Boris Vian, foi ele próprio, encarnação pura da época do existencialismo do pós-guerra

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Vian: encarnação de uma geração e ídolo da outra

Herói de uma era

Boris Paul Vian

Boris Vian: herói de uma era

Boris Paul Vian (Ville-d’Avray, França, 10 de março de 1920 – Paris, 23 de junho de 1959), engenheiro, escritor, poeta, tradutor

Boris Vian, em seus mais de quinze livros, entre romances, ensaios, peças de teatro e coletâneas de poesia, distinguiu-se como um criador de tipos fascinantes como o Colin de A Espuma dos Dias.

Seu tipo mais acabado, porém, foi ele próprio, encarnação pura da época do existencialismo do pós-guerra.

Nascido de uma família rica, e especialmente atraente para as mulheres, Vian foi músico de jazz de boa qualidade, ator e compositor, além de escritor eclético e amigo de Jean-Paulo Sartre – o Jean-Sol Sartre que aparece em A Espuma dos Dias.

Fiel ao espírito dos meios intelectuais e artísticos da época, e dos bares de Saint Germain que frequentava, Vian procurou viver a realidade presente em todas as suas manifestações “individuais” possíveis.

Curioso fenômeno é que Vian, típico produto de uma geração “rebelde”, tenha explodido plenamente na geração rebelde seguinte. Autor de livros de tiragem limitada enquanto viveu, ele viria a se tornar amplamente conhecido e idolatrado nos anos 60, embalado por sua irreverência e sua vida trepidante, seu desprezo por tudo o que fosse solene e comportado e o romantismo de sua morte precoce.

“Só duas coisas importam: o amor, sob todas as formas, as moças bonitas e a música de Nova Orleans ou de Duke Ellington.” Esta afirmação, feita pelo francês Boris Vian no prefácio de seu mais conhecido livro, “A Espuma dos Dias”, não era revolucionária, mas estava na vanguarda dos acontecimentos quando da publicação da obra – 1946. Pérolas como essa são tão clássicas como o próprio Vian, transformado, da condição de perseguido por pornografia, em 1949, em figurante de antologia escolar francesa, em 1970.

A Espuma dos Dias é um romance que conta a história de seis amigos, entre os quais o rico e belo Colin e sua amada Chloé. A história começa quando eles são jovens e cheios de esperanças, e conta a decadência do grupo quando um mal incurável, sob a forma de um renúfar no pulmão, ataca Chloé. A partir desse momento, tudo que era beleza e felicidade se transforma em decadência e horror, inclusive o belo apartamento de Colin, cujo teto ameaça encontrar-se com o chão.

Escrito em estilo extremamente pessoal, com elementos de surrealismo, ficção científica e simbolismo, A Espuma dos Dias se ressente, hoje em dia, da passagem do tempo e pelo primor de recriação, da inventividade e jogos de palavra.

Boris Vian faleceu em junho de 1959, de um ataque cardíaco, aos 39 anos.

Depois de sua morte, Vian teria sua imagem sacralizada pela juventude francesa. Certamente, da mesma forma como ele satirizava a adoração de Jean-Paul Sartre pela geração existencialista, teria satirizado essa adoração a si próprio, se a espuma dos dias não o tivesse tragado tão cedo.

(Fonte: Veja, 30 de maio de 1984 – Edição 821 – LIVROS/ Por Lena Chaves – Pág: 106)

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