Georges Bernanos, um dos grandes escritores franceses do século 20

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Georges Bernanos (Paris, 20 de fevereiro de 1888 – Neuilly-sur-Seine, 5 de julho de 1948), um dos grandes escritores franceses do século 20.

Faz parte do folclore de Barbacena o francês alto, impetuoso, de olhos azuis fuziladores, que cruzava as ruas a cavalo. Ele, a mulher e seis filhos habitavam uma fazenda nos arredores da cidade mineira nos anos 1940.

Não se tratava de uma família qualquer. O imigrante que tanto intrigava a população barbacenense era Georges Bernanos.

Por sete anos, entre 1938 e 1945, ele viveu no Brasil.

 

PÉRIPLO

Desiludido com os rumos da Europa às véspera da Segunda Guerra Mundial, Bernanos resolveu começar uma nova vida na América do Sul. “A tripla corrupção nazista, fascista e marxista não tinha quase nada poupado daquilo que tinha aprendido a respeitar e amar”, queixava-se.

Aportou no Rio de Janeiro em setembro de 1938. Tinha então 50 anos. Já era o autor consagrado de “Sob o Sol de Satã” (1926) e “Diário de um Pároco de Aldeia” (1936), romances densos sobre a decadência dos valores e a luta espiritual do bem contra o mal.

Bernanos chegou ao Brasil com dois objetivos curiosos: criar gado e fundar uma colônia francesa. O projeto o levou a um périplo pelo país: Itaipava (RJ), Juiz de Fora (MG), Vassouras (RJ) e Pirapora (MG), onde concluiu o livro “Senhor Ouine”.

Mas foi em Barbacena (MG) que encontrou seu lar no Brasil. Por indicação do amigo Virgílio de Mello Franco, o escritor foi visitar uma fazenda na cidade. Bernanos não gostou da casa, se preparava para ir embora quando soube o nome do lugar, Cruz das Almas. Foi tentação forte demais para um católico fervoroso.

Viveu com a família na propriedade de 450 mil m² de meados de 1940 até 1945, quando voltou para a França. “Foi Barbacena que pôs o imenso país ao alcance e à medida de minha razão e meu coração”, declarou.

 

COLÉRICO

 

Monarquista convicto, participou na juventude do movimento de extrema direita Ação Francesa, do qual foi expulso após atritos com o líder do grupo, Charles Maurras. Dizia não suportar os conservadores, mas tampouco se alinhou aos partidos de esquerda. Sem distinção, dedicou ensaios virulentos a ambos.

 

No trato pessoal, Bernanos era imprevisível. Seus ataques de cólera eram famosos em Barbacena. Certa vez Bernanos não titubeou em acertar bengaladas em um rapaz que o chamara de nazista.

As bengalas, consequência de um ferimento na Primeira Guerra Mundial, e o cavalo Osvaldo, presente de Osvaldo Aranha, viraram símbolos de Bernanos na região.

Quase diariamente o “seu Jorge francês”, como era conhecido, cavalgava até o antigo Café Colonial, no centro de Barbacena. Entre uma conversa e outra e, dizem, uns bons copos de pinga, elaborou muitos de seus célebres ensaios engajados na luta contra o nazismo.

Não faltam controvérsias na vida de Bernanos. “Sou um escritor absolutamente livre que pretende guardar sua independência”, costumava dizer. Acabou incompreendido por todos os lados. A Igreja Católica o criticou por enxergar em sua fé uma “confiança infundada concedida aos ‘meios sobrenaturais'”.

O período em Barbacena também representou a culminância de uma transformação. Em um livro de 1931, o escritor expressou opiniões racistas contra os judeus. A partir da escalada antissemita de Adolf Hitler, no entanto, Bernanos tomou outra postura.

“Nenhum desses que me deram a honra de ler podem acreditar que estou associado à repulsiva propaganda antissemita”, protestou.

Fugindo da Europa e tornando-se ele mesmo um pária, Bernanos estava aberto para uma nova compreensão do judaísmo. Prova disso, foi o encontro entre Bernanos e Stefan Zweig em Cruz das Almas em 1942, dias antes do judeu austríaco – que também se exilou no Brasil – cometer suicídio.

Finda a guerra, Bernanos, uma espécie de herói da resistência francesa, foi convidado pelo general Charles de Gaulle a voltar para França. Muito a contragosto, acatou o pedido, mas, fiel a si mesmo, não aceitou nenhum cargo oficial.

Georges Bernanos morreu em julho de 1948, de câncer. Em seus últimos dias falou muito do Brasil.

O sonho da colônia francesa não vingou (a criação de gado tampouco), mas não foi um fracasso completo: há descendentes de Bernanos espalhados por Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo.

 

 

(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/01/1582944- ILUSTRADA – MARCO RODRIGO ALMEIDA – ENVIADO ESPECIAL A BARBACENA (MG) – “Sob o Sol do Exílio”, de Sébastien Lapaque – 31/01/2015)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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