Primeiro catedrático de metalurgia do país

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José Bonifácio
Cientista reconhecido, retornou ao país para continuar suas pesquisas, mas virou o principal articulador do processo de independência
Petalita, criolita, espodumênio, escapolita. As quatro pedras foram descobertas e descritas pelo mineralogista José Bonifácio de Andrada e Silva. Aos 56 anos, 38 deles vividos na Europa, ele é um dos mais importantes cientistas de Portugal. Renomado em todo o continente, tornou-se membro das corporações científicas mais exclusivas. Seu brilhantismo, revelado quando aluno em Coimbra, recebeu como prêmio uma bolsa para estudar mineralogia e química com os maiores mestres. Durante 10 anos, a coroa portuguesa custeou as viagens do cientista por uma dúzia de países.
De volta a Lisboa, José Bonifácio é coberto de honras: torna-se o primeiro catedrático de metalurgia do país, assume o posto de intendente-geral das minas e metais do reino, é nomeado superintendente das Obras Públicas de Coimbra. É um figurão. Mas está cansado. Diz que quer retornar ao Brasil, a terra natal, e terminar seus dias como um fazendeiro pacato, estudando suas pedras longe da vida pública.
Dura apenas dois anos seu descanso no sítio de Santos. O Brasil ferve em 1821, quando dom João VI retorna a Portugal, deixando seu filho Pedro como regente. Guindado à condição de porta-voz do desejo popular por autonomia, José Bonifácio acaba eleito para a junta governativa de São Paulo. Informado de que a corte ordenara o retorno de dom Pedro a Lisboa, ele escreve ao príncipe: “Vossa Alteza Real deve ficar, ou terá que responder pelo rio de sangue que correrá no Brasil.” O regente decide não viajar. É o Dia do Fico.
Uma semana depois, José Bonifácio é nomeado ministro do Reino e de Estrangeiros. Dessa posição, articula o processo que levará à independência. Mina a oposição interna, obtém alianças com potências estrangeiras, aplaina divergências, costura o apoio das províncias. Em fins de agosto, quando as cortes lisboetas resolvem reduzir os poderes do regente, Andrada escreve novamente a dom Pedro: “A sorte está lançada, e de Portugal não temos a esperar nada senão escravidão e horrores.” Em 7 de setembro, ao receber a carta, dom Pedro declara o Brasil independente.
Ainda não chegou, contudo, o momento de descanso para José Bonifácio. Envolvido em intrigas, incorre na ira do imperador, sendo preso e expulso do país em 1823. Retorna seis anos depois, para reconciliar-se com seu algoz. Ao abdicar do trono, dom Pedro pede que o amigo seja o tutor de seus filhos. José Bonifácio exerce por pouco tempo a função. Perseguido, combatido por defender o fim da escravidão e do latifúndio, é afastado em 1833 e mantido preso em sua casa na Ilha de Paquetá. Aos 70 anos, sequer responde ao processo por conspiração que lhe movem. O cientista aproveita os anos finais para finalmente fazer o que planejara 15 anos antes, quando retornara à terra natal: levar uma vida pacata entre livros e minerais.

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