Se tornou a primeira africana a ser aceita na Ordem dos Advogados da Inglaterra

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A princesa africana que foi advogada, modelo, ministra e embaixadora da ONU

 

Elizabeth Bagaaya, princesa africana, uma das mulheres mais influentes da África nos anos 1960 e 1980, sendo uma precursora na moda e na política, além de pioneira no meio acadêmico.

 

Inteligente, elegante e corajosa, são alguns dos adjetivos que descrevem a filha do rei George Rukiidi 3º (1924-1965) do reino de Toro, localizado na parte ocidental do país, nasceu em 1936 em Uganda.

 

Alguns se referem a ela como Elizabeth de Toro ou simplesmente princesa Bagaaya. Foi educada na Inglaterra, em uma escola tradicional só para meninas aristocratas, sendo a primeira aluna negra. Aquele seria o início de uma carreira marcada por pioneirismos nas mais diversas áreas.

 

Em 1959, cursou direito na prestigiada Universidade de Cambridge e se tornou a primeira africana a ser aceita na Ordem dos Advogados da Inglaterra. Após a morte de seu pai em 1965, seu irmão assumiu o poder e ela vira conselheira do rei. Este momento marcaria o fim de dias de glória e o início de tempos difíceis.

 

Quando estava pronta para exercer a advocacia na capital de Uganda, o cenário político no país mudou drasticamente quando o primeiro-ministro Milton Obote assumiu o poder, abolindo a monarquia no país em 1967. Tensões políticas resultaram em conflitos sangrentos, iniciando um período de medo e insegurança.

 

Supermodel

 

Um pouco antes dessa mudança em Uganda, a princesa Margaret (1930-2002) do Reino Unido, irmã da rainha Elizabeth, visitou o país e convidou Bagaaya para desfilar em um evento de moda beneficente em Londres. A princesa foi e o sucesso nas passarelas foi estrondoso. Começava assim uma bem-sucedida carreira como modelo internacional. Ela dizia que a moda era a chance de promover a cultura africana e revelar Uganda para o mundo.

 

“Ser topmodel era considerado uma coisa bastante frívola e tive dificuldade em convencer as pessoas que isso me ajudaria a atingir meus objetivos. A moda foi um meio para um fim, permitindo me destacar levando a imagem de Uganda”, disse.

 

Vivendo entre Paris, Milão e Nova York, ela fez vários desfiles e estampou editoriais para a “Vogue britânica” e “Queen”. Durante uma festa, foi apresentada a Jacqueline Kennedy Onassis — a ex-primeira dama dos Estados Unidos a convenceu a se mudar para Nova York. Não demorou muito para a princesa se tornar uma das modelos negras mais requisitadas do país, sendo a primeira africana na capa da revista “Harper’s Bazaar” em 1969, além de ter feito editoriais das revistas “Vogue” americana, “Life” e “Ebony”.

 

“Naquela época era raro uma modelo negra nas principais revistas, eu queria derrubar o mito da superioridade branca em relação à beleza e sofisticação”, disse Elizabeth em uma entrevista.

 

Por sugestão de sua agência de modelos, fez aulas de interpretação. E, em 1958, estreava como atriz em “Things Fall Apart”, de Chinua Achebe. Mas foi em 1984 que a princesa faria parte do elenco de um filme de sucesso, “Sheena – A Rainha da Selva”, de 1984, no papel de líder de uma tribo africana.

 

Prisão e ameaça de morte

 

Quando o ditador Idi Amin derrubou o governo de Obote em um golpe de Estado em 1971, Elizabeth de Toro retornou para Uganda, sendo convidada para atuar como embaixadora itinerante do país. No ano seguinte, ela se tornaria ministra das Relações Exteriores — a primeira mulher no cargo na história do país.

 

No discurso na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) em 1974, como representante de Uganda, Elizabeth de Toro fez um pronunciamento notável que melhorou a imagem manchada do país no exterior, e criticou o apartheid na África do Sul. Quando a princesa retornou a Uganda, o ditador Amin a pediu em casamento, algo que ela prontamente recusou e que causou sua demissão.

 

Amin alegou que Elizabeth havia feito sexo com um homem branco em um banheiro do aeroporto de Orly, em Paris, envergonhando a nação. E ordenou que ela fosse presa. Houve forte pressão internacional para que ela fosse solta, e Amin acabou optando por sua liberdade.

 

Avisada que Amin tinha planos de assassiná-la, a princesa fugiu para o Quênia, disfarçada como uma cidadã comum, caminhando quilômetros até alcançar a fronteira em segurança, buscando exílio nos Estados Unidos em seguida. Ela também acionou judicialmente 15 publicações mundiais em função da calúnia criada por Amin, obtendo sucesso nas ações.

 

Embaixadora na ONU

 

O retorno a Uganda só viria após a queda do ditador em 1979, para auxiliar nas primeiras eleições presidenciais do país, mas logo teve que fugir quando Milton Obote fraudou as urnas. Neste período, ela conheceu um jovem rapaz que veio a ser seu marido e o grande amor de sua vida, o príncipe Wilberforce Nyabongo.

 

Quando Yoweri Museveni liderou um grupo de rebeldes contra Obote, a ex-modelo tornou-se uma porta-voz do Movimento de Resistência Nacional, usando seus contatos internacionais.

 

Após ele assumir a Presidência do país, ela foi nomeada embaixadora da ONU em 1986, com o objetivo de novamente melhorar a imagem manchada de Uganda para o mundo. Sua excelente atuação, possibilitou promover um encontro histórico entre o então presidente Ronald Reagan e Museveni em 1987, alguns consideram este como sendo o primeiro encontro entre um mandatário americano com um africano.

 

“Sempre fui um símbolo do que uma pessoa negra pode ser em qualquer área” 

 

A morte do marido em um desastre aéreo em 1986 mais as pressões políticas fizeram com que a princesa deixasse o cargo de embaixadora na ONU e passasse a promover causas africanas na mídia americana No mesmo ano, ela lança sua segunda autobiografia intitulada “A Odisseia de Uma Princesa Africana”. Anos depois, atuou como embaixadora de Uganda na Alemanha, no Vaticano e na Nigéria. Em 1994, Museveni restaurou a realeza em Uganda, e a paz voltou a reinar.

 

A princesa hoje tem 85 anos e continua na ativa, participando de projetos relacionados ao empoderamento feminino. Vive no Palácio de Toro e só concede entrevistas ao vivo (a reportagem de Universa tentou contato com ela). Até hoje ela é considerada um ícone para o seu povo e uma inspiração para as jovens mulheres de Uganda.

(Fonte: https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2021/06/06 – UNIVERSA / NOTÍCIAS / por André Aram / Colaboração para Universa – 06/06/2021)

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