A primeira mulher a assumir o trono da Inglaterra

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A trágica história de Lady Jane, a jovem ‘rainha dos 9 dias’ presa na Torre de Londres e executada por traição

Num país dividido entre protestantes e católicos, a adolescente foi a primeira mulher a ocupar o trono inglês, mas perdeu apoio e o poder logo em seguida.

 

 

Joana Grey (em inglês: Jane Grey; Bradgate Park, Leicestershire ou Londres, c. 1536/1537 – Torre de Londres, 12 de fevereiro de 1554), mais conhecida como Lady Jane, é lembrada como uma vítima inocente do cruel jogo de poder de sua própria família. A jovem de apenas 16 anos — que foi descrita como alguém precocemente inteligente e como uma das mulheres mais cultas de seu tempo — não conseguiu superar a ambição daqueles mais próximos a ela. Depois de um breve período (apenas nove dias) governando a Inglaterra, terminou encarcerada e executada em 1554.

 

Além disso, a história não esteve do seu lado: Lady Jane Grey não é listada entre os monarcas oficiais ingleses. Seu trágico destino passou despercebido dentro da complexa trama da dinastia Tudor, um dos períodos históricos mais populares da história inglesa.

Quem foi essa jovem conhecida como a “rainha dos nove dias”? E quem foram aqueles por trás das disputas políticas que terminaram com sua execução?

Os filhos de Henrique 8º

Para entender a história de Lady Jane é preciso voltar ao reinado de Henrique 8º, segundo monarca da dinastia Tudor que comandou a Inglaterra entre 1509 e 1547. Recém-coroado, Henrique 8º casou-se com Catarina de Aragão, que, após um aborto espontâneo e a morte de um filho recém-nascido, deu à luz uma menina chamada Maria. O rei, porém, desejava um filho do sexo masculino para sucedê-lo no cargo. Quando ficou claro que Catarina não poderia ter mais filhos, sua paciência esgotou-se e ele decidiu se divorciar.

Isso o levou a uma série de desentendimentos com a Igreja Católica até que, em 1553, o monarca rompeu suas relações com o papa. Sem assim desejar, já que sempre considerou-se católico, Henrique 8º desencadeara uma revolução religiosa que abriu caminho para o evangelismo protestante na Inglaterra.

Após seu divórcio de Catarina de Aragão e depois de um curto casamento com Ana Bolena (com quem teve uma filha, a futura rainha Elizabeth 1ª), Henrique 8º casou-se com Joana Seymour que, finalmente, lhe deu um filho homem: Eduardo.

Reinado e morte de Eduardo 6º

Henrique 8º morreu em janeiro de 1547. Seu sucessor, Eduardo, que recebeu o título de Eduardo 6º, tinha apenas nove anos de idade. Por isso, não podia exercer o poder sozinho, e foi estabelecido um conselho de regência, formado por 16 membros e liderado pelo Lorde Protetor Eduardo Seymour, o duque de Somerset. A regência de Seymour realizou uma série de reformas, entre elas a da igreja. Com isso, Eduardo 6º converteu-se no primeiro governante inglês protestante.

Dois anos depois, Seymour foi substituído por John Dudley, conde de Warwick (e depois duque de Northumberland). Sua chegada ao poder deu início à perseguição do catolicismo na Inglaterra, cujos seguidores eram presos e muitas vezes queimados na fogueira.

O reinado de Eduardo 6º não duraria muito, pois o jovem rei tinha uma saúde frágil — a causa de sua morte foi possivelmente tuberculose. Em 1553, ele começou a sofrer de um forte resfriado, o que lhe deu tempo para que preparasse sua própria sucessão.

É aqui que, finalmente, surge o nome de Lady Jane Grey, protestante fervorosa, prima de segundo grau do jovem rei — sua avó era irmã de Henrique 8º, pai de Eduardo 6º — e muito próxima do monarca. Segundo o historiador britânico J. Stephan Edwards, especialista na dinastia Tudor, a realidade da família real, com um rei sem herdeiros ou irmãos do sexo masculino, indicava que uma mulher teria de assumir o trono inglês, algo que nunca ocorrera antes.

“E a única mulher disponível para isso nesse momento era Joana Grey”, disse o historiador na série documental da BBC A Rainha Esquecida da Inglaterra: a Vida e Morte de Joana Grey. Seu nome aparecia na linha de sucessão porque a meia-irmã de Eduardo 6º, Maria Tudor, filha de Catarina de Aragão, fora considerada ilegítima. Além disso, era extremamente católica. Eduardo 6º não queria lhe transferir a coroa porque desejava assegurar seu legado protestante.

O duque de Northumberland exerceu um papel chave ao persuadir o rei a declarar que tanto Maria como a outra meia-irmã de Eduardo, Elizabeth, eram ilegítimas e alterar a linha de sucessão para Joana – que, além disso, era casada com seu filho, o Lorde Guildford Dudley. Eduardo 6º faleceu em julho de 1553, aos 16 anos de idade. Seus assessores começaram a preparar, secretamente, a subida ao trono de Joana Grey.

A ambição de Maria Tudor

Joana Grey, filha de Henrique Grey, duque de Suffolk, nascera 16 anos antes, no outono de 1537. Quando tinha cerca de dez anos, ela ingressou na casa da última mulher de Henrique 8º, Catarina Parr, onde foi exposta a um ambiente acadêmico fortemente protestante.

Com o passar dos anos, Joana mostrou-se uma moça inteligente e piedosa, com muita aceitação nas esferas de poder que rodeavam o rei. Assim, quatro dias depois da morte de Eduardo 6º, em 10 de julho de 1553, Joana — ou Lady Jane — foi proclamada rainha, sabendo muito pouco do que isso realmente significava.

Sua chegada ao trono foi transformadora, sendo a primeira mulher a receber a coroa inglesa na história do país. Entretanto, o que o agora falecido rei e seus assessores não haviam identificado era o amplo apoio popular que Maria Tudor possuía — e, certamente, o tamanho de sua ambição.

Quando Maria se convenceu de que seu irmão estava prestes a morrer, ela viajou para a região de East Anglia (ou Ânglia Oriental, no leste da Inglaterra), onde se reuniu com vários partidários seus que, assim como ela, queriam restaurar o catolicismo no topo do poder inglês. O duque de Northumberland tentou capturar Maria, mas sem sucesso. Assim, o panorama para a rainha recém-empossada foi se tornando cada vez mais complicado.

Decapitação

Bastaram uns dois dias para que muitos dos seguidores de Lady Jane a abandonassem. Entre eles, seu próprio pai, o duque de Suffolk, que facilmente convenceu sua filha a renunciar à coroa.

Maria Tudor conseguiu para si a coroa, que considerava sua por direito, e entrou para a história como rainha Maria 1ª. Oficialmente, é considerada a primeira monarca de direito do sexo feminino, já que Lady Jane não é historicamente reconhecida como “Rainha Jane” ou “Jane 1ª”.

Em 19 de julho, Maria encarcerou Lady Jane na Torre de Londres, e o duque de Northumberland, seu principal aliado, foi executado um mês depois. Lady Jane foi acusada de traição e usurpadora do trono. De acordo com a National Portrait Gallery, museu no centro de Londres, apesar de não haver dúvidas sobre a inocência de Lady Jane, sua figura decorativa como possível líder de uma revolta protestante a converteu em um “perigo inaceitável” para o novo regime.

Ainda que tenha se livrado da execução por alguns meses, a participação de seu pai numa rebelião contra a nova rainha terminou por selar sua sorte. A revolta, contra o casamento de Maria Tudor com o então príncipe Felipe da Espanha (futuro rei Felipe 2º), visava impedir a aliança política entre a Inglaterra e a católica Espanha. Após o fracassado movimento, a rainha inglesa convenceu-se de que Lady Jane representava um grande risco a seu reinado e determinou sua execução.

Joana Grey e seu marido foram decapitados em 12 de fevereiro de 1554. A jovem ex-rainha tinha 16 anos de idade. Seu pai foi executado dias depois. Maria 1ª venceu a batalha, mas não a guerra. Apesar do breve restabelecimento do catolicismo no coração do trono inglês, ela não conseguiu impedir que o país fosse transformado pela onda de reforma religiosa.

Depois de sua morte, sua meia-irmã Elizabeth, também filha de Henrique 8º, assumiu o trono, que ocupou por 44 anos, de novembro de 1558 a março de 1603. A Inglaterra, que até pouco tempo relutava em aceitar uma mulher como líder da nação, acabou com três monarcas do sexo feminino em seguida — duas, se Lady Jane não for incluída.

Elizabeth 1ª desejava pacificar o país. Por isso, decidiu eliminar novamente o catolicismo do topo da monarquia, mas sem alinhar a Inglaterra com o movimento protestante europeu. Assim, ela criou uma nova linha religiosa para os ingleses, evitando que a coroa ficasse associada a outras forças estrangeiras — o catolicismo, de potências como a Espanha, ou o protestantismo, de forças como a Holanda.

Em 1559, Elizabeth 1ª fundou a Igreja da Inglaterra, até hoje comandada pelo ocupante do trono britânico. Ela foi a última monarca da dinastia Tudor.

(Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/12/11 – MUNDO / NOTÍCIA / Por BBC – 11/12/2021)
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