Cidinha Milan, atriz que protagonizou a primeira cena de nu na TV brasileira

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Cidinha Milan, atriz que protagonizou a primeira cena de nu na TV brasileira

Cidinha (1948-2018) fez teatro e cinema

A VIDA QUE ELA LEVOU

 

A sequência entrou para a história como o primeiro nu da TV brasileira — embora, revista, hoje pareça algo extremamente pudico. Em meados do século 20, numa cidade do interior da Bahia, um coronel descobre sua protegida dormindo com um rapaz e coloca os dois, nus como vieram ao mundo, para correr em praça pública e ser humilhados pelo escárnio da população. Quando foram exibidas na primeira versão de Gabriela, em 1975, as cenas repercutiram muito pela ousadia. Na época, o casal de atores que as protagonizou, Pedro Paulo Rangel e Cidinha Milan, ficou na boca do povo por algum tempo, como se dizia naquela época. Anos depois, no entanto, o tabu quebrado se tornou o novo normal.

 

Parte importante desse registro histórico da teledramaturgia brasileira, e de vários outros, Cidinha Milan morreu no dia 1º de junho, aos 70 anos, vítima de câncer. Morava em Jacareí, São Paulo, no Vale do Paraíba. Seu trabalho mais recente foi no quadro “Os velhinhos se divertem”, no Programa Silvio Santos, do SBT, onde ficou de 2012 até o ano passado. A atriz participou de uma das “pegadinhas” mais populares já veiculadas, “Câmera escondida”, inspirada no filme Annabelle, de 2014, que viralizou na internet e atingiu 32 milhões de visualizações no YouTube. No vídeo, pode-se vê-la levando as vítimas da armadilha, funcionárias contratadas para lavar um cômodo de uma mansão. Durante a faxina, um armário se abre e — fatal — surge a boneca amaldiçoada.

 

 

Na TV, Cidinha Milan construiu sua fama como atriz de novelas, fazendo personagens secundários sempre muito marcantes. Um exemplo que ela mesma gostava de citar, além da Chiquinha da primeira versão de Gabriela, era a doméstica Cora, de Tieta (1989). Com uma forte veia cômica, a empregada de Tieta (Betty Faria) ficou conhecida porque dizia detestar novelas e jurava que só as via para poder falar mal depois. Uma das atuações de Cidinha Milan em novelas jamais chegou ao escrutínio público: foi o papel de João Ligeiro na primeira versão de Roque Santeiro, em 1975. A responsável foi a censura do regime militar, que vetou a exibição da novela de Dias Gomes. Na segunda versão, no fim da década de 1980, Cidinha Milan não foi escalada.

 

A atriz participou da primeira geração de séries brasileiras, produzidas pela Rede Globo no fim dos anos 1970. Atuou em sucessos como Malu mulher, Plantão de polícia e Carga pesada. Depois de um período em que esteve em várias minisséries, como Rabo de saia e As noivas de Copacabana, ela voltou ao formato do seriado em personagens marcantes, como a rigorosa professora Elvira de Sandy & Junior (1998-2002) e a empregada Rosa da 13ª temporada de Malhação (2006). Ela participaria ainda do elenco de Pé na cova (2014), de Miguel Falabella, na Globo, e de O negócio (2015), na HBO.

 

 

No cinema, Cidinha Milan também marcou presença, embora muito menos do que em outras áreas. Fez O casamento (1974), sob a direção de Arnaldo Jabor, na adaptação do romance de Nelson Rodrigues. E atuou também na adaptação da clássica peça de Oswald de Andrade O rei da vela (1982), sob a direção de José Celso Martinez Corrêa e Noilton Nunes.

 

 

 

 

Nos últimos anos, Cidinha Milan também dava aulas de teatro, uma de suas primeiras paixões como atriz. Foi nos tablados que ela viveu alguns dos grandes momentos de seus quase 50 anos de carreira, dos quais costumava destacar As três irmãs, de Anton Tchékhov, em 1972; Ópera do malandro, de Chico Buarque, em 1978, e A aurora da minha vida, de Naum Alves de Souza, em 1982. Na primeira montagem do musical de Chico, sob a direção de Luís Antônio Martinez Corrêa, interpretou a personagem Fichinha. A mesma que seria usada para homenageá-la em uma versão montada há dois anos, em São Paulo. Numa cena, perguntam a Fichinha: “Qual o seu nome?”. A atriz que a interpreta responde: “Cidinha”.

 

 

(Fonte: https://epoca.globo.com –  A VIDA QUE ELA LEVOU / POR ALESSANDRO GIANNINI – 03/08/2018)

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