Franz Joseph I, imperador da Áustria-Hungria, teve um reinado marcado pela longevidade, pelas crueldades sofridas e pela sua demonstração de força

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IMPERADOR FRANZ JOSEPH: O PRINCÍPIO DO FIM DA VELHA EUROPA

Franz Joseph I (Palácio de Schönbrunn, Viena, Áustria, 18 de agosto de 1830 – Palácio de Schönbrunn, Viena, 21 de novembro de 1916), imperador da Áustria-Hungria, teve um reinado marcado pela longevidade, pelas crueldades sofridas e pela sua demonstração de força – que resultou numa das guerras com mais vítimas mortais na história da Humanidade. À época, era um dos eixos do equilíbrio europeu. Acabou por ser ultrapassado pelos acontecimentos.

Franz Joseph, octogenário, com o neto Otto.

Franz Joseph, octogenário, com o neto Otto.

Um político da velha Europa 

O seu reinado de 68 anos foi um dos mais longos da história ocidental e o último a cair da velha monarquia europeia. Pertencente à família nobre de Habsburgo, Franz Joseph viveu entre 1830 e 1916. Foi imperador da Áustria a partir de 1848 (ano da vaga europeia de revoluções conhecida como “Primavera dos Povos”) e rei da Hungria a partir de 1867, ambos até à sua morte. Casou com uma prima, a duquesa Isabel da Baviera (a célebre Sissi) e, com ou sem influência exterior, cumpriu até ao fim o lema que lhe fazia todo o sentido: “Viribus Unitis” ou “União das Forças”.

Para manter a união dos cerca de 50 milhões de súditos de 11 nacionalidades diferentes, teve que conjugar a sua política autoritária e centralizadora com medidas liberais, num equilíbrio instável que a qualquer momento poderia pender para qualquer um dos lados.

 

“Ninguém previu a dimensão da guerra”

 

A partir do início do século XX, as potências europeias mantiveram um cenário de suposta paz entre si. Mas no Verão de 1914 um atentado em Sarajevo vitimou Franz Ferdinand, sobrinho de Franz Joseph e herdeiro da coroa. Este foi o despertar de uma guerra que se pretendia localizada, rápida e eficaz e que, na verdade, não começara aqui: tinha raízes nas várias nacionalidades do império austro-húngaro, que reclamavam autonomia. Isto ao mesmo tempo que se davam movimentos separatistas e nacionalistas na Europa. Ecos do exterior que tiveram influência interna.

 

A luta armada era vista na altura como algo “normal, legítimo, honroso e necessário”, e em parte desejada. Segundo o presidente americano Theodore Roosevelt, a guerra faria parte das “leis da luta pela vida”, usada também para promover a coesão de um país contra inimigos externos. “Num primeiro tempo, uma onda de unanimidade varre as disputas, anula as dissensões”, refere o historiador René Rémond.

Franz Joseph I

Franz Joseph I

As negociações e cedências que Franz Joseph I fez durante o reinado acalmaram algumas hostes (por exemplo, húngaras) mas não a dos defensores de uma “Grande Sérvia”. Em visita à capital da Bósnia, o herdeiro Franz Ferdinand e a mulher foram assassinados por Gavrilo Princip, jovem terrorista membro da “Mão Negra”. A Áustria-Hungria lançou um ultimato à Sérvia com várias exigências que foram aceitas, exceto uma que feria a soberania deste país. Numa jogada político-militar lógica, Franz Joseph declarou, por isso, guerra.

Europa nasceu após o fim dos impérios

Europa nasceu após o fim dos impérios

Tudo levava a crer que esta em nada seria diferente das anteriores guerras balcânicas de 1912 e 1913, no seu caráter limitado. Mas o contexto era diferente e as diversas alianças militares preparadas em “paz armada” foram desencadeadas, qual dominó, envolvendo as grandes nações europeias da época. O jogo diplomático de Franz Joseph I teria em mente explorar o episódio do atentado para infligir uma “lição militar” à Sérvia. Mas o ultimato demorou demasiado tempo, permitindo uma maior preparação do adversário.

Proclamação da Independência

Proclamação da Independência

Franz Joseph, o “velho monarca”, simbolizou um regime a decair em aceitação popular, com toques cruéis: seu irmão Maximiliano, imperador do México, fuzilado; seu filho Rudolfo, único herdeiro, suicidou-se; sua esposa assassinada por um anarquista e seu sobrinho e herdeiro, Franz Ferdinand, morto por um nacionalista sérvio.

Proclamação da Independência

Proclamação da Independência

Aos 84 anos, coberto de desgraças, de lutos e decepções, já não lhe cabe dirigir os acontecimentos. Morreu em 1916, não chegando a ver o fim da guerra que começara, nem a Europa que nasceu após o fim dos impérios.

(Fonte: http://obviousmag.org/archives/2011/08 – SOCIEDADE/ Por LUÍS PEREIRA – /102015)

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