Arthur Koestler (1905-1983), escritor judeu húngaro, naturalizado inglês, autor de trinta livros.

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Arthur Koestler (Budapeste, 5 de setembro de 1905 – Londres, 1° de março de 1983), escritor judeu húngaro, naturalizado inglês depois da II Guerra Mundial, autor de trinta livros. Organizado e previdente, sionista na Palestina anterior ao Estado de Israel, condenado à morte na Guerra Civil Espanhola – só foi libertado graças a um movimento de solidariedade internacional -, comunista na Alemanha pré-nazista, Koestler percorreu uma novelesca trajetória. Em 1941, sacudindo muitas reputações, publicou O Zero e o Infinito. Descrente do comunismo, que abandonara em 1938, faz nesse livro uma das maiores críticas até hoje publicadas a Stálin, ao contar a história de um velho dirigente comunista obrigado a confessar a sua traição apesar de ser inocente. Numa época em que intelectuais como Jean-Paul Sartre e Albert Camus defendiam o líder soviético devido à resistência comum contra o nazismo, sua posição lhe custou o desprezo de muitos antigos amigos.

Mais uma vez descrente da humanidade, abandonou a política e voltou aos seus interesses antigos, a ciência e a psicologia. Escrevendo no máximo 200 palavras por dia, procurou explicar o comportamento pouco saudável dos seres humanos. Falou de percepção extra-sensorial, de parapsicologia e das características do cérebro humano em livros em que, se faltava precisão acadêmica, sobravam lances de genial intuição. Na trilogia que começou com Os Sonâmbulos (1959), por exemplo, e foi completada por O Ato da Criação (1964) e O Fantasma da Máquina (1968), analisou a criatividade do homem e também a sua loucura genocida e suicida. Segundo Koestler, essas duas faces de uma mesma moeda foram cunhadas pelo processo de evolução da humanidade, não o ápice da criação, mas um grande escorregão. Essas mesmas ideias ele continuou a desenvolver em Jano, cujo título era uma homenagem ao deus romano de duas faces.

Sua agressividade e perplexidade em relação ao mundo pode ser constatada com maior clareza em Em Busca do Absoluto, seu testamento filosófico e espiritual. Publicado em 1980, é uma antologia de textos tirados de seus livros anteriores, ligados por comentários autobiográficos inéditos, em que surge como um cético dono de uma fantástica erudição e uma coragem descomunal, sempre canalizada em benefício da liberdade.

“Meu epitáfio será ‘Eu fiz o que foi possível, mas sabia que não era o bastante’”, disse Koestler. Na quinta-feira, dia 3 de março de 1983, ao ser encontrado morto ao lado de sua mulher Cynthia em sua casa em Knightsbridge, um elegante bairro de Londres, mostrou que tinha feito o suficiente. Aos 77 anos, esse escritor sofrendo de leucemia e de mal de Parkinson, decidiu mais uma vez ser coerente. Seguiu os conselhos dados no prefácio que escreveu para o Guia para a Autoliberação, um panfleto explicando cinco formas de suicidar-se com dignidade e sem dor, editado pela Exit (Sociedade pelo Direito a Uma Morte Digna), da qual era vice-presidente. Organizado, dias antes de engolir a dose fatal de barbitúricos ele deu seu cão de estimação, alegando estar velho demais para cuidar dele.

(Fonte: Veja, 9 de março, 1983 – Edição 757 – DATAS – Pág; 99)

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