Carlos Sanchez, construiu um império e se tornou o magnata dos medicamentos genéricos no Brasil.

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Sanchez no comando da EMS: laboratório foi o primeiro nacional a produzir medicamentos genéricos no Brasil

Carlos Sanchez, empresário, com atuação no setor farmacêutico, filho do dono de uma modesta farmácia na cidade onde nasceu em Santo André, em São Paulo, ele construiu um império e se tornou o magnata dos medicamentos genéricos no Brasil.

Carlos Sanchez é considerado por muitos o mais influente e poderoso empresário do setor no País.

Corria o mês de março de 2012. O empresário Carlos Sanchez despediu-se de cada de um de seus novos sócios, abotoou o paletó escuro e caminhou em direção à porta da grande sala de reuniões. Com uma das mãos, devolveu ao lugar alguns fios de cabelo insurretos, o que lhe acentuou o semblante entre a altivez e a imodéstia. Não pronunciou sequer uma palavra, mas quem o conhece garante que o sorriso milimetricamente calculado dizia, em tom de triunfo: “Eu não falei que conseguia?”. Poucos minutos antes, sua empresa, a EMS, havia selado acordo com Hypermarcas, Aché e União Química para a criação do Bionovis, o chamado “superlaboratório nacional”. Naquele momento, após uma intrincada negociação que passou pelos tubos de ensaio e pipetas do BNDES, Sanchez estava convencido de ter dado um grande e decisivo passo rumo ao seu maior projeto empresarial, quase uma obsessão de vida: ser acionista da primeira multinacional brasileira da área farmacêutica. É por essas e, sobretudo, por outras que Carlos Sanchez é considerado por muitos o mais influente e poderoso empresário do setor no País.

Sanchez nasceu e cresceu rodeado por remédios. “Preços módicos, atende-se à noite”, dizia o letreiro desenhado na entrada da Farmácia Santa Catarina, localizada em Santo André (SP). Não consta que o menino Carlos se levantasse de madrugada para receber algum cliente em cólicas, mas é certo que, desde pequeno, ajudou seu pai no negócio da família – primeiro debruçado sobre um balcão; depois, à mesa de um escritório. Em 1964, “seu” Emiliano passou de comerciante a industrial. Numa transição relativamente ousada para um boticário do ABC, fundou o laboratório EMS na vizinha São Bernardo do Campo. Naquele momento, o empresário bordava seu monograma na história do setor farmacêutico e dava início a uma saga.

A Bionovis nasceu com muito mais pompa e circunstância do que aquela acanhada fabricante de remédios de São Bernardo. No entanto, grande no papel e nas aspirações de seus sócios e do BNDES, a empresa ainda está longe de ser a multinacional ambicionada por Carlos Sanchez. Por ora, não produz sequer uma pílula. Sua fábrica ainda está por ser construída e o início da produção deverá ocorrer em 2015. Passadas as dores do parto, a expectativa de seus acionistas é que, no primeiro ano de operações, o faturamento do laboratório chegue a R$ 500 milhões. Até lá, muito provavelmente o conglomerado EMS, que engloba ainda as marcas Germed e Legrand, já terá ultrapassado a marca de R$ 6 bilhões em vendas. E, mais provavelmente ainda, não haverá Clonazepan capaz de aquietar Sanchez em sua briga particular com os franceses da Sanofi-Aventis. Só há uma coisa que mexe tanto com os nervos do empresário quanto os números de sua companhia: os números da concorrente. O Medley, laboratório controlado pela Sanofi, disputa com a EMS a liderança do mercado brasileiro de genéricos. Trata-se de um duelo travado drágea a drágea. As duas empresas têm se alternado sucessivamente no topo do ranking, sempre ali na faixa de um terço de market share para cada uma.

O presente contrasta com o passado de Carlos Sanchez, mais precisamente com as circunstâncias que marcaram a estreia de sua trajetória empresarial. Sanchez foi forçado a assumir os negócios do pai aos 26 anos, quando “seu” Emiliano morreu. O batismo se deu a ferro e fogo. A EMS acumulava um elevado passivo, que colocava em risco sua sobrevivência. O herdeiro tomou uma atitude drástica: vendeu todos os bens da família para quitar as dívidas do laboratório. Nem a histórica lojinha de São Bernardo onde funcionava a farmácia Santa Catarina, de imensurável valor afetivo, resistiu ao bota-abaixo. Entre salvaguardar o pretérito ou garantir o porvir, Sanchez sequer pestanejou. Deu no que deu.

O grande salto ocorreu nos anos 2000. No início da década, a EMS foi o primeiro laboratório nacional a produzir medicamentos genéricos – dois meses depois o Medley também estrearia no segmento. A partir de então, a empresa mantém a rotina de praticamente dobrar de tamanho a cada três anos. Tal desempenho ajudou Carlos Sanchez a construir sua fama, com as mais diversas compreensões que cabem nesta palavra. Como Oscar Wilde disse certa vez, a cada boa impressão que um homem causa, conquista um inimigo. “Boa impressão”, neste caso, é mera licença da citação, ao menos para os concorrentes de Sanchez.

Alguns de seus pares na indústria farmacêutica não guardam as melhores impressões de Carlos Sanchez e o têm na conta de um empresário extremamente agressivo, às vezes até demais. Na descrição de um dos mais tarimbados executivos da indústria farmacêutica, Sanchez parece ter um gosto especial pela competição, de preferência na fronteira do risco, como um piloto de automobilismo que vai ao limite do limite do muro para conseguir uma ultrapassagem. De fato, não são poucos os que se incomodam com a forma como o empresário guia a EMS entre retas e gincanas. A contundente política de preços mantida pela companhia é constante alvo de críticas no setor. O mesmo se aplica à estratégia de guerra montada por Sanchez para produzir medicamentos sem patentes. Na EMS, o departamento jurídico e o laboratório de pesquisas são operações xifópagas.

Como todas as empresas farmacêuticas, a EMS mantém um intenso trabalho de mapeamento das datas de expiração das mais cobiçadas patentes do setor. Quatro ou cinco anos antes do óbito da licença, a área de desenvolvimento começa a produzir a cópia da molécula. Durante o processo, entra em cena o pelotão de advogados alistados por Sanchez. Não há cabos ou soldados nesta tropa. A própria concorrência aquiesce: não há na indústria farmacêutica uma empresa tão bem aparelhada do ponto de vista jurídico quanto a EMS. Que o diga, por exemplo, a Pfizer.

O todo-poderoso laboratório norte-americano tentou, de todas as maneiras, estender a patente para a produção no Brasil do medicamento Lipitor, usado no controle do colesterol. O remédio é quase um mito dentro da Pfizer: em 2009, as vendas globais atingiram quase US$ 13 bilhões. No Brasil, a tentativa da companhia de esticar a patente esbarrou na muralha EMS. Em agosto de 2010, a Justiça determinou a quebra da patente. Apenas dois dias depois, Sanchez espalhava por 12 estados mais de 50 mil unidades do genérico do Lipitor produzido pela EMS. Com conhecimento de causa, o próprio empresário costuma dizer sem qualquer sinal de lamento em sua voz, que o setor hoje se tornou “mais jurídico do que farmacêutico”.

Sem demérito à obra dos pesquisadores e advogados da EMS, difícil imaginar que esta construção ficasse em pé, ao menos no tamanho atual, sem a engenharia de relacionamentos de Carlos Sanchez. O empresário goza de ótimo trânsito entre políticos e autoridades. Sua circulação entre veias e artérias do poder é outro ponto que gera burburinhos da concorrência, notadamente entre os laboratórios internacionais – como se eles não fizessem o mesmo para proteger seus interesses corporativos em seus países de origem. O fato é que alguns episódios polêmicos pontuam a trajetória de Sanchez. O mais rumoroso remete a 2002. Na ocasião, surgiram denúncias de que o empresário valeu-se dos préstimos de Jorge Negri, irmão do então ministro da Saúde, Barjas Negri, para acessar importantes gabinetes da República, inclusive, ou principalmente, na própria Pasta. Negri, o Jorge, teria sido responsável também por garantir a presença de diversas autoridades do governo tucano na inauguração da fábrica da EMS em Hortolândia (SP).

Naquele momento, a célere escalada de Carlos Sanchez e da EMS já chamava a atenção no setor. Em 2002, dois anos após o governo autorizar a produção de medicamentos genéricos no País, a empresa já fabricava 95 biossimilares. O segundo, a Eurofarma, somava então 62 remédios sem patentes. Sanchez reagiu ao episódio como uma divisão panzer entrando em Lilliput. Na época, ao ser questionado pela imprensa sobre o número de viagens que havia feito a Brasília na companhia de Jorge Negri, foi curto e grosso: “Estive uma p… de vezes”. Genérico, sim, analgésico, jamais. Talvez a melhor definição de Carlos Sanchez tenha vindo da ironia de seus próprios executivos e funcionários. Reza a lenda que, ao serem perguntados sobre o significado do acrônimo EMS, a resposta vem de bate-pronto: “Eu Mando Sozinho”.

(Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/os-60-mais-poderosos/carlos-sanchez/5202b92c064f0c2b5c000004 – OS 60 MAIS PODEROSOS DO PAÍS – Por iG São Paulo – 8 de agosto de 2013)

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