Alexandre de Gusmão, principal articulador do Tratado de Madri, que redefiniu as fronteiras entre a América portuguesa e a espanhola, mudando o ultrapassado Tratado de Tordesilhas

0
Powered by Rock Convert

Alexandre de Gusmão, dá nome à praça em Cerqueira César

 

Alexandre de Gusmão (Santos, SP, 17 de julho de 1695 – Lisboa, 31 de dezembro de 1753), escritor e poeta, responsável por boa parte do atual traçado do mapa do Brasil.

 

Alexandre de Gusmão é considerado um dos pioneiros da Diplomacia Brasileira, sobretudo por sua atuação nas negociações do Tratado de Madri, de 1750 (revogado em 1761), quando ocorreu a primeira tentativa entre Portugal e Espanha de delimitarem seus respectivos domínios na América do Sul. Sua contribuição pode ser considerada como precursora da aplicação dos princípios do Iluminismo ao relacionamento internacional, ou seja, a adoção dos princípios do uti possidetis, segundo o qual cada soberania tem direito às terras que efetivamente ocupa, e dos limites naturais, que decorrem de acidentes geográficos notáveis, como rios e serras.

 

Com trabalhos apresentados à Corte espanhola, Alexandre de Gusmão comprovou que as usurpações luso-espanholas em relação à linha de Tordesilhas (1494) eram mútuas, com as portuguesas na América (parte da Amazônia e do Centro-oeste) sendo compensadas pelas da Espanha na Ásia (Filipinas, Marianas e Molucas).

 

Alexandre cresceu em Santos, no litoral paulista, e foi para Portugal aos 13 anos, na companhia de um dos seus doze irmãos. Estudou teologia na Universidade de Coimbra e, depois, direito na Universidade Sorbonne, na França, onde despontou para a diplomacia quando foi convidado para ser secretário do então embaixador em Paris, com 19 anos. Após ocupar um posto em Roma, onde fez amigos poderosos como o cardeal Lambertini (que viraria posteriormente o papa Bento XIV), o santista tornou-se secretário do rei em 1730 e entrou no círculo de confiança da autoridade máxima. Durante todo o reinado de dom João V, quem mandava era o gabinete íntimo do rei.

 

Em 1750, Gusmão deixou sua marca na história brasileira: foi o principal articulador do Tratado de Madri, que redefiniu as fronteiras entre a América portuguesa e a espanhola, mudando o então ultrapassado Tratado de Tordesilhas, de 1494. O chamado Mapa das Cortes, que o leitor vê na imagem abaixo, foi elaborado pelo estudioso e serviu de base para o acordo: o traçado definido na época representa dois terços do atual território brasileiro. “Ele deu a base fundamental, o resto foi o Império e o Barão do Rio Branco (1845-1912), que realizaram acertos relativamente pequenos”, explica o escritor. O nome de Gusmão não consta no documento. “Quem assinou foi um nobre que ocupava o cargo que seria hoje o de ministro das Relações Exteriores.”

 

© Divulgação – Mapa das cortes, com traçado proposto para a fronteira brasileira.

 

Em meio à insatisfação da aristocracia, irritada por receber ordens de um nativo da colônia e com a morte de dom João, Gusmão saiu do governo com desafetos, como o Marquês de Pombal, e morreu doente, em 1753, sem reconhecimento. “O Rio Branco foi um dos primeiros que deram o devido valor a ele quando estudou a questão das fronteiras. Ele descobriu um exemplar do Mapa das Cortes em uma biblioteca de Paris”, explica o estudioso Goes Filho.

 

Gusmão, que também dá nome a uma fundação do Ministério das Relações Exteriores, foi homenageado na capital paulista em 1995 com um busto na praça que leva seu nome, localizada atrás do Parque Trianon, na região da Avenida Paulista. A placa de identificação da obra, há tempos desaparecida, representa um pouco do apagamento da figura histórica, esquecida durante mais de um século.

 

Alexandre de Gusmão (1695-1753) foi tema de um livro lançado pela Editora Record em fevereiro de 2021. A obra é de Synesio Sampaio Goes Filho, 81, ex-embaixador em Bogotá, Lisboa e Bruxelas e estudioso da história da diplomacia brasileira.

 

© Reprodução/Academia Paulista de Letras capa do livro Alexandre de Gusmão (1695- 1753): o Estadista que Desenhou o Mapa do Brasil e, ao lado, foto de seu autor, Synesio Sampaio.

 

O livro do diplomata começa com um momento histórico da colônia, quando Portugal extraiu rios de ouro de Minas Gerais, e depois passa pela vida e a atuação política do brasileiro. A obra foi um pedido da Fundação Alexandre de Gusmão, braço cultural do Itamaraty, durante o governo Temer, e entregue em 2019 na gestão Bolsonaro.

A publicação, no entanto, foi vetada, porque o prefácio foi escrito por Rubens Ricupero, diplomata e ex-ministro do governo Itamar Franco, que já teceu críticas ao chanceler Ernesto Araújo. “Não concordei que tirassem o Rubens, um grande conhecedor da história diplomática. Queriam publicar sem o prefácio. Foi um mal que me fez bem. Depois que saiu na imprensa, as editoras me procuraram, e agora a obra vai ter mais circulação”, cutuca o autor.

(Fonte: www.portalsaofrancisco.com.br)

(Fonte: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – NOTÍCIAS / BRASIL / por Guilherme Queiroz – 12/03/2021)

Publicado em VEJA São Paulo de 17 de março de 2021, edição nº 2729

Powered by Rock Convert
Share.