Antônio Cândido Câmara Canto, embaixador brasileiro, da embaixada do Brasil no Chile

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A atuação de diplomatas brasileiros no mais violento e ousado golpe militar da América Latina, o 11 de setembro de 1973

Antônio Cândido Câmara Canto (25 de setembro de 1910 – Rio de Janeiro, 1977), embaixador brasileiro, sua última missão diplomática fora a chefia da embaixada do Brasil no Chile, de 1968 a 1975. O embaixador chefiou a representação do Brasil no Chile entre 1968 e 1975.

Eram 6h da manhã de 11 de setembro de 1973 quando fuzileiros navais chilenos ocuparam a cidade balneária de Valparaíso, começando assim uma fulminante operação militar para derrubar o presidente socialista Salvador Allende. Às 9h30, na capital, Santiago, soldados e tanques do Exército abriram fogo contra o Palácio de La Moneda, a sede do governo, de onde o presidente prometera resistir até a morte.

Por volta do meio-dia, caças Hawker Hunter da Força Aérea bombardearam o La Moneda, criando a cena que simbolizaria o dramático fim de uma era de sonhos generosos. Três horas depois, Allende se suicidaria para evitar ser capturado ou morto pelos militares rebelados.

O golpe, que seria assumido pelo comandante do Exército, general Augusto Pinochet – que na verdade aderiu na última hora –, provocou cerca de dez mil mortes apenas no primeiro mês. Ao longo de 17 anos de vigência, o regime pinochetista produziu ainda mais de três mil “desaparecidos”. Trinta anos depois, enquanto Allende é homenageado pelo atual presidente chileno, Ricardo Lagos, o veleiro La Esmeralda, que serviu de centro de tortura e prisão em Valparaíso, foi alvo de protestos. Descobre-se que, naqueles trágicos dias, diplomatas brasileiros navegaram por mares nunca dantes navegados: atuaram nos bastidores da conspiração que provocou a derrocada do governo constitucional e a consolidação da ditadura liderada por Pinochet.

O primeiro e mais importante diplomata a dar respaldo aos conspiradores foi o próprio embaixador do Brasil no Chile, Antônio Cândido Câmara Canto, que chefiou a representação entre 1968 e 1975.

Nome de rua – Anticomunista convicto, Câmara Canto ficou famoso por entrar no sofisticado Club de la Unión, em Santiago, poucos dias depois do golpe e gritar, para uma platéia repleta de militares: “Ganhamos!” Recentemente, o jornal chileno La Tercera revelou que o embaixador era conhecido como “o quinto membro da junta”, dada sua profunda afinidade com o quarteto militar que assumiu com a derrubada do governo e o fechamento do Congresso. Os laços de ternura permaneceram mesmo depois de sua morte, em 1977, quando o embaixador virou nome de rua em Santiago.

Os serviços que prestou à ditadura chilena foram muitos. Além de ter sido o primeiro diplomata a reconhecer a junta militar, Câmara Canto fez gestões para a liberação de um empréstimo emergencial de US$ 100 milhões do Brasil ao governo do Chile. No mesmo dia do golpe, a embaixada
que comandava começou a distribuir 70 toneladas de medicamentos e alimentos, a título de “ajuda humanitária”. A operação só terminou no dia 26 de setembro.

Câmara Canto teria também sido fundamental no papel que o Brasil desempenhou, como mediador entre os militares chilenos e o governo nacionalista do general Juan Velasco Alvarado (1968-1975), no Peru. O golpe só teria sido desfechado depois que a neutralidade de Alvarado foi garantida. Os generais chilenos temiam que os peruanos utilizassem o pretexto de uma guerra civil para atacar o Chile e retomar a província de Concordia, que o Peru perdera ao ser derrotado na chamada Guerra do Pacífico, quase 100 anos antes.

Não há dúvida, porém, de que a intervenção estrangeira a favor dos militares golpistas mais contundente e eficaz foi a dos Estados Unidos. Paradoxalmente, um ex-embaixador americano no Chile foi um dos primeiros a tornar pública a atuação de Câmara Canto. “O embaixador brasileiro no Chile era muito admirado pelos militares chilenos.

Embora comece a se destacar como o principal elo brasileiro com os militares golpistas, Câmara Canto estava no Chile no papel de embaixador. Seu comprometimento com o regime de força deu-se por opção ideológica.
Câmara Canto faleceu em 22 de março de 1977, aos 66 anos, no Rio de Janeiro.

(Fonte: Veja, 13 de novembro de 1985 – Edição 897 – HISTÓRIA – Pág: 91)

(Fonte: Veja, 30 de março de 1977 – Edição 447 – DATAS – Pág; 83)
(Fonte: www.istoe.com.br/reportagens – Edição: 1771- Por Luiza Villaméa – Colaboraram: Eduardo Hollanda e Hélio Contreiras – 10.Set.03)

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