Antonio Carlos Muricy, general e um dos líderes do golpe militar de 1964.

0
Powered by Rock Convert

Antonio Carlos Muricy (Curitiba (PR), 8 de junho de 1906 – Rio de Janeiro, 30 de março de 2000), general e um dos líderes do golpe militar de 1964. Antônio Carlos da Silva Murici nasceu em Curitiba (PR), em 8 de junho de 1906.

Muricy conspirou contra o vice-presidente João Goulart para impedi-lo de assumir a presidência, em 1961, e teve papel ativo no movimento que levou os militares ao poder com o golpe de 1964. Preso a uma cadeira de rodas devido à degeneração dos órgãos, há cinco anos o general não saía de casa.

Antonio Carlos Muricy faleceu em 30 de março de 2000, aos 93 anos, no Rio de Janeiro, de edema pulmonar.

(Fonte: http://www.terra.com.br/istoegente/36/tributo – TRIBUTO – 7 de janeiro de 2014)

 

 

 

 

Em 30 de março, presidente dos EUA comentou com assessor sobre ação do dia seguinte

 

Livro mostra que Johnson soube com antecedência do golpe de 64

 

Às 22h30 da noite de 30 de março de 1964, o presidente João Goulart estava discursando no auditório do Automóvel Clube do Brasil, na Cinelândia (onde já esteve o Museu de Cera e hoje funciona um bingo). Tinha diante de si cerca de 2.000 sargentos e suboficiais das Forças Armadas. Carregava consigo uma crise militar na qual associou o seu futuro a uma rebelião de marinheiros. A plateia gritava: “Manda Brasa, presidente”, e os principais trechos do discurso saíram de improviso. Eram brasa mesmo:
“Se os sargentos me perguntassem -estas são as minhas últimas palavras- donde surgiram tantos recursos para campanha tão poderosa, para mobilização tão violenta contra o governo, eu diria, simplesmente, sargentos brasileiros, que tudo isso vem do dinheiro dos profissionais da remessa ilícita de lucros que recentemente regulamentei através de uma lei. É do dinheiro maculado pelo interesse enorme do petróleo internacional.”

 

“Não admitirei o golpe dos reacionários. O golpe que nós desejamos é o golpe das reformas de base, tão necessárias ao nosso país.”
O presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), José Serra, estava em Copacabana, ouvindo um rádio de carro. Os generais Castello Branco, chefe do Estado Maior do Exército, e Antonio Carlos Muricy, que combinara assumir o comando das operações de combate, estavam em suas casas, um em Ipanema, o outro em Santa Teresa. O deputado Antonio Carlos Magalhães, em seu apartamento de Brasília, interrompendo um jogo de cartas com oficiais da FAB. Foram todos dormir achando que alguma coisa haveria de acontecer. O quê, quando e como, não sabiam.

 

“Enquanto Jango falava no Rio, Lyndon Johnson avisava a seu assessor que naquela noite haveria o golpe.”

 

Num trabalho que acaba de chegar às livrarias americanas, o historiador Michael Beschloss revelou que, enquanto Jango falava no Rio, o presidente Lyndon Johnson telefonava ao seu assessor de imprensa, George Reedy, avisando-o de que naquela noite seria lançado um golpe militar contra o presidente brasileiro:
“Se explodir nesta noite, você com certeza ficará sabendo amanhã de manhã.”
“Certo, nesse caso vamos precisar de uma reação. Se não explodir nesta noite, acho que devemos ficar no que foi planejado.”

 

Sabia-se há tempo o que se havia planejado. Desde setembro de 1963, a CIA (Central Intelligence Agency) estimara que Jango tinha apenas 50% de chances de terminar o mandato. Nos 50% restantes, o governo americano estava pronto para reconhecer imediatamente um regime que o derrubasse.

Desde o dia 20 de março, planejava-se no Pentágono a montagem de uma frota capaz de entrar num porto brasileiro controlado pelos golpistas, dando-lhes combustíveis e solidariedade. O que não se sabia era que a máquina dos serviços de informações e da diplomacia americana conseguiram produzir uma situação na qual o presidente dos Estados Unidos foi dormir pensando que poderia acordar com o golpe nas ruas do Brasil.

 

Jamais os Estados Unidos interferiram tão profundamente nos assuntos internos brasileiros como naquelas 72 horas. Passados 33 anos, esse episódio talvez encerre uma lição para os americanos que acreditam saber o que é melhor para os brasileiros.

 

O casamento da democracia americana com a ditadura militar brasileira produziu um período de lua-de-mel. Nesse período, chegou-se a tamanha impertinência, que um general de divisão americano mandou ao presidente Ernesto Geisel um cartão de identidade que lhe daria direito a fazer compras no supermercado exclusivo dos funcionários da embaixada em Brasília. (Geisel não se deu sequer ao trabalho de tirar o grampo que juntava o cartão à correspondência e anotou: “Não pretendo usar!”)

 

Três anos depois, os noivos descobriram que tinham casado com uma pessoa do mesmo sexo (seja ele qual for). Os generais brasileiros nunca entenderam direito por que o presidente Jimmy Carter pressionava o governo para que acabasse com a tortura. Os americanos, por sua vez, nunca entenderam direito por que Geisel mandou que fechassem sua comissão militar no Brasil, fizessem as malas e fossem embora.

 

William Jefferson Clinton, o Bill que hoje acha que sabe o que é melhor para a política comercial brasileira, tinha 18 anos quando Lyndon Johnson achava que sabia a melhor maneira e momento para defenestrar um presidente na casa da sogra.

 

A revelação feita por Beschloss, publicada no livro “Taking Charge – The Johnson White House Tapes, 1963-1964 (Tomando Conta – As Gravações de Johnson na Casa Branca)”, surpreendeu até o ex-embaixador americano, Lincoln Gordon.

 

“É intrigante que Johnson tenha conversado com Reedy sobre a iminência do golpe no dia 30 de março. Nós mandávamos relatórios frequentes para o presidente, mas tenho certeza de que nunca soubemos exatamente o dia em que o golpe estouraria”, disse Gordon ao repórter Euripedes Alcântara.

 

“Na noite do dia 30, eu fui dormir sem saber do golpe”, acrescentou na tarde de segunda-feira. “Eu só soube da coisa às 9h do dia 31, quando cheguei à embaixada. O coronel Vernon Walters (veja texto na página ao lado) estava com um grupo na minha sala e disse: ‘Começou um movimento militar em Juiz de Fora e está vindo nessa direção’. Estavam com ele o Gresham, chefe da estação da CIA, cujo primeiro nome não lembro, o Gordon Mein, que depois foi assassinado na Guatemala, e o conselheiro político. Ligamos os nossos rádios e fomos trabalhar. Mobilizamos até um americano que estava no aeroporto Santos Dumont ajudando a montagem de um equipamento de navegação. Pedimos que nos avisasse se acontecesse algo de anormal. Tivemos sorte. O avião do Jango estava lá, e ele nos avisou quando o viu decolar. Quando ele voou para Brasília (no dia 1º de abril), soubemos na hora.”

 

Gordon suspeita que a informação tenha sido mandada a Washington pelo solitário agente que a CIA mantinha em Belo Horizonte. (A CIA tinha entre 40 e 60 funcionários no Brasil. A maioria ficava no Rio e trabalhava no 6º andar do prédio da embaixada.)

 

Desse agente, ainda se sabe pouco. Era jovem e inteligente, estava na cidade havia bastante tempo e falava português com fluência. No dia 30 de março, ele mandou pelo menos dois telegramas a Washington, ambos com o mesmo título: “Planos dos Conspiradores Revolucionários em Minas Gerais”. Numa escala de 1 a 5, deu nota 3 à credibilidade do que transmitiu.

 

O primeiro informante era comandante de uma unidade militar (seu nome está censurado). Disse o seguinte: “O presidente Goulart precisa ser deposto, e deposto rapidamente. Já não existe possibilidade de uma solução legal. Se as forças armadas não agirem agora, ficarão sem liderança”.

 

Pediu petróleo (coisa que os americanos já estavam providenciando) e recomendou que se planejasse o seu desembarque pelo porto de Vitória. Apesar da ênfase na necessidade de agir rapidamente, esse oficial ressalvou que, apesar da inevitabilidade do golpe, “ainda não há data nem hora”.

 

O segundo informante dizia que a tropa iria para a rua naquela semana (o dia 30 de março era uma segunda-feira), talvez na próxima. Acrescentava: “A revolução não será resolvida rapidamente e será sangrenta”.

 

Os dois telegramas do jovem agente podem ter encalhado na papelada da CIA, pois há neles um registro indicando que só foram distribuídos no dia seguinte.

 

As antenas americanas de Belo Horizonte produziram outro documento precioso. No início da tarde do dia 30, o cônsul Herbert Okun foi ao gabinete do governador Magalhães Pinto. O pretexto era a entrega de um convite para um concerto sinfônico.

 

Conhecia suas maneiras lentas e calmas e achou-o agitado. Referindo-se à quebra da hierarquia produzida pela revolta dos marinheiros, Magalhães disse-lhe: “Isso nada é, senão comunismo”. O governador despediu-se lembrando que lutara muito para chegar aonde estava e que não tinha medo de briga: “Às vezes, é necessário lutar para preservar a paz”.
Okun saiu do palácio e foi para a máquina de escrever. Seu telegrama saiu às 17h, mas só foi distribuído para fora do Departamento de Estado na manhã do dia seguinte. Johnson estava em seu rancho texano. Admitindo-se que não poderia ter recebido a notícia por telefone (nesse caso, ele teria gravado), pode-se especular que algum assessor de alto nível enviou-lhe notícias por outro meio de comunicação.

 

Quem? No palpite, o chefe da CIA, John McCone, ou o assessor para assuntos de segurança nacional, McGeorge Bundy. Lincoln Gordon exclui dessa lista de palpites o secretário de Estado, porque, num telefonema para o Rio, à mesma hora, ele não mostrou saber nada além do que a embaixada lhe contava.

 

“Essas informações eram processadas em conjunto. Assim como vocês fazem nos jornais, juntando notícias que vêm de várias fontes. Sempre há alguém que junta tudo e tira uma conclusão. Eu não sei qual foi a fonte do presidente Johnson”, explica o diplomata.

 

De qualquer forma, uma coisa ele garante: “Naquela noite, eu fui dormir sem pensar que haveria um golpe no dia seguinte. Naquela época, falava-se num golpe por semana. É possível que eu tenha conversado com minha mulher a respeito do encontro com o Magalhães, mas é certo que não lhe pedi que tomasse qualquer cautela na manhã seguinte”.
Okun tinha duas filhas pequenas. Não lhe passou pela cabeça trocar informações com Gordon: “Essas coisas não se tratavam por telefone”. Com os ouvidos colados no Congresso e na imprensa, o chefe do escritório americano em Brasília, conselheiro Robert Dean, confundiu-se. Às 18h55 (hora do Rio, em todos os casos), a Casa Branca recebeu dele a informação de que fontes categorizadas garantiam a revolta em Minas e São Paulo. Menos de uma hora depois, recuou: “a ação militar adquiriu um sentido condicional que não tinha antes”.

 

Bond, Niles Bond, era o nome do cônsul americano em São Paulo. Ele teve duas fontes, e ambas cravavam que o golpe “virá em 48 horas”. Uma assegurava que a quartelada começaria em Minas (estava certo). Outra dizia que a explosão viria de São Paulo (estava errado).

 

As duas fontes perguntaram se os Estados Unidos podiam mandar uma frota rapidamente. Somando um pedido de combustível feito semanas antes pelo general Cordeiro de Farias ao coronel Walters, o pleito de Byington em Washington e o pedido do informante mineiro da CIA, já eram cinco os conspiradores que pediam a intervenção americana. O telegrama de Bond chegou à Casa Branca às 20h17 . Um minuto depois (o que é muito mais uma coincidência do que uma prova de que tenha feito soar um alarme), o secretário de Estado Dean Rusk colocou todos os consulados em estado de alerta contínuo.

 

“Johnson corria o risco de ter sua participação esquecida numa nota de pé de página”

 

Johnson era considerado um matuto. Gravava tudo o que falava na Casa Branca porque tinha uma obsessão histórica. (Kennedy gravava quase tudo) Sua conversa com o assessor de imprensa indica que na crise brasileira ele conduziu a máquina do Estado Americano com a precisão de um relógio.
Autorizou a preparação da frota antes que explodisse a crise dos marinheiros. Ao fim da tarde do dia 31, quando a tropa revoltosa ainda não começara a marchar, o comando militar americano já mandara que a frota se preparasse para zarpar. Seguindo uma diretriz estabelecida em setembro do ano anterior, reconheceu o novo governo com uma rapidez que lhe escancarava o apoio, no dia 2 de abril. Jango ainda estava em território brasileiro (numa de suas fazendas, escondido).
Johnson gritou “gol” logo que pôde, antes de a bola entrar na rede. Se guardou as fitas para preservar a sua memória e a forma pela qual supunha que se deviam defender os interesses dos EUA e do Brasil, acertou na mosca. Como a movimentação militar, codinome “Operação Brother Sam”, foi planejada, acionada e desmontada na mais absoluta clandestinidade, morreu sem poder pronunciar seu nome.
Nunca contou o que sabia. Ironizava a sofrida comparação de seus modos banais com o cosmopolitismo de John Kennedy, seu antecessor: “Sou um presidente caipira que não foi a Harvard, mas o Brasil ainda não virou um país comunista”. Corria o risco de ter sua participação no episódio esquecida numa nota de pé de página. Como ele próprio disse no dia 3 de abril: “Espero que a gente ganhe algum crédito, em vez de pancada”. Alguns minutos de fita colocaram-no no papel que mais gostava de desempenhar: o de esperto.

(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil – BRASIL / MEMÓRIA / por ELIO GASPARI Colunista da Folha – São Paulo, 15 de outubro de 1997)

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados.

 

Powered by Rock Convert
Share.