Silas de Oliveira, sambista e compositor de ‘Heróis da Liberdade’, do Império Serrano

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Silas de Oliveira, autor de ‘Aquarela brasileira’, um dos bambas do samba

Criador de ‘Heróis da Liberdade’, fundador do Império Serrano, reinou por 14 carnavais na avenida. Em 2003, é eleito o melhor compositor da História

Silas de Oliveira (Foto: g1.globo.com/Divulgação)

Silas de Oliveira (Foto: g1.globo.com/Divulgação)

 

Silas de Oliveira (Rio de Janeiro, 4 de outubro de 1916 – Rio de Janeiro, 20 de maio de 1972), sambista e compositor de ‘Heróis da Liberdade’, do Império Serrano

Nélson Cavaquinho, Cartola e Clementina de Jesus cantaram sambas de partido alto e enredos do compositor de trezentas músicas, apenas vinte gravadas. Seus sucessos populares resumem-se ao próprio ‘Heróis da Liberdade’ e “Me Leva em Teus Braços”, gravado pelo cantor de boleros Anísio Silva (1920-1989) em 1958.

O insucesso comercial, porém, afinava com seu espírito introvertido e desinteressado. Filho de pastor protestante, Silas, só aos 26 anos, levado por Mano Décio (1909-1984) começou a frequentar a vizinha escola de samba de Serrinha. Em 1945, fez o samba “Conferência de São Francisco”, que dividiu as preferências da Serrinha e causou o nascimento da Império Serrano, da qual Silas foi um dos fundadores e que, segundo o parceiro Mano Décio, causou a sua morte. “Depois que ele perdeu por seis a zero na votação do samba-enredo de 1972, nem tinha mais vontade de escrever”.

Nascido no subúrbio de Madureira, nas ruas próximas ao morro da Serrinha, em 4 de outubro de 1916, filho do pastor evangélico e professor José Mario de Assumpção e de Jordalina de Oliveira de Assumpção, Silas de Oliveira se tornaria o maior nome do Império Serrano, escola de samba que ajudou a fundar na década de 40. Como o pai o proibia de participar das rodas de samba, Silas começou então a compor escondido da família, que, mais tarde, acabaria aceitando sua vocação como sambista. O pai teria até corrigido os erros gramaticais de poemas.

O primeiro samba, feito aos 19 anos, tanto pode ser “Sem perdão”, em parceria com Manula, ou “Sagrado amor”. Embora haja discordância, fato é que, depois disso, Silas nunca mais deixaria de compor para a Escola Prazer da Serrinha – que, em 1947 daria origem ao Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano, fundado por ele junto com Molequinho, Mestre Fuleiro (sobrinho de Dona Ivone Lara) e outros bambas. Por 14 carnavais o Império cantou sambas de Silas de Oliveira, o maior vencedor e mais brilhante autor de sambas para desfiles das escolas. Seus percalços na vida, injustiças na escola e dificuldades financeiras são lembrados em biografias que destacam o perfil de um homem compreensivo, humilde e tímido.

Já o primeiro samba-enredo surgiu em 1945, parceria com Mano Décio da Viola, o grande amigo de toda a vida: “Conferência de São Francisco”, em homenagem às reuniões na cidade americana, onde o presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt, encontrou-se com o presidente Getúlio Vargas. Até então sua carreira fora pontuada por hinos protestantes, criados até os 15 anos e dos quais não se tem conhecimento, e depois por sambas de terreiro.

Durante alguns anos a dupla Silas de Oliveira e Mano Décio esteve separada, cada um trabalhando com outros parceiros, mas em 1969, um sambista da velha guarda, Manuel Ferreira, conseguiu reuni-los novamente e os três criaram “Heróis da liberdade”. Esse foi o último samba de Silas entoado num desfile do carnaval carioca, em 1969. No ano de 1964 compôs para o Império Serrano o samba-enredo “Aquarela brasileira”, obtendo para a escola o quarto lugar no desfile daquele ano, sendo este o seu maior sucesso e um dos sambas mais executados de todos os tempos.

 

Uma eleição promovida pelo GLOBO em 2003, ouvindo 70 personalidades ligadas ao universo do samba, escolheu “Heróis da liberdade” como o melhor samba-enredo de todos os tempos. Silas ainda conquistou o terceiro lugar dessa votação com “Aquarela Brasileira” e o quarto lugar com “Cinco bailes tradicionais na História do Rio”, de 1965, que ele fez com Dona Ivone Lara e Bacalhau.

 

Quando não estava cantando samba na quadra nem no terreiro, Silas de Oliveira participava de várias rodas de samba da cidade, onde quer que fosse convidado. E numa dessas, em Botafogo, no dia 20 de maio de 1972, sofreu um infarto fulminante, aos 55 anos, após cantar no início da madrugada de sábado.

Fim de sambista

“A voz rouca de Natal, da Portela, entoou, sozinha, os dois primeiros versos do samba ‘Heróis da liberdade’ – Passava a noite / vinha o dia / o sangue do negro corria… – e deu início ao momento mais dramático do sepultamento de Silas de Oliveira, acompanhado por duas mil pessoas, ontem, no Cemitério de Irajá”.

O texto da reportagem completou: “Logo, o pesado silêncio que se seguira à prece foi substituído pelo canto de todos os sambistas, num andamento mais lento, que costuma ser ouvido na avenida, mas de igual força: ele morreu numa roda de partido alto, como queria, eram as palavras com que Cartola, da Mangueira, tentava consolar a viúva de Silas, dona Eulália, e os seis filhos do casal”.

(Fonte: Veja, 31 de maio de 1972 – Nº 195 – MÚSICA – Pág: 74)

(Fonte:  http://acervo.oglobo.globo.com – EM DESTAQUE – CULTURA/ Por Luciana Barbio/com edição de Gustavo Villela, editor do Acervo O GLOBO – 30/09/16)

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