Alexina Magalhães Pinto, uma das pioneiras na renovação do ensino e das leituras infantis

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A mineira ruidosa

Alexina: de revolucionária a tradição

Alexina Magalhães Pinto (1870-1921), folclorista e professora mineira, uma das pioneiras nos esforços de renovação do ensino e das leituras infantis. Inicia, com a coletânea folclórica As Nossas Histórias, a produção de uma série de livros infantis que expressam as diretrizes almejadas na época. Considerada a primeira folclorista brasileira e a primeira a usar material folclórico na elaboração de livros infantis de cunho educativo. Considerada pioneira na aplicação das diversas formas da cultura oral à pedagogia. Alexina manejou a cultura popular, seja corrigindo a fala do povo, ou a métrica das canções, valorizando os aspectos morais dos provérbios, criando e recriando contos populares, edulcorando seus finais, enfim, fazendo uso desse material para educar física, moral e intelectualmente as crianças. Desse modo, a produção bibliográfica da folclorista e a historiografia sobre o tema, ajudam a revelar e, ou construir os conflitos, tensões e projetos dessa conjuntura histórica marcada pela preocupação com a construção de uma identidade nacional brasileira.

Coube a Alexina a reação pioneira no Brasil contra o b-a-bá ou cartilha soletrada e foi precursora, na escola primária, do método global. Foi quem usou pela primeira vez material folclórico na elaboração de livros didáticos, contrariando a tendência da época de excluir histórias populares e folclóricas dos livros didáticos, ou mesmo da literatura cívico pedagógica voltada às crianças, através da reelaboração ou recriação de histórias folclóricas, brincadeiras infantis e cantigas populares ou de roda.

Foi inovadora ao acreditar no potencial educativo da cultura popular, acreditava ser de fundamental importância a criação de uma literatura nacional voltada para as crianças e jovens brasileiros, além da criação e ampliação de bibliotecas destinadas à esse público. Já no primeiro dia do ano letivo, costumava rasgar as tradicionais cartilhas para não habituar seus alunos a lerem pelo “superado método de associação de palavras”. Ela só admitia a aprendizagem global, mais tarde adotada em todas as escolas.

Ela foi a primeira professora que substituiu a palmatória pelas cantigas de roda e os temíveis castigos pelos exercícios de memória e dicção. Para alunos mais indisciplinados, ao invés de punições corporais, eram obrigados a decorar versos difíceis (“O bispo de Constantinopla é um bom constantinopolitanizador”), declamando-os em voz alta com um lápis na boca.

A primeira mulher de uma conservadora família mineira a se insurgir contra os rígidos costumes de sua terra e de sua época. Fa z parte de uma respeitável galeria das tradições estaduais. Criticada, atacada e até mesmo odiada pela população de São João del Rei no fim do século XIX. Seus quatro livros que ela escreveu sobre folclore, já publicados em Portugal e na França. Com seus hábitos desinibidos, a vida livre e as teorias avançadas da jovem Alexina, muitas vezes não perdoados pelos seus moradores da época. Afinal, em 1890, com vinte anos, ela já tinha provocado seu primeiro grande escândalo: fugiu para a Europa. E no dia em que voltou à cidade, um ano depois, vestia uma estranha roupa com que desfilou por praças e ruas montada numa bicicleta – estranho e desconhecido aparelho na época. A hostilidade da população manifestou-se numa chuva de tomates e ovos podres e numa ameaça de excomunhão, que só não se concretizou por causa da intervenção de alguns parentes junto ao bispo de Mariana. Finalmente, após um casamento infeliz, Alexina abandonou de uma vez os severos princípios da moral familiar e se dedicou completamente ao ensino – logo também rompeu francamente com os velhos e pouco eficazes métodos educacionais.

Um trem – Seus métodos de vanguarda, além de advertências e conselhos às professoras, estão incluídos em quatro livros (“As Nossas Histórias”, “Os Nossos Brinquedos”, “Cantigas de Criança e do Povo” e “Danças Populares e Provérbios Usuais”), onde Alexina já sugeria a separação dos alunos em grupos, “de acordo com as dificuldades pedagógicas, para evitar o acanhamento da criança em contato social”. A revolucionária mineira (morta no dia de seu aniversário, atropelada por um trem no Estado do Rio de Janeiro) é citada em várias obras de autores modernos. E o reconhecimento de seu valor e a importante redescoberta de alguns fatos de sua vida valeram trinta anos de pesquisas. Foi o próprio necrológio de Alexina, publicado num exemplar do “Minas Gerais”, jornal oficial do Estado na época, guardado no Instituto Histórico de Minas. Na notícia, o redator não falava de sua valiosa colaboração na transformação do sistema educacional, mas comentava contrafeito quase todos os escandalosos episódios que marcaram a vida.

Obras:

– 1907: Contribuição do folclore brasileiro para a biblioteca infantil

– 1907: As Nossas Histórias

– 1909: Os Nossos Brinquedos

– 1916: Cantigas de Criança e do Povo e Danças Populares

– 1971: Provérbios, Máximas e Observações Usuais

– (s/d) Cantigas das Crianças e dos Pretos

(Fonte: Veja, 5 de agosto, 1970 – Edição n.° 100 – COMPORTAMENTO – Pág; 58) – (Fonte: www.unicamp.br – www.teses.usp.br/teses/disponiveis – Por Flávia Guia Carnevali)

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