Sir Anthony Caro, escultor inglês, considerado um dos artistas mais importantes de sua geração

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Anthony Caro, escultor que “descobriu um caminho para a abstração”

 

 

Sir Anthony Caro (New Malden, Londres, 8 de março de 1924 – 23 de outubro de 2013), escultor inglês, que ficou conhecido ao romper com a tradição de mostrar as obras isoladas, em espécies de pilastras.

Sir Anthony Caro, foi um artista proeminente do período do pós-guerra que criou uma nova linguagem para a escultura abstrata nos anos 60 com montagens horizontais, em cores vivas, de aço soldado, que pareciam tanto coreografadas quanto construídas, nasceu em 8 de março de 1924 em New Malden, foi celebrado como o mais importante escultor britânico da sua geração.

Ele se tornou conhecido no mundo da arte com uma exposição na Whitechapel Gallery, em 1963, em que exibiu esculturas abstratas de aço, de colorido intenso, rompendo com a tradição de mostrar as obras isoladas, em espécies de pilastras. Em vez disso, as dispôs diretamente sobre o chão, abolindo a distância da peça com o público, no que passou a ser imediatamente copiado por outros artistas. Engenheiro de formação, começou a estudar escultura na Royal Academy Schools, e trabalhou, nos anos 1950, como assistente de outro gigante britânico dessa arte, Henry Moore (1898-1986).

Antes assistente do escultor Henry Moore, Caro se estabeleceu como um escultor em ascensão no Reino Unido em meados dos anos 50, com obras expressionistas rústicas que retratavam figuras humanas em dificuldades, presas à gravidade e carregando o peso de sua própria carne.

Ele experimentou uma conversão artística em 1959 em uma viagem aos Estados Unidos, na qual foi exposto às esculturas de Smith e obras dos pintores Kenneth Noland, Morris Louis e Jules Olitski.

“A América me fez ver que não há barreiras e não há regulações”, ele disse ao crítico Lawrence Alloway em 1961.

Fortemente influenciado pelo diálogo contínuo com o crítico Clement Greenberg, Caro abraçou o uso por Smith de materiais industriais, o que implicava em uma ruptura radical com as tradições da escultura monumental.

Ele começou a trabalhar com placas de aço, vigas, tubos de metal e emaranhados de cabos, materiais sem nenhuma associação com a história da arte. Ele aplicava cores vivas às suas formas geométricas, que davam ênfase às qualidades puramente pictóricas de sua obra, em vez das qualidades esculturais tradicionais de massa, peso e volume. A cor dava um senso de leveza que fazia suas obras parecerem suspensas no ar, tocando o solo levemente em alguns poucos pontos.

“Eu tento eliminar as referências e fazer uma escultura realmente abstrata, compondo as partes das peças como notas musicais”, ele disse a William Rubin, que, como diretor do departamento de pintura e escultura do Museu de Arte Moderna, organizou a primeira retrospectiva americana da obra de Caro em 1975.

Ele prosseguiu: “Assim como uma sucessão delas forma uma melodia ou uma sonata, eu pego unidades anônimas e tentou torná-las coerentes de uma forma aberta em um todo escultural. Assim como a música, eu gostaria que minha obra fosse uma expressão de sentimentos em termos do material, e assim como a música, eu não quero que a totalidade da experiência seja sentida de uma só vez”.

As montagens articuladas de Caro, derivadas do construtivismo e do cubismo, pareciam negar as premissas consagradas pelo tempo da escultura monumental. Ela as retirou do pedestal tradicional e as colocou no chão, no espaço do espectador, onde sua horizontalidade baixa forçava o olhar para baixo, em vez de para cima.

Os espectadores tinham que circunavegar um Caro, vê-lo de todos os ângulos e permitir que as formas, que eram organizadas no que Fried já chamou de relacionamento sintático, fizessem uma declaração cumulativa.

A obra de Caro evoluiu de formas inesperadas. Ele abandonou a cor nos anos 70 e começou a produzir formas maiores, fechadas, feitas frequentemente de aço enrolado, não tratado, que ele adquiria nas siderúrgicas.

Ao mesmo tempo, ele embarcou em uma série extensa de esculturas de mesa em pequena escala. Por algum tempo, ele criou a “sculpitecture” (escultitetura) –obras grandes que convidavam o espectador a entrar e explorar.

Nos anos 90, ele redescobriu a figura humana, misturando barro, aço e madeira, em obras como “A Guerra de Troia”, uma instalação de 40 esculturas descrevendo os heróis e deuses da “Ilíada”, e “O Juízo Final”, uma instalação sombria, inspirada pela guerra nos Bálcãs, dominada por uma grande entrada de madeira com um sino de faiança no alto.

Ele também colaborou com arquitetos célebres, notadamente com Frank Gehry, com quem ele construiu um vilarejo de madeira em 1987. Com Norman Foster e com o engenheiro Chris Wise, ele projetou a Passarela do Milênio de Londres, que cruza o Tâmisa entre a Catedral de São Paulo e o Tate Modern.

Anthony Alfred Caro nasceu em 8 de março de 1924 em New Malden, Surrey, a sudoeste de Londres. Quando tinha 3 anos, seu pai, um corretor de ações, se mudou com a família para uma fazenda em Churt, Surrey.

Após frequentar a Charterhouse School, onde fazia esculturas em argila, ele estudou engenharia no Christ’s College, Cambridge, onde se formou em 1944.

Ele serviu na Aviação Naval Britânica da Marinha Real após deixar Cambridge. Desafiando seu pai, ele estudou arte por um ano no Regent Street Polytechnic Institute após concluir o serviço militar e então se matriculou na escola da Academia Real de Arte.

Em 1949 ele se casou com Sheila Girling, uma pintora que estudava na Academia Real. Ele a deixa, assim como seus dois filhos, Timothy e Paul, e três netos.

Enquanto estudava na Academia Real, Caro foi assistente de Moore, que o apresentou ao mundo de influências esculturais não disponíveis na academia. Ele também começou a dar aulas duas vezes por semana na Saint Martin’s School of Art, onde exerceu uma influência poderosa sobre os estudantes de escultura por 25 anos.

Suas primeiras obras expressionistas, como “Homem Segurando Seu Pé” e “Homem Tirando Sua Camisa”, tinham um aspecto físico agressivo, que impressionaram os críticos e tornaram Caro um artista a ser acompanhado, quando ele começou a expor em meados dos anos 50.

Mas Caro estava desgastado. “Eu cheguei ao fim de uma certa forma de trabalhar. Eu não sabia para onde ir”, ele disse à “Art Monthly” em 1979. Foi a essa altura que ele conheceu Greenberg, que visitou seu estúdio em Londres em 1959 e o encorajou a seguir em uma nova direção.

Após visitar os Estados Unidos, ele produziu a primeira de suas obras abstratas, “Vinte e quatro horas” (1960), um trapezoide, um disco redondo e um quadrado arranjados um atrás do outro.

Essa incursão inicial na abstração levou a esculturas leves, de forma aberta, como “Certa Manhã”, um arranjo de placas de aço e linhas ao longo de um eixo horizontal, e culminou em obras como “Pradaria” (1967), cujos tubos em amarelo-ocre próximos do chão faziam alusão às vastidões da paisagem do Meio-Oeste, e “Orangerie” (1969), que sugeria um recorte de Matisse executado em aço.

Nos anos 70, ele abandonou a cor e começou a produzir esculturas mais livres e mais verticais em formas não geométricas, frequentemente usando aço envernizado e enferrujado. Elas incluíam vigas distorcidas na série “Straight”, as 14 obras feitas em 1972 usando sucata de aço de borda suava de uma siderúrgica italiana, e imensas placas de aço da York Steel Company, em Toronto, que ele posicionou com guindastes para a série “Flats”.

“As coisas que ele uniu nunca estiveram unidas antes”, escreveu o crítico John Russell no “New York Times” em 1975, “e não havia motivo para supor que algum dia estariam, ou que pudessem ser usadas além de um fim prático”.

Após visitar a Grécia em 1985, e estudar atentamente os frisos clássicos, ele deu início a uma série de obras narrativas em grande escala, incluindo “After Olympia”, um panorama com mais de 22 metros, inspirado no templo de Zeus em Olímpia. Exposta pela primeira vez no jardim de esculturas no terraço do Metropolitam Museum of Art em 1988, ela faz citação aos humanos e cavalos do original em formas retorcidas e curvas de aço. (O terraço do Metropolitan também recebeu outra exposição de Caro, de cinco esculturas, em 2011.)

Ao expandir os limites da abstração, “After Olympia” refletia a inquietação que levou sir Anthony, que foi nomeado cavaleiro em 1987, a reincorporar figura e história em sua obra, principalmente em “A Guerra de Troia”, “O Juízo Final” e em “Os Bárbaros” (2002), uma série de esculturas em faiança, madeira e aço retratando guerreiros montados a cavalo.

“Eu acho que é minha função tentar promover um avanço da escultura, mantê-la em movimento, mantê-la viva”, ele disse ao “The Observer” de Londres em 1999. “E você não a mantém viva apenas fazendo o que você faz; você a mantém viva tentando fazer coisas que são difíceis.”

 

Na Floresta, 2012, Aço, enferrujado (Foto: Abstract Critical/ Reprodução)

 

Para o diretor da Tate Gallery, Nicholas Serota, Caro era um dos mais destacados escultores dos últimos 50 anos. “Foi um homem de grande humildade e humanidade, cuja criatividade abundante, mesmo quando já se aproximava dos 90 anos, ainda era evidente nos trabalhos recentes exibidos neste ano”, observou, em comunicado. Em junho de 2013, ele mostrou novas peças na exposição “Park Avenue series”, na Gagosian Gallery, em Londres.

Na época, a galeria publicou, as seguintes palavras do artista: “Uma das coisas mais importantes em escultura é a forma como o público é convidado a olhar para ela. Quer olhe para cima, ande à volta da escultura, quer a escultura espirale como um Michelangelo ou rode como um Brancusi – a forma como será vista sempre ditou a forma como trabalho”. Atualmente, há uma exposição de seus trabalhos no Museo Correr, em Veneza, prevista para terminar em 27 de outubro de 2013.

Caro ainda ia diariamente ao estúdio que mantinha há 40 anos em Londres, e descartava a possibilidade de se aposentar – seria entediante ficar sem o seu trabalho, dizia.

Anthony Caro morreu em 23 de outubro de 2013, aos 89 anos, de ataque cardíaco.

Em toda a arte moderna houve apenas um punhado de escultores realmente grandes, e Anthony Caro é um deles“, disse Michael Fried, um professor de história da arte da Johns Hopkins e um dos primeiros críticos a escrever sobre Caro nos Estados Unidos. “Ainda mais que David Smith, seu grande antecessor, ele descobriu um caminho para a abstração na escultura.”

(Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura – CULTURA – RIO DE JANEIRO – 24 de outubro de 2013)

(Fonte: http://m.noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2013/10/25 – NEW YORK TIMES/ Por William Grimes* – *Daniel E. Slotnik contribuiu com reportagem – 25/10/2013)

 

 

 

 

 

 

Caro: o maior escultor do planeta

Como no piano – Fruto de uma família judia, cujas origens remontam ao rabino Joseph Caro, famoso pesquisador dos dogmas talmúdicos no século XVII, Anthony Alfred Caro nasceu em New Malden, subúrbio de Londres, em março de 1924.

Com 15 anos começou a modelar argila. Aos 23 entrou para a Royal Academy e aos 27 se tornou assistente de Henry Moore. Era, naquel tempo, um escultor meramente figurativo, habilíssimo em retratar o que chamava de “cenas da vida real”.

Em 1959, depois de uma excursão pelos Estados Unidos, conheceu o colega americano David Smith e o crítico Greenberg – que o estimularam a se transferir para o abstracionismo.

Anthony Caro principiou a mudança aprendendo geometria. Depois, aderiu definitivamente ao metal. E em pouco mais de dois anos já estava espalhando por museus do mundo todo seu novo trabalho, uma série de esculturas enormes, elaboradas a partir de retângulos dobrados, linhas retorcidas, triângulos partidos ao meio.

Em vez de modelar no barro para depois extrair os bronzes, passou a elaborar grandes blocos e lâminas de aço inoxidável, os quais cortava, envergava, soldava ou rebitava, numa sequência aleatória de gestos improvisados, “como se estivesse sentado a um piano, extraindo os sons que viessem à cabeça.”

A atitude mais anticonvencional de Anthony Caro, contudo, viria quando decidiu abandonar os pedestais que sempre suportaram as esculturas, plantando-as no chão. “É no solo, afinal, que se encontram todas as coisas da vida.”

(Fonte: Revista Veja, 23 de julho de 1975 – Edição 359 – ARTE – Pág: 92/93)

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