Chico Science, cantor e compositor que misturava rock, repente e maracatu, era líder do Movimento Mangue

0
Powered by Rock Convert

Chico Science (1966-1997), cantor e compositor que misturava rock, repente e maracatu, nascido Francisco de Assis França, em Olinda, em 13 de março. Líder do Movimento Mangue.
Costumava circular pelas ladeiras de Olinda num vistoso Ford Landau 79, quando lhe perguntavam por que um carro tão espalhafatoso, respondia que achava irônico “usar um símbolo de ostentação do tempo da ditadura”. Chico Science era assim mesmo – tão afeito ao espetáculo que até andar na rua para ele era uma performance. Mas no domingo 2 de fevereiro, ele dispensou o Landau escandaloso.
Como levaria um amigo a um show de maracatu, achou que não conseguiria estacionar o porta-aviões e pediu emprestado o Fiat Uno à sua irmã. Às 19h, na estrada que liga Recife e Olinda, Chico espatifou contra um poste a 110 quilômetros e morreu, com fraturas na face, um severo traumatismo craniano e o tórax esmagado.
Chico Science, fazia parte de uma tribo que não estudou nos conservatórios, mas tentou compensar essa deficiência ouvindo todos os gêneros musicais e misturando-os numa moqueca sonora. Do grupo que inclui Carlinhos Brown e os Raimundos, Chico Science era o mais articulado. Lidava com computador e chegou a produzir ele mesmo, num Macintosh, animações para seu primeiro videoclipe.
Misturava maracatus, repentes e cantigas de roda com rock pauleira, rap e dance music, numa zoeira batizada de mangue beat – batida do mangue. Deveria ser “bit”, de computador mas um jornal publicou um artigo sobre a música com um erro de grafia, e acabou rebatizando o estilo. Ele e sua banda, Nação Zumbi, lançaram dois discos, venderam 130 000 cópias no Brasil e, na Europa, chegaram ao quinto lugar das paradas na categoria world music.
Em 1946, o sociólogo Josué de Castro registrou, no livro Geografia da Fome, que os moradores das palafitas comiam sururu – uma espécie de molusco – mal lavado e com bastante lodo. Não por falta de higiene, mas para compensar a deficiência de ferro na alimentação. Foi nesses casebres, atolados num mar de lama morna e salobra, Chico Science se inspirou. Seu universo, durante o dia, eram mangues, caranguejos e favelas. À noite, eram os bordeis vagabundos, que frequentava apenas para “sentir o clima” e tomar cerveja. Mesmo depois do sucesso, continuava frequentando o ponto no obscuro Frank’s Drinks.
O acidente que vitimou Chico Science causou comoção entre os jovens, especialmente em Pernambuco, terra do mangue beat. Dez mil pessoas estiveram no velório, e o enterro foi ao som de maracatu. O governador Miguel Arraes, que passou a juventude ao som da polca e da mazurca, aproveitou para se despedir do roqueiro e decretou luto oficial de três dias. O escritor Ariano Suassuna, secretário de Cultura do Estado, que acusava Chico Science de misturar ritmos nordestinos com “música de quarta categoria”, também estava presente.

Um acidente interrompeu uma carreira promissora. Morreu no dia 2 de fevereiro de 1997, aos 30 anos, de acidente automobilístico, em Pernambuco.

(Fonte: Veja, 12 de fevereiro de 1997 – Edição 1482 – Memória/ por Felipe Oliveira – Pág; 72)

Powered by Rock Convert
Share.