Cândido Mendes de Almeida, escritor, professor e imortal da ABL (Academia Brasileira de Letras), era reitor da Universidade Candido Mendes (Ucam), uma das mais antigas instituições de ensino superior do país

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Escritor era membro da ABL

 

Professor, reitor e imortal da Academia Brasileira de Letras

 

Cândido Mendes de Almeida (Rio de Janeiro, 3 de junho de 1928 – Rio de Janeiro, 17 de fevereiro de 2022), escritor, professor, reitor e imortal da ABL (Academia Brasileira de Letras), sucessor do filólogo Celso Cunha.

Candido tem em seu currículo uma longa carreira dedicada à vida acadêmica, com passagem como professor por algumas das mais importantes instituições de ensino do país e também do exterior. Além de escritor e docente, ele também era advogado e cientista político.

 

Entre as obras publicadas por Mendes, destacam-se: Nacionalismo e Desenvolvimento (1963), O País da Paciência (2000), Subcultura e mudança: por que me envergonho do meu país (2010) e A razão armada (2012).

 

O escritor lançou obras como “O País da Paciência”, “Subcultura e Mudança: Por Que me Envergonho do meu País” e “A Razão Armada”. Ele ocupava desde 1989 a cadeira de número 35 na ABL, e era um dos membros mais longevos da instituição. Bom articulador, ele trafegou entre gente de diferentes espectros políticos, tendo conseguido juntar o cardeal D. Paulo Evaristo Arns e o general Golbery do Couto e Silva em uma reuião em 1974 para falar sobre as torturas realizadas pelos militares.

O acadêmico também era dono de vários títulos, como o de Docteur Honoris Causa (Université de Paris III – Sorbonne Nouvelle) e o de Doutor em Direito pela Faculdade Nacional de Direito, Universidade do Brasil.

 

Legado

 

Candido Antônio José Francisco Mendes de Almeida nasceu no Rio de Janeiro em 3 de junho de 1928, filho de Candido Mendes de Almeida Júnior e de Emília Melo Vieira Mendes de Almeida. Ele era reitor da Universidade Candido Mendes (Ucam), uma das mais antigas instituições de ensino superior do país, que tem como mantenedora a Sociedade Brasileira de Instrução, fundada por seu pai em 1902.

 

Formado em direito e filosofia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/Rio), doutorou-se na Faculdade de Direito da antiga Universidade do Brasil. Dedicou-se à sociologia e à ciência política, áreas onde buscou temas para uma extensa obra bibliográfica.

 

Foi professor nas faculdades de Direito e de Ciências Políticas e Econômicas da Ucam, na PUC/Rio e na Escola de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas. Nos Estados Unidos, foi professor visitante das universidades de Harvard, Princeton, Stanford e Columbia.

 

Ligado à Igreja Católica por tradição de família (era o terceiro conde de Mendes de Almeida, título nobiliárquico conferido pelo papa Leão XIII a seu avô, em 1874), foi secretário adjunto da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e secretário-geral da Comissão Brasileira Justiça e Paz. Nessas posições, atuou seguidamente, durante o regime militar, na defesa e proteção de presos e perseguidos políticos. Foi um dos principais responsáveis pela organização de uma rede de advogados que colhiam denúncias de tortura nos porões da ditadura, depois divulgadas, no país e no exterior, muitas vezes com a ajuda de diplomatas.

 

No princípio dos anos 1970, foi um dos responsáveis civis pela articulação de encontros de militares, bispos, representantes da CNBB e outras personalidades católicas que se reuniam, discretamente, para buscar formas de diálogo e conciliação entre a Igreja e a ditadura em assuntos referentes à repressão política.

 

Era próximo do general Golbery do Couto e Silva, ex-chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), que depois responderia pela Casa Civil de Ernesto Geisel. Haviam sido contemporâneos no curto governo de Jânio Quadros, Mendes de Almeida como chefe da assessoria técnica do presidente e Golbery, então coronel, como chefe de gabinete da Secretaria Geral do Conselho de Segurança Nacional.

 

Em 1969, com o apoio de Golbery, criou o Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), onde professores e intelectuais visados por órgãos de repressão do governo militar puderam realizar pesquisas com bolsas custeadas pela Fundação Ford, que tinha como contraparte a Sociedade Brasileira de Instrução. Por esse meio, recursos da entidade americana também foram canalizados para o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), criado em São Paulo, em 1969, por um grupo de professores de diferentes áreas afastados das universidades pela ditadura militar. O Iuperj é, hoje, um centro de estudos políticos integrado à Ucam na área de pós-graduação.

 

“O que ele tinha em mente [com a criação do Iuperj]era reconstituir algo parecido com o Iseb, ou seja, uma instituição acadêmica, mas profundamente engajada na política cotidiana (…) Era o compromisso dele, um sonho dele”, relembrou o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, em depoimento ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas.

 

Política

 

Em 1966, Mendes de Almeida renunciou à candidatura à Câmara dos Deputados na legenda do recém-criado Movimento Democrático Brasileiro (MDB), alegando, em carta enviada ao Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, que a representação política se tornara impossível em face das regras autoritárias emitidas com o Ato Institucional n.º 2.

 

Candidatou-se a deputado federal em 1986, pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e, em 1994, pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Nas duas ocasiões, como suplente, exerceu o mandato por breves períodos.

 

Membro da Comissão Nacional do PSDB, foi um dos três votos contrários à aliança com o Partido da Frente Liberal (PFL, hoje DEM), aprovada, com 386 votos a favor, na convenção realizada em Contagem, MG, em maio de 1994, para lançamento da candidatura de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República.

 

No livro “A Presidência Afortunada – Depois do Real, Antes da Social Democracia” (Record, 1998), Mendes de Almeida expõe e analisa a contradição entre o discurso social-democrata e a prática neoliberal que caracterizou o governo de Fernando Henrique. Embora não deixe de reconhecer qualidades no ex-presidente, a começar pela disposição ao suposto sacrifício de princípios que a lógica política lhe impunha (a partir da aliança do PSDB com o PFL e outras forças no Parlamento), não esconde a simpatia pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e propõe um movimento drástico para a centro-esquerda como essencial linha de conduta de um segundo mandato.

 

Foi membro do Conselho Executivo da Federação Internacional de Universidades Católicas. Presidiu a International Political Science Association (IPSA) e o Comitê de Programas do International Social Science Council (ISSC), entidade representativa das organizações não governamentais de ciências sociais reconhecidas pela Unesco.

 

Foi presidente da Associação das Mantenedoras de Ensino Superior Privado (ABMES) no Rio de Janeiro, da Associação Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior Privado e do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Superior Privado no Rio de Janeiro.

 

Em 1989, assumiu a cadeira nº 35 da Academia Brasileira de Letras (ABL).

 

Candido de Almeida faleceu em 17 de fevereiro de 2022, aos 93 anos, no Rio de Janeiro, em decorrência de embolia pulmonar.

Candido Mendes de Almeida deixa a pneumologista e pesquisadora Margareth Dalcolmo, com quem era casado, além dos quatro filhos e cinco netos.

Repercussão

 

A ABMES e o Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular lamentaram o falecimento do professor Candido Mendes. “A ABMES manifesta sua profunda consternação com a perda dessa figura tão inspiradora para todos nós educadores”, lamentou Celso Niskier, diretor presidente da Associação.

Merval Pereira, presidente da ABL, afirmou que Candido Mendes foi um dos maiores intelectuais brasileiros e um homem de ação. “Sua voz potente transmitia suas convicções. Ele foi um dos principais intelectuais brasileiros lutando contra a ditadura militar. Criou um dos principais centros de pesquisas social e política do Brasil, o IUPERJ. E à frente da Academia da Latinidade, que reunia expoentes e intelectuais de vários lugares do mundo, como Alain Touraine, Edgar Morin, Hélio Jaguaribe, Jean Baudrillard e Renato Janine Ribeiro fazia seminários internacionais debatendo as principais questões do mundo. Era sempre um ativista no sentido de ajudar, na medida da sua possibilidades – e eram muitas, porque o Cândido Mendes era múltiplo – a melhorar a situação do país e do mundo”.

 

Joaquim Falcão, acadêmico da ABL, lembrou de Cândido Mendes como um líder da democracia. “Tinha a ousadia da coragem do pensar , e do fazer. Era um fazedor de compreensões sobre nós mesmo. Ele nos explicava. Espelho das liberdades necessárias.”

Zuenir Ventura, jornalista e escritor, disse que a morte de Candido Mendes lhe tirou um referência. “Ele foi o símbolo perfeito do intelectual orgânico, combativo, exemplar.

 

O advogado Felipe Santa-Cruz disse que Cândido Mendes defendeu seus tios na ditadura e foi seu primeiro empregador. “Culto, democrata e dono de espírito público único viveu uma vida plena e espalhou na terra os frutos da sua fé. Descansará entre os justos.”

(Fonte: https://www.uol.com.br/splash/noticias/2022/02/18- SPLASH / NOTÍCIAS / LIVROS E HQS / Colaboração para Splash, em Maceió – 18/02/2022)

(Fonte: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – NOTÍCIAS / BRASIL / por Matheus Lopes Quirino / ESTADÃO CONTEÚDO – 17/02/2022)

(Fonte: https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2022/02/17 – EU & / NOTÍCIA / Por Valor, com O Globo – 17/02/2022)

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