“Ideias profundas surgem apenas do debate, com a argumentação e a apresentação de ideias não só …

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Andrei Sakharov (1921-1989), nascido em Moscou numa família de intelectuais com tradição liberal. Prêmio Nobel da Paz e símbolo da luta pelos direitos humanos. Sakharov foi a consciência de uma geração, acima de tudo, integridade, humanismo e coragem.

“Ideias profundas surgem apenas do debate, com a argumentação e a apresentação de ideias não só corretas mas também duvidosas”.

Os filósofos da Grécia Antiga entenderam isso, e parece incrível que alguém se contraponha a isso hoje em dia.” Quando escreveu essas palavras, em 1968.

O físico soviético Andrei Sakharov sabia que estava dando um passo decisivo: a incompreensão e a intolerância de que falava eram a marca do regime na União Soviética de Leonid Brejnev. Depois de sobreviver a perseguições e difamações, a sete anos de confinamento, a incontáveis greves de fome e de ter seu papel finalmente reconhecido em seu país depois da glasnost, Andrei Sakharov morreu dia 21 de dezembro de 1989, aos 68 anos, de um ataque cardíaco.

“Andrei Sakharov foi um dos maiores cientistas do século 20 e uma de nossas mais destacadas figuras sociais, tudo que fez ficou marcado por sua absoluta honestidade”, homenageou Vitaly Vorotnikov, em nome da direção do mesmo Partido Comunista da URSS que durante anos tratou o físico dissidente como um traidor. “Ele era a reserva moral da perestroika, não sei como vamos prosseguir sem sua presença cotidiana e sua absoluta integridade”, lamentou o colega físico Roald Sagdeyev, como Sakharov, também deputado. O economista Nikolai Engver, companheiro de Sakharov na Academia de Ciências, resumiu o consenso formado nos últimos anos nos meios intelectuais e políticos soviéticos. “Ele era a consciência do nosso século”, afirmou.

O caminho até o consenso passou pela escolha corajosa da discordância pública com um regime totalitário e teve como lastro justamente a integridade moral desenvolvida por Andrei Sakharov, nascido em Moscou em 1921. Aluno brilhante na universidade, o jovem físico eleito com 32 anos para a Academia de Ciências foi, na década de 50, um dos pais da bomba de hidrogênio soviética. Junto com condecorações e celebridade, Sakharov acumulou uma visão crítica sobre a corrida armamentista e um apego aos direitos humanos que o levaram, em 1968, a romper com o regime através do manifesto “Progresso, coexistência e liberdade intelectual”, divulgado clandestinamente. Engajado progressivamente na defesa dos presos políticos soviéticos, Sakharov recebeu em 1975 o Prêmio Nobel da Paz, mas acabou sendo preso em janeiro de 1980, destituído das condecorações e confinado na cidade de Gorki, distante 400 quilômetros de Moscou e fechada para estrangeiros.

Anistiado por Gorbachev em dezembro de 1986, Sakharov voltou a Moscou, reingressou na Academia de Ciências e passou a apoiar a perestroika, sem abdicar da independência política. Ainda em dezembro, o ex-dissidente entrou em choque com o presidente soviético ao defender o fim do sistema de partido único. Sua última atividade pública, na tarde de quinta-feira, dia 21 de dezembro, foi uma reunião com o bloco de parlamentares independentes que se organizam como “oposição formal” ao Partido Comunista.

(Fonte: Veja, 24 de dezembro, 1989 – Edição N° 1110 – DATAS – Pág; 113)

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