que é finita em algo que pudesse ser reprodutivo, associado às vocações da região, conectado com o mundo novo que a gente está vivendo. E o governo cometeu uma série de equívocos, estimulando indústrias que não se justificam mais hoje, como as do setor automobilístico. Ninguém pensou, por exemplo, em usar esse dinheiro para despoluir a Baía de Guanabara. Ou uma parte dele para valorizar o professor e a educação básica. São exemplos de coisas que teriam impactos permanentes para as gerações futuras. A Baía de Guanabara despoluída é uma fonte de riquezas absurda. E educação não precisa nem falar. Então o dinheiro caiu do céu e foi mal aplicado. Criou-se uma dependência equivocada, em vez de transformar essa fonte finita e suja que é o petróleo em algo perene e limpo. Não se pensou em atividades não poluidoras, atividades ligadas à inovação, ao designer, à tecnologia e ao turismo. E agora a mesada está acabando.

 

 

 

ÉPOCA – Por que você diz que a mesada está acabando?
Zylbersztajn –
 Porque o petróleo pode até crescer em produção, mas em valor não vai crescer mais. Ele não vai ter no futuro a mesma importância que teve no passado. Acho que a era do petróleo vai acabar antes do petróleo acabar fisicamente. Hoje, eu diria que ele é um inimigo a ser abatido. Claro que ainda é essencial, não é possível mudar da noite para o dia, mas existe uma transição energética em curso, e no futuro, onde o petróleo puder ser substituído, ele será. Falo do petróleo e de seus derivados. O carro elétrico já é uma realidade. Daqui a dez anos não haverá mais automóveis com combustão interna na Holanda, na Inglaterra, na França e mesmo na China. Hoje, todos os táxis no aeroporto de Amsterdã são elétricos. Na Califórnia, há grandes caminhões e mesmo navios de cabotagem que só aportam se forem movidos a gás natural. Então, o mundo está mudando e nós estamos ficando para trás.

 

 

 

ÉPOCA – Não é possível apostar nas reservas pré-sal?
Zylbersztajn –
 Especialmente no Rio de Janeiro não se pode apostar nisso. O petróleo vai ter uma vida mais curta do que se imaginava. Existe, hoje, uma pressão internacional muito forte para transferir o consumo de petróleo para gás natural. E, no futuro, de gás natural para outras fontes menos poluentes, como a energia solar ou a biomassa. Então esse negócio de ouro negro hoje é uma bobagem sem tamanho. Isso no tempo do Getúlio Vargas fazia sentido, atualmente não. O Rio de Janeiro teve uma sucessão de governos sem percepção para o futuro promissor que a receita extraordinária do petróleo poderia proporcionar. Faltou uma visão de estadista. Hoje, o governo do estado não consegue fechar as contas, porque não conseguiu desenvolver uma economia que gerasse receita. As atividades produtivas que estão aí não são suficientes, mas aquelas que você poderia ter estimulado seriam. Então estamos pagando caro pelos erros do passado. O petróleo tem 40 anos no estado do Rio de Janeiro, e, se tivéssemos desde então investido em educação ou setores mais inovadores, estaríamos em outro patamar.

 

 

ÉPOCA – O Rio de Janeiro foi vítima da chamada “maldição do petróleo”?
Zylbersztajn –
 Acho que sim. Perceba que com raríssimas exceções, talvez da Noruega, por exemplo, não existem países produtores de petróleo que tenham uma produção científica relevante ou uma produção cultural relevante. E pior, em geral são autocracias, não são regimes democráticos. Você pode ver o que acontece com países do Oriente Médio, com a Venezuela ou o próprio Equador, que foi membro da Opep e hoje é um país quase quebrado, não tem sequer uma moeda própria. Então ter petróleo é uma ilusão. Na verdade, a adversidade de não ter petróleo criou competências enormes nos países que não têm essa fonte e investiram em tecnologia, saíram de sua zona de conforto. Veja Israel, que é o segundo país do mundo em registro de patentes, e não tem petróleo. O Japão e a Alemanha que também não têm. Pelo contrário, eles compram petróleo, transformam essa matéria-prima e revendem produtos a um preço muito maior para quem produziu o petróleo. Então acredito que em boa parte fomos vítimas dessa maldição.

 

 

 

ÉPOCA – Como é possível se livrar dela?
Zylbersztajn –
 Acho que essa janela fechou. A oportunidade se perdeu. Não ter utilizado adequadamente o dinheiro causou um prejuízo histórico, que na minha opinião nem o pré-sal pode resolver. Dez anos atrás, o petróleo valia uma fortuna, não havia crise mundial, não havia o Iraque e o Irã voltando a produzir, como estão agora. Todos os fatores eram favoráveis ao Brasil, e não teremos mais uma convergência tão forte como havia naquela época.

 

 

 

ÉPOCA – Então não existe alternativa?
Zylbersztajn –
 No caso do Rio de Janeiro, a primeira coisa seria ter um projeto. A maioria das pessoas faz um projeto de vida, um projeto para a família, para os filhos etc. Pode dar certo, pode dar errado, ser mais ou menos ousado, mas existe um projeto. O Rio de Janeiro não tem. E a culpa é nossa, porque fomos nós que colocamos os governantes que estão no poder. Então acredito que a saída mais imediata é a eleição de 2018. É preciso que surja uma liderança capaz de apresentar um projeto de desenvolvimento para o estado, indicar o tipo de investimento que pretendemos atrair e sinalizar os estímulos que serão dados em determinados setores para que isso aconteça. Isso é o básico que você pode esperar de um governo, e não temos. O governo do estado fica hoje como barata tonta tentando arrumar dinheiro para pagar salários e não tem qualquer projeto de futuro.

 

 

 

ÉPOCA – Para que lado poderia ser esse projeto de desenvolvimento?
Zylbersztajn –
 Existem exemplos lá fora que podem ser seguidos. Há 20 anos, a cidade de Miami, nos Estados Unidos, era considerada aquele lugar de novos-ricos, aquela coisa cafona. Hoje, você visita a cidade e percebe que ela soube se reinventar. É uma cidade que investiu muito em cultura, design, inovação, turismo e também em gastronomia. Perdeu o ranço de cidade subdesenvolvida dentro dos Estados Unidos. É hoje um dos lugares que mais crescem no país. Essa reinvenção foi muito em cima de coisas que o Rio de Janeiro tem em potencial, como a área da cultura e da inovação. Mas esse exemplo só pode ser seguido enquanto as cabeças estiverem aqui. Porque muitas estão indo embora. Esse é o maior patrimônio que a gente tem hoje, não é o petróleo. Petróleo ajuda a pagar as contas, mas o principal patrimônio são as pessoas, e o Rio de Janeiro está perdendo isso.

 

(Fonte: https://epoca.globo.com/economia/noticia/2017/09 – ECONOMIA / NOTÍCIA / ENTREVISTA / Por MARCELO BORTOLOTI – 06/09/2017)

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