Gilberto Chateaubriand, o maior colecionador de arte moderna e contemporânea do país

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Gilberto Chateaubriand (esq.) e Bernard Fornas

Gilberto Chateaubriand (esq.) e Bernard Fornas

 

MAIOR COLECIONADOR DE ARTE MODERNA E CONTEMPORÂNEA DO BRASIL

Gilberto Chateaubriand, colecionador brasileiro, o maior colecionador de arte moderna e contemporânea do país. Gilberto Chateaubriand, comprador de arte compulsivo que possui um acervo de 7 mil itens, administrado pelo Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, herdou do pai a paixão por colecionar. Seu pai, o empresário de comunicação Assis Chateaubriand, fundador dos Diários Associados, pioneiro das comunicações no país e patrono do principal museu brasileiro, fundou em 1947 o Masp, de São Paulo, Chatô pai reuniu um acervo avaliado hoje em US$ 2 bilhões, obra de mestres como Van Gogh, Velásquez, Goya, Renoir, Manet, Monet, Rembrandt, Rafael, Botticelli e Cézanne.

Solteiro, sem filhos, ex-diplomata, Gilberto Chateaubriand é um carioca nascido em Paris e que vive principalmente da extensa produção de laranja e de cana-de-açucar de sua fazenda em Porto Ferreira, no Estado de São Paulo. Nunca empunhou um pincel e jamais perpetrou uma escultura, mas desde os anos 60 é o personagem com maior circulação nas artes plásticas do país.

Comprar telas, gravuras e esculturas foi a grande aventura de Gilberto Chateaubriand ao longo de quarenta anos. Ele cresceu cercado por obras de arte. Seu pai possuía, só no apartamento em que morava, quarenta Portinari. Além disso, como fundador do Masp arrematou, com dinheiro de empresários, um respeitável acervo de arte europeia que inclui Van Gogh, Renoir, Monet e Modigliani. Mas a grande influência artística na vida do colecionador não foi o pai e sim o avô materno, o arquiteto e decorador francês Hippolyte Allard, que desenhava móveis Luís XV para a elegante loja Pettenfelt. “Tenho essa coleção a despeito do meu pai e não graças a ele”, frisa o colecionador, que garante só ter herdado quatro quadros paternos. Um Pancetti, um Milton Dacosta, um Guignard e uma Maria Leontina. “Todos os outros foram presenteados por meu pai aos amigos, em vida”, diz.

Ele também guarda a obra Cavalo, um Portinari de 1959, presente que o pai lhe deu quando foi trabalhar nos Diários Associados. Depois de uma briga, o velho Chateaubriand quis a tela de volta. Como o filho escondeu a pintura na casa de um amigo, ele publicou em todos os seus jornais que o quadro tinha sido roubado por Gilbert Allard Gabizon – sobrenome do avô materno do colecionador.

Este foi um dos muitos momentos de uma relação entre pai e filho marcada pela distância e pela animosidade. “Meu pai sempre foi um devorador dos próprios filhos, que enxergava como os símbolos do fracasso dos seus casamentos”, queixava-se, referindo-se, também, a dois meio-irmãos.

A última briga entre pai e filho aconteceu em 1961. Depois dela, não se falaram mais. Ele só veria o pai de novo no caixão, sete anos depois. Afastado da diplomacia desde 1969, Chateaubriand herdou do pai a fazenda que administra pessoalmente. Sua outra fonte de renda vem do dinheiro que erecebeu por outro terreno do pai, desapropriado pela Light. O colecionador brigou na Justiça durante quatro anos com os demais membros da família para conseguir o que considerava sua parte do espólio. Em 1971, pediu a dissolução do comdomínio em que foi transformado o império jornalístico de Chateaubriand.

A briga com o pai estende-se a seus antigos colaboradores. Como Pietro Maria Bardi, o especialista que ajudou Assis Chateaubriand a escolher e montar o acervo do Masp e que atuava como eterno comandante-em-chefe da instituição. Para o colecionador, Bardi era um “safado”. Ele o acusava, entre outras maracutaias, de desfalcar o Masp de uma tela de Gauguin e de uma escultura de Brecheret. Chateaubriand alegava que, por causa das brigas com Bardi, preferiu doar sua coleção ao Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), e não ao museu que seu próprio pai fundou. Nos Estados Unidos e na Europa, é comum que os grandes empresários, que por prazer acumulam obras de arte ao longo da vida, escolham os museus como repositórios definitivos de suas coleções. Na verdade, Chateaubriand nunca teria perdoado o pai por tê-lo preterido em favor de Bardi como herdeiro e titular no comando do Masp.

 

Gilberto Chateaubriand iniciou sua coleção de obras de arte quase por acaso, aos 28 anos. Em 1953, numa viagem a Salvador, foi apresentado ao pintor José Pancetti, que acabou lhe dando de presente a Paisagem de Itapoã. Foi o primeiro quadro da coleção. Em três anos, comprou vinte Pancetti com seu salário de diplomata, todos a prestação.

Em 1956, Chateaubriand foi transferido pelo Itamaraty para Paris, onde ficou quatro anos. Lá comprou obras de artistas estrangeiros, que acabou vendendo depois de decidir montar uma coleção de arte moderna e contemporânea nacional. Na volta ao Brasil, comprou Djanira, Marcier, Bandeira, Guignard, Di Cavalcanti e o belíssimo O Vendedor de Frutas, de Tarsila – que pagou parte em quadros, parte em dinheiro.

Embora tenha adquirido muitas obras em grandes galerias, Chateaubriand sempre foi mais um comprador de ateliês e brechós. Ele gosta de conhecer os artistas,de fuçar, de pechinchar. Num país em que se contam nos dedos de uma mão os casos de doações de acervos particulares a museus (Yolanda Penteado e Ciccilo Matarazzo são os poucos casos consagrados), Chateaubriand, colocando à disposição do público suas 7 000 obras de artistas brasileiros, torna-se um benfeitor da memória nacional.

 
(Fonte: Zero Hora -– ANO 43 -– N.º 14.882 -– Fim de semana –- Segundo Caderno –- Roger Lerina – Contracapa –- 26 de maio 2006)

(Fonte: Veja, 20 de janeiro de 1993 – ANO 26 – Nº 3 – Edição 1271 -– ARTE/ Por Virginie Leite –- Pág: 74/75/76)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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