Boris Fausto, estudioso da história política no período republicano e República, e sobre a formação do pensamento autoritário no Brasil, de Oliveira Viana a Alberto Torres, era autor de “A Revolução de 30″, considerada um clássico das ciências sociais

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Boris Fausto, historiador e cientista político, autor de ‘A Revolução de 30′

Sua principal obra, ‘A Revolução de 1930 – historiografia e história’, publicada pela primeira vez em 1969 é considerada um clássico das ciências sociais brasileiras.

 

Boris Fausto: historiador, cientista político e integrante da Academia Brasileira de Ciências faleceu nesta terça-feira, 18 Foto: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO © Fornecido por Estadão

Boris Fausto: historiador, cientista político e integrante da Academia Brasileira de Ciências faleceu nesta terça-feira, 18 Foto: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO – © Fornecido por Estadão

 

Boris Fausto (São Paulo, no dia 8 de dezembro de 1930 – São Paulo, 18 de abril de 2023), era historiador e cientista político e escritor. Autor de “A Revolução de 30″ e de outros livros que marcaram a historiografia brasileira.

Seu primeiro livro, “A Revolução de 1930 – historiografia e história”, propôs uma interpretação nova a respeito das classes sociais e das forças armadas no Brasil. Publicado pela primeira vez em 1969, é considerado um clássico das ciências sociais brasileiras.

Como foi lançado pouco depois do AI-5, durante a ditadura militar, um editor chegou a achar arriscado publicar. “Ele disse ‘olha, do jeito que está o clima, não posso me arriscar a publicar esse livro”, contou o historiador em documentário sobre ele lançado em 2018.

Um dos maiores historiadores do Brasil, foi autor de mais de 30 livros, incluindo grandes sucessos literários como “O Brilho do Bronze” e “O Crime do Restaurante Chinês”, Boris tinha um olhar cuidadoso sobre os capítulos recentes do Brasil.

No documentário “Boris Fausto”, o historiador disse acreditar que o Brasil “tem jeito”.

“Depende de uma categoria complicada que são os brasileiros… os brasileiros políticos, os brasileiros da elite, os brasileiros do povo, os brasileiros da direita, os brasileiros da esquerda radical”.

O funcionamento da democracia no Brasil se precarizou muito, mas eu continuo achando que o regime democrático é fundamental”, disse.

Ele também falou sobre “história” e “memória” no documentário ao comentar sobre o filme “Amnésia”.

“Eu vi um filme, o Amnésia que tinha um personagem que só lembrava do que imediatamente aconteceu e ele era manipulado de todo jeito então acho que radicalizando na ficção o que pode haver é um desinteresse, uma desvalorização da História o que é uma forma de amnésia”.

Estudioso da história política do Brasil no período republicano e República, ele se debruçou ainda sobre a criminalidade em São Paulo no começo do século 20 e sobre a formação do pensamento autoritário no Brasil, de Oliveira Viana a Alberto Torres.

Doutor pela Universidade de São Paulo – onde se graduou em Direito, foi assessor jurídico e pesquisador – Fausto foi coordenador de Ciências Humanas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e pesquisador sênior da Rockefeller Foundation, além de professor visitante da Brown University. Com sua obra, ganhou com suas obras por três vezes o prêmio Jabuti. Com o livro “A Revolução de 1930?, provocou uma mudança nas análises sobre o tenentismo e o fim da República Velha.

Fausto via nos jovens militares um espírito que “em grande linha não era democrático”. “Era militar como temos em nessa tradição. Era salvacionista e propugnaram a manutenção da ditadura do Getúlio (Vargas) tanto quanto possível.”

Ao Estadão afirmou que ter afeição por outro de seus livros – História do Brasil – que era seu maior best seller. “Eu tenho afeição por ele e acho que foi um marco que pode ser aproveitado, mas muita coisa ali foi superada, como eu já superei, se fosse escrever uma nova história. Se fizesse uma outra, faria em outras condições e revisão de coisas. Escreveria uma síntese, um outro livro. Então, por isso, reivindico os que não são best sellers, como fontes para os historiadores do futuro.

“Bom ou ruim, eu sou mais escritor”

Em entrevistas, Boris explicava que a escolha pelo crime como gênero literário era um caminho para adentrar à chamada microhistória, abordada inicialmente pelo historiador francês Emmanuel Le Roy Ladurie. É onde, por exemplo, “ O crime do restaurante chinês” se enquadra.

Entre o romance policial e a história do Brasil, ele narra um dos acontecimentos policiais que mais mobilizaram a opinião pública paulistana. Boris era um menino quando, depois do carnaval de rua, um homem negro foi acusado de matar o ex-patrão chinês e mais três pessoas com golpes de pilão. Ocorrido em 1938, o crime é o mote para abordar a relação entre migrantes, imigrantes e trabalhadores marginalizados numa São Paulo de intensas transformações socioeconômicas e culturais.

Boris também escreveu Crime e Cotidiano. A Criminalidade em São Paulo. Os trabalhos sobre crime e criminalidade foram premiados pela American Sociological Association em 1999.

“(Por que crimes ficam na memória coletiva?) São as coisas que impressionam muito as pessoas. Tem um impacto muito grande. Passam de pai pra filho. Mãe pra filha. Mas há também crimes que desaparecem e você precisa desenterrar porque eles são muito interessantes”, disse em entrevista ao Programa do Bial.

Último livro

Em março de 2020, começo da pandemia, Boris conversou com seu filho, o sociólogo Sergio Fausto, e a jornalista Renata Lo Prete, em um episódio do podcast “O Assunto”. Pai e filho contaram como faziam para matar a saudade, a rotina em quarentena e os planos para quando tudo voltasse à normalidade.

Em 2021, Boris publicou “Vida, morte e outros detalhes”. O livro nasceu a partir de um acontecimento pessoal: a morte do seu irmão Ruy Fausto no início da pandemia. A obra traz um conjunto de memórias e reflexões sobre relações familiares, as rivalidades do afeto, o envelhecimento e a finitude.

“Da minha parte, a pandemia fez reviver o passado, que se tornou uma presença cotidiana, e me aproximou, ainda mais, de meu irmão Ruy pela via do divertimento. Sua morte inesperada e essa aproximação me impulsionaram a escrever este livro, passo a passo, sem um esquema prévio”, escreveu Boris Fausto no início do livro.

Resultado do luto íntimo e pelo Brasil durante a pandemia de Covid-19, o livro divide-se em três partes. Na segunda e na terceira partes, uma série de vinhetas compõe um mosaico sobre a fugacidade da vida e a fragilidade dos afetos.

Em junho de 2021, Boris teve um AVC, mas sua recuperação foi considerada satisfatória. Sobre a morte, Boris costumava reproduzir uma citação de Elias Canetti, romancista e ensaísta de nacionalidade búlgara e britânica.

“Eu odeio a morte. Vou lutar até o fim contra ela, embora eu saiba que vou perder”.

Biografia

Filho de imigrantes judeus, Boris Fausto nasceu em São Paulo, no dia 8 de dezembro de 1930. Primeiramente, formou-se bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo, em 1953. Depois, em 1966, gradou-se em História pela mesma faculdade, onde se tornou doutor em 1969. Foi professor no Departamento de Ciência Política da USP e colunista semanal do jornal “Folha de São Paulo”. Também integrou a Academia Brasileira de Ciências.

Boris Fausto faleceu na terça-feira (18), em São Paulo, aos 92 anos.

Maria Aparecida Aquino, professora de História da USP, diz que Boris era um dos maiores historiadores do Brasil: “Se não o maior”. Suas lembranças com Boris vão de debates em frente às câmeras a bancas de trabalhos acadêmicos.

“Muito gentil, um cavalheiro. Uma pessoa muito importante. Nós vamos sentir muita falta dele. Ele deu essa dimensão nova sobre a República. Todos nós ficamos mais pobres com sua ausência.”

Aquino considera o período da sua pesquisa que cobre a revolução de 30 a mais importante. “É a que gosto mais pela compreensão ampla da República. “Temos uma dívida com ele por isso”.

Em nota, a Fundação FHC afirmou que Boris Fausto foi pioneiro nos estudos sociais do país e um dos maiores historiadores do Brasil. “Também teve um papel importante no desenvolvimento de pesquisas sobre a história política do Brasil no período republicano, criminalidade em São Paulo e sobre o pensamento autoritário”, escreveu.

(Crédito: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – NOTÍCIAS/ BRASIL/ História por Marcelo Godoy – Estadão Conteúdo – 18-04-2023)

(Crédito: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2023/04/18 – SÃO PAULO/ NOTÍCIA/ Por Cíntia Acayaba e Cláudia Castelo Branco, g1 SP — São Paulo – 18/04/2023)

(Crédito: https://veja.abril.com.br/brasil – BRASIL/ Por Alessandro Giannini – Edição nº 2838 – 24 abr 2023)

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