António Gaio, diretor do Cinanima, Festival de Animação de Espinho

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António Gaio, diretor do Cinanima, cuja direcção assumiu em 1980Festival de Animação de Espinho e figura de referência no universo português desse gênero

Deve-se-lhe ainda uma História do Cinema Português de Animação que é ainda hoje uma referência.

António Gaio, que durante 35 anos dirigiu o mais importante festival português de cinema de animação, o Cinanima, em Espinho, morreu ontem de madrugada, aos 90 anos. A informação foi dada pela Cooperativa Nascente, que Gaio ajudou a fundar após o 25 de Abril e que é responsável pelo festival.

António Gaio, ainda interveio na preparação da 39.ª edição do Cinanima, que ocorreu em novembro de 2015.

Além das décadas de trabalho como diretor do Cinanima, funções que mesmo nos últimos anos estavam longe de ser honorárias – “não se fazia nada que não passasse por ele”, disse ao PÚBLICO o cineasta Abi Feijó –, António Gaio deixa ainda uma obra de referência sobre a animação portuguesa, publicada no contexto da Porto 2001: História do Cinema Português de Animação – Contributos.

“É ainda hoje o grande livro que temos sobre a história da animação portuguesa”, diz Abi Feijó. Sem esquecer o mérito de pesquisas anteriores, nas quais António Gaio pôde apoiar-se, o autor de Os Salteadores (prêmio especial do júri no Cinanima de 1993) elogia o “grande trabalho de levantamento das origens da animação portuguesa” empreendido por Gaio.

Deve-se-lhe ainda, lembra Feijó, “a identificação dos desenhos do primeiro filme de animação feito em Portugal”, permitindo que este viesse a ser reconstituído. Um colecionador encontrou-os num alfarrabista, conta o realizador, e levou-os a António Gaio, que reconheceu estar perante os desenhos que serviram de base ao desaparecido filme O Pesadelo de António Maria, realizado em 1923 por Joaquim Guerreiro.

Uma descoberta que permitiu depois ao realizador e produtor Paulo Cambraia, com a inevitável margem de incerteza de um projeto deste tipo, reconstituir o filme original, cuja importância, observa Feijó, não decorre apenas do seu estatuto de primeiro filme de animação português, mas de ser também “um dos primeiros filmes de animação políticos da história do cinema mundial”. O António Maria do título é o então presidente do ministério António Maria da Silva, que foi seis vezes chefe de Governo.

Nascido em Espinho no dia 18 de Julho de 1925, António Ferreira Gaio era filho de um casal que possuía uma padaria, e enquanto fazia o liceu em dois colégios locais (frequentou primeiro o Pedro Nunes e depois o de S. Luís), era frequente ter de se levantar às três da manhã para ajudar o pai a meter no forno a primeira fornada de broa, conta-se num documentário realizado em 2012, por ocasião de uma homenagem que lhe foi prestada no Centro Multimeios de Espinho, cuja sala de cinema foi então rebatizada com o seu nome.

Mas foi também o pai que lhe transmitiu o gosto pela BD, comprando-lhe as revistas da época, como O Senhor Doutor e O Mosquito, enquanto a mãe o levava ao cinematógrafo e alimentava o seu fascínio pelo cinema.

Bancário de profissão, as atividades culturais e associativas foram sempre a sua verdadeira paixão, tendo sido dirigente do Sporting Clube de Espinho e da Associação Acadêmica de Espinho e, depois do 25 de Abril, da Cooperativa Nascente, responsável pelo Cinanima. Teve ainda vasta colaboração na imprensa local, tendo ocupado diversos cargos em jornais como o Defesa de Espinho ou o Maré Viva, de que foi fundador.

A seguir ao 25 de Abril, integrou a comissão administrativa da Câmara Municipal de Espinho, da qual veio a ser, em 1977, vereador da Cultura. Mas a tarefa da sua vida, iniciou-a em 1980 ao assumir a direção do Cinanima. Em 1996, Espinho atribuiu-lhe a medalha de honra da cidade, e no ano seguinte recebeu das mãos de Jorge Sampaio a Comenda de Mérito Cultural.

Sócio fundador e membro da direção da Cooperativa Nascente em 1976, António Gaio ajudou a fundar, após o 25 de Abril, o Cinanima – Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho, tornando-se diretor do certame em 1980. Um grande adepto da banda desenhada e pelo cinema de animação, foi responsável pela criação de um dos mais importantes festivais internacionais de cinema de animação. “Sob a sua direção, o Cinanima tornou-se num dos mais conceituados festivais de animação, a nível internacional, sendo um dos poucos que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood considera essencial na seleção ao Óscar de Melhor Curta-Metragem.”.
No que diz respeito à competição nacional do Cinanima, o seu nome foi atribuído a um dos prêmios do certame, o Prêmio António Gaio – Melhor Filme na Competição Nacional. Na qualidade de diretor do Festival, integrou por duas vezes o júri dos concursos do Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia (atual ICA). Em 1997, recebeu a Comenda de Mérito Cultural, atribuída pelo Presidente da República.
António Gaio dedicou muitos anos ao movimento cineclubista em Portugal. Em 2000, publicou um livro pioneiro “História do Cinema Português de Animação – Contributos”, um importante livro sobre a história da animação portuguesa.

António Gaio morreu em 22 de agosto de 2015, aos 90 anos

(Fonte: http://www.cinema7arte.com)

(Fonte: http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia -1705608 – CULTURAIPSILON/ Por  – 21/08/2015)

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