João Fernandes Campos Café Filho (1899 – 1970), advogado e ex-presidente do Brasil.

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João Fernandes Campos Café Filho (Natal, 3 de fevereiro de 1899 – Rio de Janeiro, em 20 de fevereiro de 1970), ex-presidente do Brasil.

Bacharel dos pobres – A vida política de Café Filho começa envolta pela lenda do bacharel defensor dos necessitados. Em 1917, defendeu em Natal um criminoso pobre porque não havia quem o fizesse. Na época não era advogado, mas conseguiu a absolvição. Criou fama. Logo depois, em Taipu, aceitou a defesa de pai e filha que depois de viverem maritalmente haviam matado a criança e, mostrando o clima de miséria que levara ao crime, ganhou a causa. De advogado dos pobres, ele foi sendo arrastado para a política com uma irresistível vocação oposicionista. Nos últimos anos da República Velha (anterior a 1930) transformou-se em agitador de Natal numa greve e derrotou os patrões.

Depois, transformou um movimento dos tecelões em greve geral. No Rio de Janeiro, quando souberam da crise, os políticos disseram: “Greve em Natal? Este país está perdido”. O país não se perdeu, mas Café teve de desaparecer. Sua casa foi cercada e ele foi para o Recife, viajando num trem postal, misturado com malas de correio. Em 1926 estava de volta a Natal. Lança uma proclamação apoiando a Coluna Prestes e é condenado a três meses de prisão. Foge em busca da Coluna, mas tem de se esconder para não ser preso.

Com a vitória da Revolução de 1930, tornou-se chefe de Polícia, foi vítima de um atentado a tiros ao deixar o posto e foi eleito deputado federal para a Constituinte de 1934. Café Filho foi um dos poucos políticos que nunca deixaram de acreditar que Getúlio soubesse do levante comunista de 1935 e que esperava sua eclosão para sair ganhando da crise. Um amigo que estivera no Catete lhe disse, no dia 26 de novembro, que a revolução ia estourar. No dia seguinte, estourou. Antes mesmo do golpe final de 1937, Vargas começou a perseguir a oposição. Um dos mais visados foi Café Filho. Tentaram prendê-lo, mas ele conseguiu escapar. “Levaram papeis e um revólver de minha propriedade, que até hoje, nem quando eu fui presidente, não me foram devolvidos.” Antes que o capturassem asilou-se na Embaixada da Argentina, para onde foi curtir o exílio do Estado Novo.

Coerência – De 1950 em diante, Café Filho procurou manter a coerência entre o político impulsivo do interior e o mundo de intrigas em que vivia na capital, já vice-presidente da República. Na crise de 1954, que culminou no suicídio de Vargas, ele se recolheu ao máximo. Não foi um defensor do presidente, porque essa defesa parecia impossível, mesmo para o advogado acostumado a vencer causas impossíveis, e não daria resultado algum diante da crescente pressão militar. No dia 24 de agosto chegou à Presidência da República como simples sucessor legal de Vargas, mas não como chefe do movimento que o havia levado ao suicídio. Ganhou inimizades entre os amigos e familiares do presidente morto. Formou um ministério considerado como de união nacional e de alto nível. Em outubro de 1955, o candidato da coligação PSD-PTB, Juscelino Kubitschek, derrotou o candidato da UDN, General Juarez Távora, que tinha sido chefe da Casa Militar de Café Filho, e elegeu-se presidente da República. Desde o momento em que foi reconhecido o resultado das urnas até a madrugada de 11 de novembro, o país viveu debaixo da “dúvida da posse”. Os setores mais radicais do Exército não admitiam a volta dos correligionários de Getúlio. Café estava mais próximo dos militares que de Juscelino, mas, segundo depoimentos de muitos, nunca tomou qualquer medida ostensiva contra ele. Quando emissários de Kubitschek e Goulart foram pedir garantias para a posse, respondeu: “Se houver golpe, será contra mim”.

A bola de neve – Em novembro a previsão se confirmou. A bola de neve da crise cresceu com um discurso do então Coronel Jurandir Bizarria Mamede contra os eleitos. No dia 2 de novembro, Café teve um enfarte em sua residência. No dia 8, licenciou-se e passou o governo a Carlos Luz exonerou o General Lott do Ministério da Guerra e nomeou o General Fiuza de Castro. Na madrugada do dia 11, os generais Teixeira Lott e Odylo Denis assumiram o controle do país e entregaram o governo ao vice-presidente do Senado, Nereu Ramos, pessedista catarinense. Café não retornaria mais ao Catete. Para Lott, o movimento era um contragolpe e destinava-se a empossar os eleitos. Para os inimigos de Juscelino tudo aquilo não passava de um golpe militar. E, para Café Filho, foi um golpe do qual ele não se refez.
Poucas vezes na História do Brasil se mobilizou um aparato militar tão poderoso contra uma só pessoa como o que o General Lott utilizou em novembro para cercar o edifício Mamoré. O espetáculo, entre o exagerado e o curioso, foi justificado pelo próprio Lott: “Isso foi feito para que o Doutor Café saiba que não tem nenhuma possibilidade de reagir sem ser esmagado. Eu sei que, se ele a tivesse, reagiria”.

Café Filho morreu de enfarte quinze anos depois de ter sido deposto da Presidência da República por um movimento militar habilmente coordenado pelo General Lott, seu ministro da Guerra. Desde 11 de novembro de 1955 (data que antecede de alguns dias a sua deposição formal pelo Congresso) ele se manteve afastado da política e desde a sua aposentadoria do cargo de ministro do Tribunal de Contas da Guanabara, em 1969, era apenas um tranquilo morador do edifício Mamoré, em Copacabana. Morrendo aos 71 anos de idade, antes respondeu aos adversários com dois volumes de memórias, os únicos a romperem os quinze anos de silêncio entre a sua morte e as duas grandes crises que o envolveram: o suicídio de Getúlio, em 1954, e sua própria deposição, em 1945.

Café Filho morreu fora da política e sabia, como escreveu em suas memórias, que “temos, todos que vivemos, uma vida que é vivida e uma outra que é pensada. Seguir, cada um, o seu destino importará em não perder a vida, dividindo-a entre a verdadeira e a errada”.
(Fonte: Veja, 25 de fevereiro, 1970 – Edição 77 – CAFÉ FILHO – Pág; 29)

JOÃO CAFÉ FILHO – Advogado, nascido na cidade de Natal, estado do Rio Grande do Norte, em 3 de fevereiro de 1899. Ingressou na Aliança Liberal e foi um dos fundadores, em 1933, do Partido Social Nacionalista do Rio Grande do Norte (PSN). Elegeu-se deputado federal (1935 – 1937) e destacou-se pela defesa das liberdades constitucionais. Ameaçado de prisão, asilou-se na Argentina, retornando ao Brasil em 1938. Fundou, com Ademar de Barros, o Partido Republicano Progressista (PRP), pelo qual se elegeu deputado federal (1946 – 1950). Eleito vice-presidente por uma coligação de partidos que se fundiram sob a sigla do Partido Social Progressista (PSP), assumiu a presidência da República com o suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954. Foi nomeado ministro do Tribunal de Contas do Estado da Guanabara (1961 – 1970). Faleceu no Rio de Janeiro, em 20 de fevereiro de 1970.

Período presidencial – Café Filho assumiu o governo da República imediatamente após a morte de Getúlio Vargas. Em seu novo gabinete, teve como ministro da Fazenda Eugênio Gudin, defensor de uma política econômica mais ortodoxa, que buscou estabilizar a economia e combater a inflação. O ministro adotou como principais medidas a contenção do crédito e o corte das despesas públicas, procurando, assim, reduzir o déficit público, causa, em sua avaliação, do processo inflacionário. Durante o governo Café Filho, instituiu-se o imposto único sobre a energia elétrica, gerando o Fundo Federal de Eletrificação, e o imposto na fonte sobre a renda do trabalho assalariado. Destacaram-se, ainda, em sua administração a criação da Comissão de Localização da Nova Capital Federal, a inauguração, em janeiro de 1955, da usina hidrelétrica de Paulo Afonso e o incentivo à entrada de capitais estrangeiros no país, que repercutiria no processo de industrialização que se seguiu.

Afastou-se temporariamente da presidência em 3 de novembro de 1955, em virtude de um distúrbio cardiovascular, e em 8 de novembro foi substituído por Carlos Luz, presidente da Câmara. Restabelecido, tentou reassumir os poderes presidenciais, mas seu impedimento foi aprovado pelo Congresso Nacional em 22 de novembro de 1955, e confirmado pelo Supremo Tribunal Federal em dezembro.
O Brasil e o mundo – O breve governo de Café Filho teve iniciou em meio à comoção nacional provocada pela morte de Getúlio Vargas e a divulgação da carta-testamento. Em novembro desse ano começaram os conflitos armados na Argélia, mês em que foi inaugurado o estádio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, e em que faleceu o pintor francês Henri Matisse. Em 1955, destacou-se a formação do bloco dos países não-alinhados, que recusavam comprometer-se tanto com a política norte-americana quanto com a política soviética. Em maio, respondendo à formação da OTAN, nasceu o Pacto de Varsóvia, composto pelos países do bloco socialista. O restabelecimento das relações diplomáticas entre a URSS e a Alemanha Oriental compartilhou a cena internacional com a deposição, por um movimento militar, do presidente Perón, na Argentina.
(Fonte: www.portalbrasil.net)

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