Araújo Castro, embaixador, diplomata, ministro das Relações Exteriores no governo João Goulart

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Araújo Castro (Rio de Janeiro, 27 de agosto de 1919 – Washington, 9 de dezembro de 1975), embaixador, diplomata, ministro das Relações Exteriores no governo João Goulart.

Castro: “Não preciso de instruções para defender a honra do Brasil.”

Em 1939, ele escolheu a carreira diplomática com a única ambição de ter um emprego público e poder viajar. Embaixador do Brasil desde maio de 1971, João Augusto de Araújo Castro como funcionário público, realizou uma proeza que sequer desejara há 36 anos: mudar as feições do próprio serviço para o qual havia entrado.

De fato, Araújo Castro foi o principal artífice do estilo ao mesmo tempo mais simples e eficiente que ao longo das duas últimas décadas começou a conquistar adeptos cada vez mais numerosos em todos os escalões do outrora hierático Ministério das Relações Exteriores do Brasil. “Ele formulou uma nova mentalidade dentro do Itamaraty”, resumiu um colega que serviu com Araújo Castro na ONU em 1968 (quando ele chefiava a delegação brasileira, um ano antes de assumir a presidência do Conselho de Segurança do organismo). Castro formou uma outra espécie de diplomata, estritamente profissional, dotado de espírito crítico e mais interessado nos problemas da política internacional do que nas sutilezas da etiqueta nas recepções oficiais.

E, para um diplomata que acompanhou o trabalho de Araújo Castro na embaixada de Washington, “era um analista político tão perspicaz quanto pouco ortodoxo”. Todos os dias, às 18 horas, seus auxiliares habituaram-se a ouvi-lo comentar os fatos políticos do dia, enquanto redigia de próprio punho as comunicações de rotina para Brasília, no seu estilo vivo, sem uma palavra de burocratês. Quando queria “vender uma ideia” ao Itamaraty, escrevia: “Comenta-se nos círculos diplomáticos de Washington que…”. E, rindo, justificava: “Formamos um círculo diplomático, não? E estamos discutindo, não estamos?”

Grécia maranhense – Ele conseguia preservar o bom humor mesmo nos períodos menos risonhos de sua carreira. Por ter chegado a ministro das Relações Exteriores no governo João Goulart, passou três anos “congelado” como embaixador em Atenas, após 1964. Na remota e politicamente pouco importante Grécia, o maranhense Araújo Castro disse a um amigo que fora visitá-lo: “Aqui, todo mundo tem nome de maranhense: Péricles, Temístocles, Heráclito. Pelo visto, voltei às origens”.

Sabia também fazer-se respeitar intelectualmente. Na ONU era considerado “o porta-voz dos países médios e pequenos”, segundo a jornalista Kathleen Teltsch, do The New York Times. Já então e com ênfase ainda maior depois, como embaixador em Washington, tinha ideias muito definidas sobre o quadro atual das relaçoes internacionais, baseadas, a seu ver, no “congelamento do poder mundial”, imposto pelos supergrandes Estados Unidos e URSS e contra o qual urgia aos países em desenvolvimento se opor. E, bem antes da crise do petróleo, previa que essa oposição poderia alterar o equilíbrio internacional de forças.

Tinha uma concepção nitidamente formada sobre as alternativas para o futuro do país. “O Brasil, ou será uma grande nação ou não será nada: jamais ficaremos no meio do caminho.”, repetia sempre. Provavelmente tendo isso em vista, esforçou-se – e conseguiu – que as relações com os Estados Unidos se dessem exclusivamente a nível de Estado para Estado, vedando os múltiplos e às vezes contraditórios canais, oficiais e privados, através dos quais Brasília e Washington se haviam habituado a dialogar – e, não raro, a se desentender.

A página no atlas – O diálogo e a amizade pessoal entre Araújo Castro e o secretário de Estado Henry Kissinger são parte do folclore diplomático de Washington. Eles se conheceram quando Kissinger era professor da Universidade de Harvard e foi Castro quem sugeriu ao então chanceler San Thiago Dantas que o convidasse para fazer uma conferência no Itamaraty – motivo da única viagem de Kissinger ao Brasil, no início da década de 60.

Mas as relações entre os dois eram ambíguas: havia respeito mútuo e também intensa competição intelectual, além de profundas divergências políticas. “Ele é o meu mais severo crítico”, assim Kissinger referiu-se certa vez a Castro. Em outra ocasião, logo depois de asumir o posto de embaixador nos Estados Unidos, quando Kissinger era assessor do presidente Nixon para Assuntos de Segurança, Castro promoveu uma série de encontros informais entre ele e diplomatas latino-americanos. Numa dessas reuniões, Kissinger explicava a “diplomacia total” dos Estados Unidos. Irreverente, o brasileiro o interrompeu: “Então procure no seu atlas a página da América Latina, porque está faltando”. Recentemente, às vésperas do bicentenário da nação americana. Castro encontrou uma interpretação mordaz para o crescente distanciamento entre Kissinger e seus concidadãos: “Os americanos estão de novo no século XVIII e Kissinger está muito mais à frente. Na primeira metade do século XIX”.

No caso do acordo nuclear com a Alemanha, Castro sequer consultou o Itamaraty para repudiar o discurso do senador John Pastore, que situava o Brasil no “quintal” dos Estados Unidos. “Não preciso de instruções para defender a honra do Brasil”, comentou com seus auxiliares. E, de fato, ele dependia pouco de instruções explícitas de Brasília: ao contrário, dele é que geralmente partiam as sugestões. Até terça-feira, dia 9 de dezembro, quando um inesperadoulminante ataque cardíaco o matou aos 56 anos em Washington, onde era embaixador do Brasil Castro talvez não tivesse conseguido realizar tantas viagens quantas gostaria – embora tivesse morado em Roma, Tóquio, Atenas, Lima e Nova York. Mas, como funcionário público, transformou o Itamaraty numa vitrine de respeito e prestígio internacional, sendo seu principal artífice.
(Fonte: Veja, 17 de dezembro, 1975 – Edição n.° 380 – MEMÓRIA – Pág; 22/23)

Araújo Castro
Na história da diplomacia brasileira, pode-se dizer que a atuação dos mais importantes diplomatas do período imperial – Visconde do Uruguai e Visconde do Rio Branco – esteve voltada sobretudo às questões do Prata; do Barão do Rio Branco, ao continente americano; de Oswaldo Aranha, ao mundo ocidental; e a de João Augusto de , à totalidade das nações do planeta. Influenciado pelo crescimento econômico do pós-guerra, Araújo Castro incorporou à política externa brasileira a preocupação com o desenvolvimento econômico das nações subdesenvolvidas, com o anticolonialismo e o anti-racismo e com a necessidade de defesa dos direitos humanos e preservação ecológica a nível mundial.

Liberal convicto, conseguiu sintetizar esses preceitos com a consciência que tinha da especificidade cultural do Brasil no contexto internacional. Assim, logrou colocar a política externa brasileira em estreita relação com as aspirações nacionais e projetar os interesses do Brasil no plano externo de maneira global. Diplomata de carreira, Araújo Castro foi presidente do Conselho de Segurança da ONU (1968) e, por sua inclinação ao diálogo, desfrutou de grande prestígio nos foros internacionais. Sua atuação resultou na ativa participação do Brasil em organizações como a OEA, a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e a própria ONU.

(Fonte: www.portalsaofrancisco.com.br)

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