Pioneiro da luta contra o cigarro

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Jeffrey Wigand, executivo e bioquímico americano. Trabalhou na poderosa indústria de tabaco americana Brown Williamson. Envolveu-se no tremendo escândalo e denúncias por conta de suas pesquisas para um cigarro menos cancerígeno. Descoberto pela rede de TV CBS, Wigand cantou como um canário os segredos mais recônditos – e escusos – de um negócio que movimenta anualmente 300 bilhões de dólares no mundo.
Foi demitido em 1993, e era a primeira vez que um membro destacado da indústria admitia publicamente que o cigarro devasta os pulmões dos fumantes. E, mais importante, foi graças ao alarido provocado por revelações desse teor que os fabricantes de cigarro tiveram que capitular e pagar a todos os 50 Estados americanos a maior indenização da história: 246 milhões de dólares, para compensar os gastos com saúde pública.
Pois essa vitória fenomenal sobre a industria da fumaça seria impossível sem outro herói que, exatos 40 anos antes, começou a desvendar os vínculos entre cigarro e câncer. O médico Ernst Wynder (1922-1999), judeu alemão que fugira do nazismo na Alemanha e se estabelecera nos Estados Unidos. Em 1953, Wynder começou uma experiência curiosa: pincelou o dorso depilado de 86 ratos com uma substância extraída da fumaça do cigarro Lucky Strike.
Cada ratinho recebeu semanalmente, por dois anos, 40 gramas de alcatrão destilado, mais ou menos a mesma quantidade presente num maço de cigarros. O resultado dos 62 que chegaram ao final do experimento, 58 % tinham desenvolvido tumores cancerígenos. Nos 20 meses seguintes, 90% dos ratos haviam perecido. Num grupo de roedores que não tinham recebido a substância, 58% sobreviveram.
As descobertas de Wynder não foram bem recebidas pela indústria do tabaco. Era a primeira vez que um estudo realizado sob condições rigorosas comprovava que o fumo causa câncer. Amplamente divulgada pela mídia na época, a descoberta foi responsável por uma queda de 10% no consumo de cigarros per capita nos Estados Unidos entre 1953 e 1954. Acuados, os fabricantes de cigarro iniciaram uma ofensiva para neutralizar as más notícias. Num anúncio, publicado em nada menos que 448 jornais em 1954, a indústria bombardeava as descobertas do alemão e afirmava que ele não tinha evidências científicas. Wynder era uma voz solitária. Os ataques a ele vinham de muitos flancos. “cientistas” defensores da indústria tabagista apareciam em programas de TV e escreviam artigos em jornais (muitos desses espaços descaradamente comprados) contestando as descobertas do alemão. Tendo que provar a todo o momento que suas pesquisas haviam sido feitas com rigor, Wynder foi visto com desconfiança até mesmo por alguns órgãos do governo americano.
Apesar de ter suas investigações no laboratório enxovalhadas diante de milhões de americanos, de ser ridicularizado por fumantes e ver sua seriedade posta em dúvida, Wynder não se abalou. Sua “luta solitária” culminou com a fundação, em 1969, da American Health Foundation, instituição que, entre outras coisas, é um bastião na pesquisa sobre os males do cigarro e que provou, além de qualquer dúvida, que as conclusões de Wynder estavam corretas. Apenas um dos legados do pioneiro da luta antitabagista.

(Fonte: Revista SUPER Interessante – Edição 174 – Editora ABRIL – SUPER NOVAS – QUEM FOI – Leandro Sarmatz – Março de 2002 – Pág. 23)

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