Amos Oz, escritor e ativista político israelense

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Amos Oz, escritor israelense e co-fundador do movimento pacifista Paz Agora. Desde os anos 1960 tem se dedicado a uma extensa produção literária, que inclui romances, ensaios e críticas.

Como escritor e ativista político, é o intelectual israelense mais renomado de nossos dias. Nascido em Jerusalém, em 4 de maio de 1939, o escritor identifica episódios de fanatismo até em sua biografia.

Quando era criança, as primeiras palavras em inglês que aprendeu foram “British, go home” (“Fora, britânicos”), arremessadas, junto com algumas pedras, contra os ingleses que então ocupavam a Palestina.

Ainda menino, Amós Oz descobriu o que é ser mal visto por seus pares. No longínquo ano de 1946, com Israel sob domínio britânico, ele ousou fazer amizade com um sargento inglês. Em sua maioria apoiadora de grupos rebeldes sionistas, que buscavam banir o Mandato Britânico da Palestina, sua vizinhança enfureceu-se. Para eles, qualquer aproximação com o inimigo constituía um imperdoável ato de traição.

Oz foi soldado nas guerras que Israel travou contra os árabes em 1967 e 1973 e não deseja repetir a experiência.

 

 

 

No livro ‘Judas’, Amós Oz subverte a imagem do personagem bíblico

Romancista israelense provoca cristãos e propõe o debate sobre a escassez de líderes dispostos a decisões polêmicas

 

Quase seis décadas se passaram. Aos 75 anos, Oz é hoje o mais famoso escritor de seu país, candidato recorrente ao Nobel de Literatura. E a pecha de vira-casaca continua o acompanhando, principalmente quando o assunto é o conflito israelo-palestino. Por defender soluções menos belicistas para o embate, como a criação de dois estados (Israel e Palestina), ele é visto por muitos de seus conterrâneos como um inconfidente da causa israelense. Não por acaso, o tema da traição está no centro de seu novo romance, “Judas” (Companhia das Letras). Lançado simultaneamente em Israel e no Brasil no início do mês, o livro traz uma ideia diferente da palavra: a de que o traidor pode ser o mais leal e devotado dos indivíduos. Aquele que, em meio ao medo de mudança, é injustiçado por tomar decisões impopulares, mas necessárias.

— Não me interessa o traidor trivial, que vende informações por dinheiro — diz o autor, em entrevista ao GLOBO por telefone, de Israel. — Isso é para romances de espionagem, para o James Bond. O que me entusiasma é um tipo específico de traidor, incompreendido por estar à frente do seu tempo ou por propor grandes mudanças. E que acaba visto como traidor por pessoas que não aceitam as mudanças, mas as temem.

O protagonista do romance é Shmuel Asch, um estudante que, após ser deixado pela namorada no inverno israelense de 1959, decide abandonar sua pesquisa na universidade — um estudo sobre a evolução da figura de Jesus sob a ótica dos judeus. Em busca de um teto e de um emprego, ele aceita o convite para cuidar de um velho inválido em uma casa isolada de Jerusalém, onde também mora a misteriosa Atalia Abravanel, por quem Asch passa a se interessar.

Em meio a discussões filosóficas e revelações históricas (o pai de Atalia, Shaltiel Abravanel, era um militante que foi expulso do movimento sionista por ser contra a transformação de Israel em um país independente) a dupla o inicia nas cicatrizes do passado, repletas de falsos traidores. Muitos deles poderiam ter mudado a violência na região, se tivessem sido mais bem compreendidos.

Paralelamente à trama, Oz desenvolve uma tese polêmica, discutida pelos personagens. O livro subverte a imagem do Judas bíblico: em vez do traidor histórico que vendeu Jesus, ele seria o mais fiel de todos os discípulos do profeta. A ideia pode enfurecer cristãos e judeus, mas o objetivo de Oz é outro. Ao longo dos séculos, a figura de Judas se tornou, nas palavras do autor, uma espécie de “Chernobyl do antissemitismo”, sempre usada para atacar os judeus. Sua reabilitação é uma maneira de desacreditar os antissemitas, que veem em todo judeu um traidor.

— Nesse romance, Judas é o primeiro cristão do mundo, e talvez o último — explica. — Eu sei que a ideia contém uma provocação, mas o livro também provoca muitos leitores israelenses, por apresentar o personagem de Shaltiel Abravanel, que não acredita na criação de um Estado de Israel.

PROFETA NA TERRA DO PROFETA

Ao ser perguntado se um novo “traidor” poderia mudar os rumos de Israel, promovendo as políticas necessárias para a paz, Oz desconversa. O escritor, que costuma ser um crítico feroz do atual governo israelense, diz que prefere falar sobre seu romance. Mesmo assim, deixa algumas pistas.

 

— Precisamos de líderes israelenses, palestinos e árabes com coragem para tomar decisões vistas como “traição” pelo seu próprio povo. Se estes líderes vão aparecer, não tenho como dizer. É difícil ser profeta na terra do profeta. Por aqui há muita competição no negócio das profecias.

 

Até agora, o ano de 2014 foi especialmente sangrento para Israel e Palestina. Os ataques dos dois lados sensibilizaram o mundo. Normalmente uma das vozes mais ativas no conflito, Oz manteve-se em silêncio. Passou boa parte do ano doente e hospitalizado. Como todos os internados no período dos bombardeios, sua situação era delicada: as sirenes de alarme tocavam poucos minutos antes da chegada dos mísseis, tornando a remoção dos pacientes tarefa impossível. Perguntando sobre medo, Oz é categórico:

 

— Não tive medo de míssil. Meu único medo é o derramamento de sangue, o sofrimento e a crueldade que ambos os lados aplicaram um no outro.

 

(Fonte: Veja, 2 de junho de 2004 – ANO 37 – N° 22 – Edição 1856 – Livros/ Por Moacyr Scliar – Pág: 139)

(Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura/livros – CULTURA – LIVROS/ POR BOLÍVAR TORRES – 16/11/2014)

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