Guilhermina Suggia, tornou-se numa das raras mulheres do seu tempo a fazer carreira internacional como solista

0
Powered by Rock Convert

 

 

 

 

Guilhermina Suggia (Porto, Portugal, 27 de junho de 1885 – Porto, Portugal, 30 de julho de 1950), tornou-se numa das raras mulheres do seu tempo a fazer carreira internacional como solista.

Guilhermina Suggia nasceu na freguesia de S. Nicolau, no Porto, a 27 de Junho de 1885. O seu pai, Augusto de Medim Suggia, tinha sido violoncelista do Real Teatro S. Carlos e foi o primeiro professor de Guilhermina. 

Guilhermina não foi a primeira a fazer carreira profissional como violoncelista. Várias houve que a precederam – com destaque para a francesa Lisa Cristiani (1827−1853) – mas cuja notoriedade se deveu em boa parte à originalidade que representavam. O violoncelo era então considerado um instrumento eminentemente masculino. Pela gravitas do seu som, assunto sério que vozes autorizadas decretavam incompatível com a ligeireza típica das interpretações femininas. Pela força física que se julgava necessária para para dele extrair um som adequadamente grandioso. E, sobretudo, por impor à mulher uma posição tida como muito pouco decorosa e nada elegante. Graças à sua técnica impecável e à sua arrebatadora presença em palco, que fizeram dela uma das maiores solistas do seu tempo, Guilhermina Suggia foi inquestionavelmente a primeira a gozar de um reconhecimento sem reservas e sem acepção de género.

 

Tinha 5 anos quando começou a ter aulas de violoncelo com o pai, que cedo reconheceu as suas excepcionais capacidades e tudo fez para lhe permitir desenvolvê-las. Estreou-se em público ainda criança com a irmã, pianista. Já adolescente, integrou o quarteto liderado pelo violinista Bernardo Moreira de Sá. Com apenas 16 anos, recebeu uma bolsa régia para prosseguir estudos no estrangeiro. Escolheu o Conservatório de Leipzig, o mais conceituado da época. E apesar de aquela cobrir uma estadia de três anos, Guilhemina progrediu tão rapidamente que concluiu a sua formação em menos de metade desse tempo. De imediato iniciou uma impressionante carreira de solista, tocando com as principais orquestras, por toda a Europa.

 

Radicada primeiro em Paris e depois em Londres, Guilhermina Suggia conquistou o apreço e o respeito unânimes dos músicos seus pares e gozou de uma imensa popularidade junto do público. O seu sucesso assentava numa combinação insuperável e meticulosamente calculada de precisão, sentimento e carisma. Partilhou por diversas vezes o palco com violoncelistas como Pablo Casals e com pianistas como Arthur Rubinstein e Wilhelm Backhaus. O seu reportório era vasto e abrangente, incluindo, entre outros, os concertos de Dvořak, Elgar, Haydn, Saint-Saëns e Schumann, o Kol Nidrei de Bruch, asVariações de Böllmann, Peça em Forma de Habanera de Ravel ou a Dança do Fogo do Amor Brujo de Falla. E, above all, as Suites para Violoncelo de Bach — as suas preferidas e nas quais, atestam quantos assistiram, era simplesmente sublime.

 

Da sua vida privada é bem conhecida a ligação com Pablo Casals, com quem viveu em Paris — sem nunca terem chegado a casar, supõe-se que por persistente recusa sua — entre 1906 e 1913. Suggia tivera aulas com Casals anos antes, durante uma estadia dele em Espinho, tinha ela 13 anos e ele 22. Reencontraram-se em Leipzig, mas só depois, já em Paris, surgiu a paixão. Durante esse periodo, Suggia e Casals tocavam frequentemente juntos, tendo-lhes sido dedicados o Duplo Concerto para Violoncelo e a Suite para Dois Violoncelos, de Emanuel Moór, e a Sonata para Dois Violoncelos, de Donald Tovey. A relação não resistiu, contudo, à desmedida intensidade de temperamentos. E também à legítima ambição de um e de outro, lançados em exigentes carreiras, das quais nenhum estava disposto a abdicar.

Os destemperados ciúmes de Casals consta que não terão ajudado. Suggia deixou-o e partiu para Londres, onde se radicou. O fim, amargo, deixou feridas em ambos. Suggia nunca mais se referiu a Casals senão em termos estritamente profissionais. Quanto a este, recusava falar de Suggia a entrevistadores e biógrafos, dizendo apenas que o seu período com ela fora “o mais cruelmente infeliz” de toda a sua vida. Sabe-se também que, já em Londres, chegou a estar noiva de um aristocrata inglês, mas que decidiu, afinal, não casar.

Haveria de o fazer, muito mais tarde, já de regresso ao Porto, com um médico portuense. Também nesta vertente da sua vida, Guilhermina Suggia foi percursora. Escolheu manter a independência e a disponibilidade para se dedicar em pleno à sua carreira e, ao fazê-lo, firmou a possibilidade e a legitimidade de uma outra via de realização, à sua medida, que não passasse pelo casamento e pela vida doméstica.

Não teve filhos, mas nem por isso deixou de ser fecunda. À sua maneira, deu vida a muitas outras vidas, as dos jovens e talentosos violoncelistas que, sabia, viriam depois dela, e aos quais destinou quase todo o seu património. Os seus preciosos violoncelos foram legados ao Conservatório de Lisboa (o Lockey Hill, de finais do séc XVIII), do Porto (o Montagnana, de 1700) e à Royal Academy of the Arts (o Stradivarius de 1717), os dois últimos com expressa indicação de que deveriam ser vendidos pelo melhor preço e com este serem constituídos fundos destinados a bolsas de estudo.

Por sua vontade e meios foram criados, em Portugal e em Inglaterra, esquemas de apoio que beneficiaram incontáveis violoncelistas em formação — a saber, o Prémio Guilhermina Suggia, atribuído pelo Conservatório do Porto, o Suggia Trust, administrado pelo Arts Council of Great Britain e o Suggia Prize, da Royal Academy of Music. De entre todos eles, a mais conhecida foi decerto Jacqueline du Pré que, em 1955, com apenas 10 anos, recebeu uma bolsa para ter lições com William Pleeth, e a quem, subsequentemente, o Suggia Trusttornou possível prosseguir estudos com Pablo Casals e com Paul Tortelier.

Guilhermina Suggia gostava acima de tudo de tocar ao vivo, gravou muito pouco. São raros os seus sons que entre nós permanecem.

(Fonte: http://www.etudogentemorta.com/2010/11 –  

(Fonte: http://p3.publico.pt/cultura/mp3/12484 – CULTURA/ Por Luísa Pinto – 10/06/2014)

 

Powered by Rock Convert
Share.