Erwin Rommel, general de Hitler considerado justo, apelidado de “A Raposa do Deserto”

0
Powered by Rock Convert

O último suspiro de Rommel

Antes de morrer acusado de conspirar contra Hitler, Rommel atuou na reorganização das defesas do eixo na costa ocidental da Europa.

 

Erwin Rommel, o general de Hitler considerado justo no Norte da África | (Crédito: Getty Images)

 

Johannes Erwin Eugen Rommel (Heidenheim, 15 de novembro de 1891 – Herrlingen, 14 de outubro de 1944), general de Hitler considerado justo, apelidado de “A Raposa do Deserto”,

Condecorado na Primeira Guerra Mundial, Rommel optou por fechar os olhos sobre o que estava acontecendo na Alemanha nazista. Ele não compartilhava do ódio aos judeus, mas aceitava a política de perseguição por admiração a Hitler.

Rommel ficou famoso na guerra na África, nas batalhas contra as tropas britânicas na Líbia. Figura central dos documentários de propaganda do regime feitos por encomenda do ministro Joseph Goebbels, o general era uma espécie de popstar do regime, admirado até pelos inimigos.

Os Afrika Korps, que ele comandava, nunca foram acusados de crimes de guerras. Soldados capturados durante sua campanha africana teriam sido tratados com humanidade. Além disso, ele teria ignorado ordens de matar tropas capturadas, soldados judeus e civis em todos os lugares onde esteve.

Os próprios ingleses contribuíram para a lenda do “bom nazista” em parte por um mal entendido da História. Winston Churchill, o então primeiro-ministro britânico, fez um comentário positivo sobre Rommel: “Ele merece a nossa atenção, porque, embora seja um soldado alemão leal, passou a odiar Hitler e os seus crimes e participou da conspiração de 1944, para salvar a Alemanha através da deposição do tirano louco.”

Segundo a versão oficial, como Rommel era muito renomado, Hitler, ao descobrir sua suposta participação na conspiração para matá-lo, teria optado por dar um fim discreto ao general – Rommel concordou em cometer suicídio – e poupar sua família. Na época foi anunciado que ele teria morrido do coração. A verdade sobre a morte e a suposta traição só viria à tona anos depois, contribuindo ainda mais para a fama do “bom nazista”, o sujeito que até o fim teria lutado internamente contra o tirano.

O general teria tido um papel destacado na guerra criminosa do nazismo, que nos sete últimos meses de vida do general, tempo durante o qual ele teve a oportunidade de distanciar-se do seu ídolo, Hitler, apoiando o grupo de oficiais liderados por Claus von Stauffenberg (1907-1944), que planejava um atentado contra o ditador. Ele, entretanto, teria se recusado a participar.

Como uma figura trágica, um “Hamlet de uniforme”, na expressão usada pelo jornal “Frankfurter Allgemeine Zeitung”, ele hesitou, embora soubesse, como um militar inteligente, sobre o ataque iminente à Normandia, onde servia como comandante de um dos grupos que combateu os Aliados em 1944.

Hans Speidel e Eberhard Finckh, tentaram convencer Rommel a aderir ao grupo de resistência de Claus von Stauffenberg, responsável pelo atentado malsucedido contra Hitler. O ditador estaria como que “embriagado”, disse Rommel a Speidel e Finckh. Os dois reagiram: “Se Hitler quer continuar lutando, precisamos matá-lo.” Mas Rommel esquivou-se de uma decisão.

– Os altos militares apoiaram Hitler quase até o final. Alguns nacionalistas, porém, como foi o caso de Stauffenberg, passaram a ver o ditador como um problema ao constatar que ele estava comprometendo a Alemanha por um período muito longo, mesmo depois da guerra.

Exatamente como o carreirista Rommel – que fez tudo para subir na vida com a ajuda dos nazistas, teve sete promoções em um período curto de oito anos – hesitou quando teve a chance de tomar a decisão certa.

– Rommel não foi o bom nazista porque ser nazista e ser bom eram duas coisas inconciliáveis. O que houve foi que ele passou a duvidar de Hitler ao ver que este queria continuar a guerra até a autodestruição.

Na sua campanha de conquista, no Norte da África, Rommel não precisou sujar as mãos, mandando assassinar judeus, porque nas regiões ocupadas praticamente não havia judeus. Se não tivesse sido detido pelos ingleses e tivesse continuado a expansão, em aliança com as tropas fascistas de Benito Mussolini, o general teria alcançado territórios palestinos para onde haviam fugido judeus europeus. O plano de Hitler era também exterminar os judeus no Oriente Médio.

 

Erwin Rommel, general de Hitler considerado justo

Erwin Rommel, general de Hitler considerado justo – (Image by © CORBIS)

 

Ele queria se render aos ingleses

 
O general, famoso na guerra no Norte da África – que lhe rendeu o lendário apelido de Raposa do Deserto e a admiração até dos inimigos – era um carreirista disposto a fazer qualquer coisa pelos nazistas para galgar postos. Pior: ele teria se recusado a participar da conspiração para matar o ditador Adolf Hitler.

Depois dos duelos travados na África, Erwin Rommel e Bernard Montgomery voltaram a se encontrar em junho de 1944, na Normandia. Mais uma vez, o inglês, comandante responsável pela operação em terra após o desembarque, saiu-se melhor. Responsável por organizar a mal construída defesa militar na faixa de litoral que compreendia da Dinamarca até a costa da Espanha, Rommel não teve tempo nem recursos suficientes para garantir a retaliação às Forças aliadas. Além disso, o marechal e seu comandante não se entenderam a respeito da melhor estratégia a ser adotada. O debate confundiu Hitler e provocou uma confusão que limitou ainda mais o poder de reação do Eixo.

Desde março de 1942, o responsável pelas defesas no front ocidental era o marechal-de-campo Karl von Rundstedt. Naquele mês, Hitler estabeleceu uma estratégia para rechaçar qualquer ataque: fortes deveriam ser construídos em todos os setores costeiros que permitissem desembarques. Caso um deles fosse vazado pelos aliados, tropas localizadas em áreas próximas à costa deveriam estar de prontidão para contra-atacar. Em primeiro de maio de 1943, a Alemanha deveria ter 300 mil homens guardando 15 mil bases de concreto.

Acontece que Rundstedt contava com apenas 60 divisões para defender 5,4 mil quilômetros de costa – e esses homens, em grande parte, eram soldados debilitados por outros confrontos, principalmente no front russo, e até por prisioneiros de guerra. Havia, portanto, uma divisão para cada 90 quilômetros, quando Rundstedt dizia que, num plano ideal, ele deveria contar com uma para cada 5 quilômetros. Em 1944, na França, o Eixo contava com soldados de 26 diferentes nacionalidades. A confusão era grande. Quando assumiu a função de inspecionar e melhorar esta linha de defesa, sob o comando de Rundstedt, em novembro de 1943, Rommel ficou inconformado com o que viu e começou uma corrida contra o tempo para minimizar os furos da longa barreira alemã.

O general estabeleceu um plano para criar um sistema complexo de obstáculos nas praias, que impedisse a passagem de barcos de fundo chato. Também queria lançar ao mar 50 milhões de minas e transformar as praias em grandes áreas de campos minados.

Faltou cimento

Mas os recursos não vieram. Só em uma das frentes, na costa francesa, Rommel recebeu 10 mil dos 10 milhões de minas que requisitou. No final de maio de 1944, a maior parte dos pontos fortificados estava desprotegida. Faltou cimento para terminar muitas delas.

Mas o maior problema na organização da defesa do Eixo era outro. Consciente da superioridade aérea aliada, que fora decisiva em sua derrota na África, Rommel queria repelir os adversários na praia, ou se possível ainda no mar. Seu superior, por sua vez, pretendia concentrar suas forças em locais bem posicionados em terra, onde fosse possível repelir os aliados assim que eles conquistassem uma cabeça-de-praia – no fundo, o que ele pretendia era recriar a Batalha de Dunquerque, de quatro anos antes. O próprio Rundstedt havia comandado o Eixo naquela vitória que arremessara as tropas inglesas para o mar.

Depois de ouvir atentamente aos argumentos dos dois e de seu alto-comando (majoritariamente favorável a Rundstedt), Hitler não fez uma coisa nem outra. Ele acabou por dividir suas forças entre praia e terra. Foi a pior opção possível. Na madrugada de 6 de junho de 1944, o Dia D, Rommel estava nas proximidades de Ulm, na Alemanha, comemorando o aniversário de sua mulher, Lucie. Só conseguiu chegar à França por volta das 22h, quando os aliados já tinham 150 mil homens em cinco praias.

Duas unidades, a 12ª SS Panzer e a Panzer Lehr, estavam a caminho, e o que havia sobrado da 21ª Panzer estava contra-atacando a 3ª Divisão canadense nas proximidades de Caen. Batidos na praia, os alemães agora tinham de encarar uma luta de defesa em várias frentes, com recursos insuficientes e a mobilidade parcialmente comprometida pelos maciços ataques aéreos inimigos. A partir de 7 de junho, e pelos dez dias seguintes, a 6ª Divisão Aérea britânica se mostraria capaz de barrar todas as investidas alemãs. No dia 12, os aliados tomavam Carentan.

Mais uma vez, os canhões de 88 milímetros de Rommel fizeram grandes estragos contra as forças aliadas. Com frequência, o avanço britânico em direção ao sudeste de Caen foi interrompido por uns poucos tanques Mark VI Tiger – em um dos casos, nas proximidades de Villers-Bocage, um único tanque, sozinho, conseguiu afastar um grupo de veículos ingleses. Mas os aliados ressurgiam em quantidades espantosas. Diante do fantasma de outra derrota estrondosa, Rommel começou a questionar seriamente a capacidade de liderança de Hitler e a defender abertamente que a Alemanha pedisse um armistício que mantivesse ao menos uma pequena parte das conquistas realizadas até aquele momento. Em um encontro realizado no dia 26 de junho, ele e Rundstedt entraram em acordo quanto a isso e comprometeram-se a levar essa posição ao comando do Exército. Em conversas privadas, Rommel passou a comentar que preferia calar suas baterias de defesa e permitir que Churchill entrasse em Berlim a ver os soviéticos, a leste, entrarem primeiro em sua capital.

Pessimismo

No dia 29 de junho, em conferência com o Führer, Rommel defendeu seu ponto de vista. “O mundo inteiro se posicionou unido contra a Alemanha, e essa desproporção de forças…”, ele começou. Hitler interrompeu-o bruscamente e pediu que o marechal se ativesse a questões militares, e não políticas. Foi o que ele fez, até o final de sua explanação. Rommel finalizava com críticas severas à passividade da Força Aérea, a Luftwaffe, quando disse que não poderia deixar de insistir em discutir o futuro do país caso a guerra continuasse.

“É melhor você sair desta sala agora”, Hitler respondeu. Os dois nunca mais se viram. Rundstedt detestava os nazistas, mas não continuou a insistir no assunto.Foi depois substituído pelo general Günther von Kluge. Desanimado, o marechal voltou ao campo de batalha, onde passou a fazer mais questão ainda de acompanhar de perto suas tropas. Ele parecia estar em todo lugar. Ao general Kluge, alertou, em relatório escrito em 5 de julho, que apenas 12 divisões estavam tentando conter todo o front, onde 40 divisões aliadas se movimentavam. Desde o Dia D, o Eixo perdera 117 mil homens, sendo 2,7 mil oficiais. Irritado com o pessimismo de Rommel, o general resolveu conferir a situação por conta própria. Dias depois, relatou a Hitler que a situação era realmente catastrófica.

Por causa dos ataques aéreos, os deslocamentos por terra sempre apresentavam riscos. Em 17 de julho, o carro em que Rommel estava foi atacado na França, no caminho entre Saint-Pierre e La Roche-Guyon. O marechal ficou gravemente ferido. Ele ainda estava inconsciente quando, no dia 20, Hitler sofreu um atentado a bomba. Em 25 de agosto, Paris era libertada. Rommel morreu em 14 de outubro. Em 2 de maio de 1945, Berlim era tomada pelos soviéticos.

 

Anzio

Meses antes do Dia D, os alemães quase repeliram uma tentativa aliada de invasão da Itália

Soldados em Anzio, região italiana / (Foto: Wikimedia Commons Images)

 

Em janeiro de 1944, o Eixo esteve muito mais perto de repelir as forças aliadas do que na Normandia. Na região italiana de Anzio, 60 quilômetros ao sul de Roma, os alemães, em minoria, aproveitaram-se da boa posição defensiva construída na linha Gustav para repelir com força a Operação Shingle, uma tentativa audaciosa de invasão. Os aliados usaram 5 cruzadores, 24 destróieres, 238 lanchas de desembarque, 5 mil veículos terrestres e 40 mil soldados. O primeiro ataque aconteceu em Monte Cassino, no dia 16, e forçou o comandante da linha Gustav, o general Heinrich von Vietinghoff, a pedir reforços. O comandante Albert Kesselring destacou de Roma duas divisões, a 29ª e a 90ª. No dia 22, começaram os desembarques em massa. Três dias depois, três divisões cercavam e atacavam a cabeça-de -praia. Posteriormente, o responsável pela ação, o general John P. Lucas, seria muito criticado por não se movimentar contra Roma mais rapidamente, já que a cidade estava sem duas divisões, levadas para a linha Gustav. Por causa da lentidão, Lucas perdeu o efeito surpresa e expôs-se aos contra-ataques alemães. Ainda assim, graças à superioridade militar, os aliados foram capazes de avançar contra a capital italiana, que foi ocupada em 5 de junho.

(Fonte: http://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem – O último suspiro de Rommel/ Por Tiago Cordeiro – 06/06/2017)

(Fonte: https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia  – SOCIEDADE – CIÊNCIA / BERLIM / POR GRAÇA MAGALHÃES-RUETHER – 01/10/2011)

Powered by Rock Convert
Share.