Andrei Tarkovsky, talentoso cineasta russo. Dirigiu Solaris, filme de ficção científica de 1972

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Andrei Tarkovsky (Zavrazhye, 4 de abril de 1932 – Paris, 28 de dezembro de 1986), o mais talentoso cineasta russo dos últimos vinte anos. Dirigiu Solaris, filme de ficção científica de 1972 em que os astronautas empreenderam não apenas uma jornada interplanetária mas também uma viagem de introspecção e de indagações sobre o destino do homem e o papel da ciência.

Seu sentimento de religiosidade e ceticismo político profundo, sempre expostos em suas obras, o incompatibilizaram com o regime soviético.

Em 1984 abandonou a URSS e passou a viver em Paris. Além de Solaris, seu último filme, O Sacrifício, foi premiado no Festival de Cannes.

Ambos foram exibidos no Brasil. Andrei Tarkovsky morreu dia 28 de dezembro de 1986, aos 54 anos, de câncer, em Paris.

(Fonte: Veja, 7 de janeiro de 1987 –- Edição 957 –- DATAS -– Pág: 67)

 

 

 

A arte impossível

O premiado cineasta Tarkovsky foge para o Ocidente e denuncia a dura repressão cultural na Rússia

O cineasta russo Andrei Tarkovsky, duas vezes vencedor no Festival de Cannes e uma vez em Veneza, conta histórias exemplares em seus filmes.

Andrei Roublev, de 1965 narra o drama de um monge medieval, pintor de ícones, que abandona sua arte diante do horror e da crueldade de seu tempo. Solaris, filme de ficção científica feito em 1971, descreve as angústias de um grupo de astronautas forçados a reconhecer os erros de suas vidas até então. E Nostalgia, de 1983, conta a trajetória de um professor soviético que tenta encontrar sua identidade na Itália e se suicida quando fracassa.

Autor de obras sem nenhum caráter contestatório, povoadas por personagens frágeis e líricos, Tarkovsky, mesmo premiado internacionalmente, caiu no ostracismo a que são relegados na União Soviética os artistas que não aderem aos rígidos preceitos da arte pragmática e ideológica do “realismo socialista”.

 

SEM AJUDA – O primeiro longa-metragem de Tarkovsky, A Infância de Ivan – a história de um garotinho que serve de pombo-correio para os soldados russos que enfrentam os invasores alemães na II Guerra Mundial -, já lhe valera o Leão de Ouro no Festival de Veneza, em 1962, e elogios em casa.

Mas, no total, o cineasta conseguiu fazer apenas seis filmes em 24 anos de carreira. “Isso equivale a ficar dezoito anos à toa”, disse Tarkovsky em Milão. Transformando sua própria vida numa parábola de seus filmes, Andrei Tarkovsky, que passara os últimos dois anos vivendo e trabalhando na Itália, anunciou em 16 de julho de 1984, que não voltaria mais à União Soviética e que pedira asilo nos Estados Unidos.

No dia seguinte, cercado e apoiado por outros artistas russos que o precederam na rejeição ao sistema soviético e se exilaram no mundo capitalista, como o diretor de teatro Yuri Lyubimov (1917-2014), o violoncelista e maestro Mstislav Rostropovich (1927-2007) e o escritor Vladimir Maximov (1930-1995), Tarkovsky explicou a jornalistas do mundo inteiro, em Milão, as razões do seu gesto.

Sem conseguir trabalho, o cineasta frequentemente passou por dificuldades financeiras extremas. Quando Tarkovsky teve uma grave doença cardíaca, não recebeu nenhuma ajuda oficial. “Em certos momentos tinha que andar só a pé porque não tinha no bolso o suficiente para pagar o ônibus”, contou ele.

Mesmo sem sofrer nenhuma condenação ostensiva, Tarkovsky vivia nos últimos tempos a aterradora espécie de crueldade burocrática que marcava o seu cotidiano: projetos nem aprovados nem rejeitados, cartas não respondidas, filmes não exibidos. Tarkovsky expôs seu desalento: “Muitas vezes me perguntei por que esses filmes irritavam tanto os meus superiores – mas jamais consegui encontrar uma resposta adequada”.

 

 

(Fonte: Veja, 18 de julho de 1984 – Edição 828 – UNIÃO SOVIÉTICA – Pág: 36/37)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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